Por Paula Torres de Carvalho, in Jornal Público
ONG Transparência Internacional fala de leis "herméticas", um aparelho judicial que "não funciona" e resultados "nulos" no combate à corrupção
Portugal ocupa o 32.º lugar de uma lista de 178 países analisados quanto à percepção da corrupção pela organização não governamental Transparência Internacional (TI), surgindo agora no ranking como um país moderadamente corrupto. É uma recuperação ligeira em relação ao ano passado, em que surgia em 35.º lugar, o pior desde 2000. Mas, apesar desta pequena subida, Portugal mantém-se num dos piores lugares entre os países da Europa Ocidental, tendo vindo a descer continuamente no ranking ao longo da última década.
O índice de percepção da corrupção "reflecte a medida da sensação que predomina entre a opinião pública e entre experts de determinado país acerca da dimensão/nível de proliferação do fenómeno", explica, em declarações ao PÚBLICO, Euclides Dâmaso, director do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Coimbra.
Em primeiro lugar na lista da TI estão a Dinamarca, a Nova Zelândia e Singapura e, em último, como o país mais corrupto, a Somália. Os EUA perderam este ano a sua posição histórica entre os países considerados menos corruptos, devido aos escândalos financeiros dos dois últimos anos.
A "pequena subida" registada por Portugal "não deve ser motivo de conforto", diz Euclides Dâmaso, já que o país "continua na cauda do núcleo dos estados europeus com quem é justo e adequado que nos comparemos".
Para o presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d"Oliveira Martins, "o que consta do relatório obriga à nossa maior atenção", destacando a necessidade de "pôr em prática os Planos de Prevenção de Riscos de Corrupção, designadamente no seu acompanhamento e avaliação".
Euclides Dâmaso considera que a percepção negativa deriva "da acuidade que o tema vem ganhando entre nós, da intuição popular de que a situação de crise em que actualmente nos achamos atolados fica a dever-se à falta de controlo sobre as gritantes e frequentes derrapagens dos custos de obras públicas". Explica-se também pela "falta de controlo sobre o desperdício de subsídios e financiamentos comunitários", pela "persistente sangria das empresas públicas através de toda a sorte de actos de nepotismo e compadrio" e pelo "comprometimento do erário público com obras de duvidoso interesse". Em suma, diz Dâmaso, "está instalada na opinião pública e na intelligentsia nacionais a ideia de que a corrupção é a alma e o nervo da 3.ª República, um imposto oculto que pesa sobre os portugueses".
Paulo Morais, da representação portuguesa da TI, aponta as leis "herméticas", um aparelho judicial que "não funciona" e resultados "nulos" no combate à corrupção como as principais causas da baixa posição de Portugal no ranking.