in Jornal de Notícias
O presidente da República considera que Portugal está a viver uma "situação particularmente complexa e mesmo grave", mas defendeu que uma crise política neste momento "seria extremamente grave".
Em entrevista ao Expresso, Cavaco Silva admite o cenário de uma crise política, mas não deixa de sublinhar que existe um"Governo que tem a confiança da Assembleia da República".
O presidente, que abriu as portas do Palácio de Belém ao semanário durante 15 dias, recorda também que chamou os partidos depois da afirmação do Governo que não teria condições para governar sem a aprovação do Orçamento de Estado.
"Não podia ignorar essa afirmação", contou o presidente que, nos encontros políticos, forneceu às forças políticas "toda a informação relativa às consequências de uma crise em consequência do orçamento".
Sem podem afastar o cenário de crise, Cavaco Silva salienta que se abre agora um cenário de negociação "normal" quando um Governo não tem o apoio da maioria do parlamento.
"Agora, também se espera dos partidos da oposição uma cultura de responsabilidade. Eu disse-lhes que seria extremamente grave para o país enfrentar uma crise política neste momento, na medida em que essa crise não pode ter solução antes de uma deterioração muito acentuada da situação económica e social, dado que o PR não pode convocar eleições antes de 09 de Março" de 2011, afirmou.
O chefe de Estado garantiu, pelas respostas que obteve dos partidos durante reuniões mantidas com todos, que hoje em Portugal "não há disponibilidade" para um Governo de coligação, mas sublinha que isso é uma matéria que depende dos partidos e recordou que há muito vinha alertando para os problemas que se estavam a criar pelo desequilíbrio das contas externas.
"Em Outubro de 2007 disse que, face à manutenção a nível elevado do desequilíbrio das contas externas, a economia portuguesa caminhava para uma situação em que seriam fortíssimos os constrangimentos vindos do exterior", disse ao recordar que na tomada de posse do Governo voltou a abordar a questão do endividamento.
Para Cavaco Silva "é uma ilusão pensar que o gravíssimo problema que temos no desemprego e no endividamento externo possam ser resolvidos sem uma reorientação da produção nacional para os bens que concorrem com a produção estrangeira" e defende ser preciso fazer opões de futuro.
"É preciso fazer opções, por forma a que o orçamento aprovado seja aquele que permite os melhores resultados possíveis em termos de crescimento da economia e criação de emprego".
Na entrevista, Cavaco Silva recordou ainda que, como presidente, foi o único que não dissolveu o parlamento por ser adepto da "estabilidade" e garantiu que a sua relação com o primeiro ministro José Sócrates "é de absoluta normalidade".