Glória Lopes, in Jornal de Notícias
Esta é certamente a turma mais multilingue que existe em Bragança. O grupo é constituído por alunos que vieram de várias partes do mundo, de várias raças e credos e estão dispostos a passar algumas horas a aprender a língua de Camões que muitas vezes lhes dá voltas à cabeça de tão difícil que é.
Os estudantes que todas as noites se sentam nas cadeiras da Escola Secundária Abade Baçal, em Bragança, sem querer, fazem a turma mais original e diversificada do estabelecimento de ensino, com idades que variam dos 18 aos 50, com habilitações, formações e profissões diversas. Tanto lá estudam estudantes Erasmus que frequentam o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) como empregados de restaurantes ou operários da construção civil. A maior diferença reside mesmo nas 16 línguas, que muitas vezes resultam numa algaraviada indecifrável. Porém move-os um objectivo comum, aprender a falar e a escrever português para se integrarem melhor e sobretudo para trabalharem melhor. A palavra de ordem é o multiculturalismo.
A turma está inserida num projecto que a escola desenvolve há dois anos para o ensino da língua portuguesa a cidadãos estrangeiros. São duas as docentes que ensinam Português à turma de 49 alunos de países tão diferentes como a China, Cazaquistão, Costa Rica, Roménia e Bósnia, entre outros. Apesar de irem muitas vezes directamente do trabalho para as aulas, os estudantes são por norma assíduos, as lições funcionam todos os dias da semana, mesmo ao domingo. A turma é já considerada um bom exemplo de integração e multiculturalismo, pela directora da Abade Baçal, Teresa Sá Pires.
"O grupo em si é sui generis, e alguns alunos são casais e trazem os filhos porque não têm onde deixá-los. As aulas funcionam essencialmente à noite", explicou a responsável. Muitas vezes as professoras acabam por ajudar as crianças a fazer os trabalhos de casa, alguns já frequentam o 1º Ciclo.
O objectivo do curso é ensinar a ler e a escrever em Português. "Damos os conhecimentos básicos, alguns até têm habilitações académicas nos seus países e depois conseguem equivalências", referiu Teresa Sá Pires. Há imigrantes que decidem radicar-se na cidade e ingressam na formação das Novas Oportunidades. Fátima Castanheira, docente, está satisfeita com os resultados. "Sempre trabalhei na alfabetização de adultos, mas muitas vezes nestes casos são necessárias outras competências e o conhecimento de outras línguas porque há ocasiões em que temos de recorrer a elas para conseguir comunicar", explicou.
As docentes recorrem a outros métodos de ensino mais distantes dos tradicionais, como o vídeo, áudio e a fotografia. O processo de aprendizagem é mais lento, mas com persistência vão conseguindo. São os alunos chineses os que revelam mais dificuldades, mas é unânime que a gramática é o mais difícil.
Elsama Maciel Jesus, natural de Vitória, Espírito Santo (Brasil), também lá está a estudar para obter um certificado e assim conseguir arranjar emprego. "Eu quero melhorar de vida, o meu sonho é ter um curso de cozinha e pastelaria", explicou.