in Notícias Lusófonas
O padre Vítor Melícias e o embaixador português junto da UNESCO, Eduardo Ferro Rodrigues, estão entre os oradores de um colóquio sobre o combate à pobreza na comunidade portuguesa em França, a realizar no sábado, em Paris.
Como ponto de partida do colóquio está a constatação de que, “embora a maioria dos portugueses residentes em França tenha alcançado um certo desafogo económico, um número crescente de compatriotas enfrenta hoje condições de pobreza e exclusão social”, afirmou o sociólogo Aníbal de Almeida.
“Muitos de nós fomos já confrontados com este tipo de situações, sendo complicado dar uma ajuda eficaz a nível individual”, acrescentou o sociólogo e provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris, instituição que organiza o evento.
Vários especialistas em assistência social estarão no colóquio com Eduardo Ferro Rodrigues, actual embaixador português junto da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), e com Vítor Melícias, que representa a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, da qual foi provedor durante vários anos.
O colóquio foi antecedido, na quarta-feira, por um seminário de formação para funcionários portugueses e franceses que lidam directamente com problemas sociais, realizado no consulado geral de Portugal em Paris.
O projecto da SCMP, explicou Aníbal de Almeida, “está vocacionado para diagnosticar e responder às carências dos reformados de origem portuguesa mais vulneráveis e dos novos emigrantes, mas também dos membros da segunda e terceira gerações”.
Aníbal de Almeida, que trabalha há 40 anos com os emigrantes em França, encontra “uma contradição entre os dados estatísticos e a imagem da emigração portuguesa, repetida pelas autoridades, de uma comunidade trabalhadora, com grande capacidade de poupança, bem integrada e que não recorre muito aos serviços de assistência, ou seja, que tem poucos problemas”.
Os dados disponíveis da Caixa Nacional Francesa de Seguro de Velhice, explicou o sociólogo, mostram, pelo contrário, que “35 por cento dos emigrantes portugueses reformados residentes em França recebem menos de nove mil euros por ano, o que está abaixo do limiar da pobreza neste país”.
“O salário médio para base de cálculo das reformas será baixo e mesmo muito baixo, em certos casos”, sublinhou. Uma amostra representativa da comunidade emigrante revela que o salário médio de um homem era de 13 mil euros por ano e o de uma mulher de nove mil, “mas de apenas quatro mil euros/ano para os serviços domésticos”.
O provedor da SCMP acrescenta aliás que “sente-se uma grande preocupação da comunidade portuguesa no actual debate sobre a ‘reforma das reformas’”.
A situação específica dos emigrantes portugueses, salientou, insere-se num quadro de deterioração geral dos rendimentos num país em que “as reformas perderam 35 por cento do poder de compra nos últimos 20 anos”.
O colóquio “Combater a Pobreza e a Exclusão” está inserido nas primeiras Jornadas Sociais da Comunidade Portuguesa, no âmbito de um projecto da SCMP para o Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social, com a colaboração da Embaixada e do Consulado-geral de Portugal em Paris e do Consulado de Lyon e ainda da Coordenação das Colectividades Portuguesas de França (CCPF).