Cristina Oliveira da Silva, in Económica
Especialistas temem que as medidas, que afectam 1,4 milhões de famílias, aumentem o risco de pobreza.
Cerca de 1,4 milhões de beneficiários já vão sentir os cortes no abono de família em Novembro. As alterações, que geram uma poupança de 250 milhões de euros, pretendem dar uma ajuda à contenção das contas públicas mas também podem contribuir para o aumento da exposição das crianças à pobreza, alertam os especialistas.
"O efeito combinado das medidas anunciadas é podermos chegar, em quatro ou cinco anos, a uma situação que pareceria impossível há uma década: serem as crianças o grupo com maior risco de pobreza em Portugal", diz o ex-ministro Paulo Pedroso. Actualmente, os jovens já estão expostos a situações de pobreza, mas continuam aquém dos valores apresentados pelo grupo dos maiores de 75 anos, refere, utilizando dados do Eurostat.
Já os dados mais recentes do INE revelam que os jovens têm vindo a assumir um risco de pobreza cada vez maior (22,9%) ultrapassando já os maiores de 65 anos. Por outro lado, o risco de pobreza em famílias com crianças é de 20,6%, um valor acima da média. Mas pode chegar a 42,8% quando estão em causa dois adultos com três ou mais crianças.
A situação pode agravar-se, diz Pedroso. Em causa estão, nomeadamente, duas medidas ontem publicadas em Diário da República e que produzem efeitos em Novembro: o fim da majoração de 25% paga ao primeiro e segundo escalões do abono - que atinge cerca de um milhão de beneficiários - e a eliminação dos quarto e quinto escalões do abono, onde estão outros 383 mil beneficiários (ver perguntas e respostas).