Por Ana Rita Faria, in Jornal Público
O impacto das medidas de austeridade postas em marcha este ano está a ter efeitos na economia e nas famílias portuguesas. De acordo com os indicadores de conjuntura, ontem divulgados pelo Banco de Portugal, a actividade económica estabilizou no mês passado, enquanto o consumo privado voltou a desacelerar.
Em Setembro, o indicador coincidente mensal, que mede a actividade económica, cresceu 1,4 por cento em termos homólogos pelo quarto mês consecutivo. Isto indica uma estabilização do ritmo de crescimento que, ainda assim, é o mais alto em mais de um ano.
Quanto ao consumo privado, são já mais visíveis os efeitos das medidas de austeridade anunciadas em Maio, chamadas de Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) II e que incluíam um aumento do IVA em um ponto percentual e uma redução das despesas.
Segundo o Banco de Portugal, o indicador coincidente do consumo privado voltou a abrandar em Setembro pelo quinto mês consecutivo, registando um aumento homólogo de 1,1 por cento. Esta variação é mesmo a mais baixa desde Outubro de 2009, mês em que o consumo privado cresceu 0,7 por cento.
Os dados mostram que este indicador tem vindo a cair desde Maio, sendo que, nos últimos dois meses (Agosto e Setembro), a desaceleração foi mais intensa, com a taxa de crescimento a diminuir em 0,5 pontos percentuais.
O indicador de confiança dos consumidores manteve-se também em valores negativos (menos 38 pontos), o mesmo nível registado em Agosto. Já o indicador de sentimento económico foi em sentido contrário, aumentando de 90,8 pontos para 92,7.
A desaceleração da economia e, nomeadamente, do consumo tem sido prevista por vários economistas, na sequência do anúncio do PEC II em Maio. O efeito dessas medidas de austeridade deverá, aliás, sentir-se mais na segunda metade do ano, uma vez que muitas famílias anteciparam o consumo de bens duradouros até Julho, quando entrou em vigor o aumento de um ponto percentual no IVA. Com o desemprego a manter-se em alta e a perspectiva de novas medidas de austeridade para 2011, será difícil o cenário melhorar até ao final do ano.