Lucília Tiago, in Jornal Notícias
O leilão de certos imóveis provocou algum "despique"
O número de casas para venda ronda actualmente as 300 mil, mas é a procura de imóveis para arrendar que mais tem crescido. Para procurar responder à tendência, o Salão Imobiliário de Portugal incluiu pela 1.ª vez casas para arrendar nos leilões. Há 35 disponíveis.
Em média, uma em cada cinco pessoas que procura casa opta pelo arrendamento. Mas, como sublinhou ao JN o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), Luís Lima, trata-se de uma opção que na maior parte dos casos é forçada, ou seja, surge como alternativa "depois do banco ter recusado o crédito para a compra". A situação tem feito subir a procura de casas arrendadas, mas a oferta não tem acompanhado a tendência.
Contas feitas, nem sempre os 20% de clientes que se viram para o arrendamento conseguem encontrar uma casa porque a oferta continua reduzida. Dos 300 mil imóveis para venda (dos quais cerca de 120 mil são novos), a percentagem disponível para arrendar não atinge os dois dígitos.
Também os dados do Confidencial Imobiliário apontam para uma subida da ordem dos 50% na procura por casas para arrendar em 2009, mas, tal como Luís Lima, também António Gil Machado, administrador do CI, precisa que o maior interesse em arrendar é sobretudo motivado pela maior dificuldade dos particulares em conseguir um empréstimo, e também por haver mais receio em assumir um encargo tão pesado e prolongado como é um crédito à habitação.
Do lado da oferta, o arrendamento ainda é considerado como "o menor dos males". "A maior parte das pessoas não arrenda a casa como primeira opção, fá-lo porque não a consegue vender", referiu aquele responsável.
A atitude dos proprietários - motivada pelo elevado risco de incumprimento e por as rendas serem taxadas em sede de IRS como rendimento de trabalho - faz com que a oferta esteja totalmente desajustada da procura e acaba por inflacionar o preço das rendas. Lisboa e Porto são as zonas onde a procura e a oferta de arrendamento é mais relevante, sendo os apartamentos mais pequenos (de tipologia T1 e T2 e estúdios) os mais requisitados.
No mercado de compra e venda, a tendência é a oposta à do arrendamento, ou seja, de quebra. O presidente da APEMIP estima que a diminuição nas transacções é na ordem dos 10% face a 2009, e o promotor imobiliário José Eduardo Macedo assinala que muitas casas acabam por só estar à venda "na cabeça dos proprietários" que insistem em pedir preços demasiado elevados face ao que se passa no mercado.
Primeiro leilão para arrendamentos com dificuldade em obter licitações
A novidade de incluir pela primeira vez casas para arrendar nos habituais leilões de imóveis realizados no Salão Imobiliário de Lisboa, começou por passar ao lado do interesse dos licitadores. No lote das primeiras duas dezenas de casas leiloadas foram incluídas duas para arrendamento e em ambos os casos o leiloeiro bateu o martelo sem que tivesse havido uma única oferta. Em causa estavam um T2 no Bombarral, cuja renda base para licitação foi fixada nos 280 euros, e um T2 em Lisboa com "valor de saída" de 750 euros.
Entre o leilão de ontem e os dois que estão previstos para hoje e amanhã serão colocadas 195 casas, destinando-se 40 para arrendamento - a maior parte das quais nos arredores de Lisboa. A indiferença mostrada em relação à duas primeiras casas para arrendamento não se observou quando o fim era a venda. Certos imóveis provocaram mesmo algum "despique" nas licitações que subiam de mil em mil euros. Frequentador destes leilões há cerca de um ano, Joaquim Lopes fez ontem a sua primeira compra. Arrematou por 101 mil euros um apartamento de três assoalhadas situado nos Olivais que foi à praça por 69 mil euros. Este era o único imóvel entre os 53 ontem disponíveis do interesse de Joaquim Lopes, mas precisou de várias licitações para conseguir arrematá-lo. "Vim cá com o objectivo de comprar estas casa e tinha definido como limite oferecer até aos 105 mil euros", disse ao JN. Os leilões de ontem e de hoje são promovidos pela Euro Estates, enquanto a Luso-Roux tem 70 casas para leiloar amanhã. E a expectativa é que o desinteresse que rodeou os dois primeiros imóveis para arrendamento se inverta.