Por Nicolau Ferreira, in Jornal Público
Secretário de Estado do Ambiente vai estar na conferência das Nações Unidas, no Japão, onde se quer um acordo para travar perda de espécies até 2020
A infeliz constatação do Ano Internacional da Biodiversidade é que a meta de 2010 para a redução de perda de vida foi um flop. A degradação dos habitats, o consumo e as alterações climáticas, algumas das causas mais importantes da perda de espécies, não foram controladas. Por isso, a Conferência das Partes (COP) para a Convenção Biológica da Diversidade das Nações Unidas em Nagóia, no Japão, que começou esta segunda-feira e que vai continuar até 29 de Outubro, espera agora que este objectivo se cumpra até 2020. É a perspectiva económica que pode fazer a diferença.
"Sabe-se que se compararmos um pasto com mais espécies com outro de igual tamanho, mas com menos espécies, o primeiro é economicamente mais produtivo", explicou por telefone ao PÚBLICO Humberto Rosa. O secretário de Estado do Ambiente vai segunda-feira juntar-se à comissão portuguesa que já está em Nagóia. Na próxima semana, os 200 países que assinaram a convenção vão decidir se assumem ou não um compromisso para a redução de perda de biodiversidade durante a próxima década.
Uma das questões que dificultavam a meta para este ano era a incapacidade de se medir o que é a perda de espécies. "É necessário haver uma medida de valor económico [que dê um valor a cada aspecto da biodiversidade, como um animal ou um ecossistema] e uma forma de quantificar a biodiversidade", explica o secretário de Estado. Só assim é que poderá haver avaliações parciais sucessivas que verifiquem o sucesso deste esforço de preservar a natureza, explica Rosa.
Neste sentido, há um número importante que veio a público nos últimos tempos. A riqueza anual perdida devido a serviços dados pelos ecossistemas que foram destruídos ronda anualmente entre 1,43 e 3,58 biliões de euros (em 2008, o prejuízo chegou aos 4,75 biliões de euros).
A conta foi feita pela TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity), uma iniciativa lançada em 2007, de entidades alemãs com o suporte do Programa Ambiental das Nações Unidas. O que é revolucionário na TEEB é que se propõe a avaliar caso a caso o valor de um serviço. Como a filtragem de água de um mangal ou a pesca proporcionada por um estuário. Durante a convenção, países como o Brasil ou a Índia planeiam fazer uma avaliação económica nacional dos seus ecossistemas a partir das linhas condutoras da TEEB e tomarem decisões com base nesses relatórios.
"É importante calcular o valor dos ecossistemas, mas muitas associações ambientalistas acham que isto não vai ser a solução da perda da biodiversidade", disse Paula Silva, da Quercus, que acrescentou que a associação ainda não tomou uma posição sobre este tema.
Segundo a ambientalista, existem muitos produtos que consumimos na Europa, produzidos em locais do mundo sem legislação que impeça desastres ecológicos. "Há quem diga que é o sistema económico que tem que mudar, que não podemos consumir tanto", explicou.
Na conferência, os países em desenvolvimento querem mais fundos para protegerem a biodiversidade [ver caixa]. Hoje, recebem 2,15 mil milhões de euros por ano, mas pedem cem vezes mais para se lançarem na meta de 2020. Uma migalha em relação ao que a natureza oferece.