24.10.10

Programa de intercâmbio estudantil já envolveu mais de dois mil portugueses

Gina Pereira, in Jornal Público

De Portugal partiram 44 jovens para 13 destinos e de 25 países de todo o Mundo chegaram 66 estrangeiros, para um ano de intercâmbio estudantil entre nós. Mudam de país e de família à procura de uma experiência que certamente os marcará para a vida.

Sentados à volta de uma mesa, num último andar de um prédio pombalino da Baixa de Lisboa, janela aberta de par em par para o Castelo de São Jorge, estão dois jovens americanos, um argentino, uma colombiana, uma chinesa e um português. Por enquanto, ainda comunicam em Inglês (os que sabem), mas dentro de poucos meses asseguram-nos que já estarão todos a conversar sem pudor em Português, fruto da sua integração na escola e nas famílias que os vão acolher em suas casas.

Ágúst, Jessica, Francisco, Camila e Ying têm entre 16 e 18 anos e são apenas cinco dos 66 jovens de 25 nacionalidades e origens tão distantes como a Nova Zelândia, China e Tailândia que escolheram Portugal para viver e estudar nos próximos 10 meses. Integram o programa da Intercultura-AFS, uma associação internacional com quase 100 anos, presente em 54 países e em Portugal desde 1956, que promove o intercâmbio de jovens, integrando-os em famílias que os recebem gratuitamente em sua casa. Desde 1956, mais de dois mil portugueses já participaram neste programa.

Miguel Cansado Lopes, 18 anos, esteve no ano passado numa pequena cidade do Oregon, nos EUA, em casa de um casal de 65 anos que há anos acolhe jovens "AFS'ers". "Fui o 12.º aluno que eles acolheram. Foi brutal", diz, insistindo que foi a "melhor experiência" da sua vida. "É tudo novo, as pessoas são novas, há tanta coisa para aprender. É uma experiência arrebatadora", diz, confessando não ter tido saudades de casa.

Para Miguel, não há dúvidas de que este programa "promove a paz. As pessoas aprendem outra cultura em vez de estranharem e rejeitarem o que não conhecem, ficam mais abertas ao Mundo e isso é muito bom". Além de fazerem amigos e de ganhar fluência numa língua estrangeira, apesar do "senão" de às vezes não terem equivalências nos estudos.

A língua foi, para Francisco Azevedo e Silva, 18 anos, o maior ganho da sua estadia em Jicín, uma cidade a 90 km de Praga, na República Checa. "Ganhei uma língua nova, ainda que ninguém a fale", diz, a brincar. Incentivado pela experiência da mãe, que há 30 anos foi estudante AFS nos EUA, Francisco cedo decidiu que queria fazer o programa. E o mesmo fez agora a irmã mais nova, Rita, que partiu para um ano na Sicília, sedenta de descobrir a riqueza cultural de Itália.

A mãe admite que custa vê-los partir, mas ameniza as saudades com o facto de saber que estão "a aprender a lidar com todo o tipo de situações e a ficar mais bem preparados para a vida". "Digo--lhes para não perderem tempo com saudades, porque há tudo para viver e para aprender. Eles vão voltar e nós estaremos cá", diz, segura, Paula Lauer.

O programa AFS destina-se a alunos do Secundário, que tenham entre 15 e 18 anos, bom desempenho escolar e motivação para aprender com experiências diferentes. Após a inscrição, há um processo de selecção e preparação que inclui campos de orientação. O custo varia entre 6150 euros para a Europa e 8585 euros para os EUA (inclui viagens, seguro médico, despesas escolares e actividades). Neste momento, a AFS ainda procura famílias portuguesas dispostas a acolher estudantes em sua casa.