Sandra Alves, in Jornal de Notícias
Pessoas que cuidam de quem sofre - como profissionais de saúde e familiares de doentes crónicos, idosos ou crianças com deficiência - devem ter tempo para si. "Não é egoísta" e o apoio prestado vai ter benefícios, defende o fundador do projecto "Cuidar dos Cuidadores".
O psiquiatra Luiz Carlos Osório lançou as bases do projecto em 1990, no Brasil, junto de profissionais de saúde que trabalhavam com doentes terminais, "para ajudar quem cuida a diminuir a sobrecarga emocional desse cuidado".
Fundador da Associação Humanidades, com sede em Lisboa, trouxe a iniciativa para Portugal em Fevereiro de 2008, da qual será feito um primeiro balanço num workshop a realizar no fim deste mês.
Numa curta passagem de dois dias pela capital, o psiquiatra brasileiro explicou ao JN que os "cuidadores" não são só os profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) mas também familiares de doentes crónicos, idosos ou crianças com deficiência. "Às vezes é o único a cuidar. Por exemplo, se o cônjuge tem Alzheimer. É-se enfermeira 24 horas por dia, todos os dias", salienta. "É um cuidado continuado. A pessoa acaba por não viver e pode adoecer", alerta.
Aqui, o apoio da rede social pode dar uma ajuda. Mas segundo a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, apenas existem 17 equipas especializadas a nível nacional, quando se estima em cerca de 200 mil as pessoas a necessitar de assistência.
No caso dos cuidadores profissionais, "a sobrecarga manifesta-se nas relações entre colegas" e depois na qualidade do cuidado prestado pela equipa. E o primeiro sinal pode ser "apenas mal-estar” devido ao desgaste emocional de trabalhar com "doentes que exigem cuidados especiais".
Por isso é tão importante "ter tempo para si". E essa pausa "não é egoísta, vai acabar por ter benefícios para quem recebe os cuidados", defende Luiz Carlos Osório. "É preciso cuidar de si para poder cuidar bem", frisa o psiquiatra, que já está a alargar os "alvos" do projecto e a trabalhar com professores no Brasil.