15.6.10

Inflação ainda reflecte o desemprego e os efeitos da crise em Portugal

Por João Ramos de Almeida, in Jornal Público

A fraqueza da procura continua a influenciar os preços. Sem os combustíveis, a inflação seria ainda negativa em Maio


A inflação está a subir, mas continua afectada pela crise. Em Maio passado, o índice de preços no consumidor (IPC) registou uma subida de 1,1 por cento face ao seu valor homólogo de 2009, mas a tendência de fundo da inflação é ainda negativa.

Com a subida do desemprego e a quebra do poder de compra dos portugueses, a procura tem-se mantido deprimida, acabando por se reflectir no nível geral de preços. De acordo com a nota do Instituto Nacional de Estatística ontem divulgada, a inflação subjacente - IPC sem os produtos energéticos e os bens alimentares não transformados, como forma de expurgar os produtos de preços mais instáveis - foi de menos 0,1 por cento face aos valores de Maio de 2009.

A inflação subjacente tem-se mantido negativa desde Setembro de 2009, apesar da trajectória de recuperação dos preços desde Janeiro passado. Caso se contasse com os combustíveis, a inflação teria subido significativamente, reflectindo o aumento dos preços verificados face ao mesmo período de 2009, quando se verificou uma descida no mercado. Os combustíveis líquidos para transporte pessoal subiram 15,9 por cento face a Maio de 2009. Mas, no seu conjunto os combustíveis líquidos subiram 29 por cento.

Face a Abril passado, os preços cresceram apenas 0,2 por cento, ou seja, menos do que variação mensal de Abril passado (0,4 por cento) e Março (1,1 por cento). Mas essa descida corresponde à evolução nessa parte do ano. Aliás, em 2009, a variação mensal foi mais negativa, o que confirma um cenário de alguma recuperação dos preços.

Mas a subida dos preços não tem sido geral para o conjunto dos produtos do cabaz de compras analisado pelo INE. A puxar a inflação para baixo estão os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (menos 1,8 por cento em Maio passado face ao mesmo mês de 2009), o vestuário e calçado (menos 1,5 por cento), saúde (menos 1,5 por cento), as despesas com comunicações (menos 2,6 por cento) e com o lazer, recreação e cultura (menos 0,6 por cento).

Tudo os outros tipos de despesa de consumo registaram variações homólogas positivas, a nota do INE assinala sobretudo o contributo das despesas com transportes (mais 5,4 por cento), as despesas com habitação, água, gás, electricidade e despesas de manutenção da casa (mais 4,4 por cento) e as despesas com educação (mais 2,9 por cento), sobretudo puxadas pelos preços do ensino pré-primário e primário (4,8 por cento) e secundário e complementar (2,9 por cento).

Taxa média também sobe

Uma das maiores subidas nestas classes ocorreu com o gás. O seu preço aumentou 10,6 por cento face ao mesmo mês de 2009. O preço da água subiu 2,6 por cento e da electricidade mais 2,7 por cento.

No sector dos transportes, os maiores aumentos verificaram-se nos combustíveis e lubrificantes para transporte pessoal (mais 15,9 por cento) e nos equipamentos para transporte pessoal (mais 11,6 por cento). Os transportes públicos subiram 1 por cento, mas sobretudo influenciados pela evolução das tarifas dos transportes aéreos (4,2 por cento).

Face a essa evolução positiva, a taxa média de inflação - que mede os últimos 12 meses sobre os 12 meses do período homólogo - acompanhou essa tendência de subida. Em Maio passado, foi de menos 0,5 por cento, o que representa uma ligeira recuperação depois de se ter mantido no seu ponto mais baixo durante cinco meses (menos 0,8 por cento de Novembro de 2009 a Março de 2010).