5.1.12

Portugueses valorizam mais combate à pobreza e à fome

Celso Filipe, in Jornal de Negócios

Quatro em cada dez cidadãos é da opinião que as empresas têm políticas de responsabilidade social "apenas para se ajudarem a si próprias" CELSO FILIPE cfilipe@negocios.pt O combate à pobreza e à fome é considerado pelos portugueses como a causa mais relevante que as empresas devem apoiar no âmbito das suas políticas de responsabilidade social. Esta é a opinião de 37% dos participantes no estudo "goodmatch", elaborado em conjunto pela Ipsos Apeme e a GCI, a cujas conclusões o Negócios teve acesso. Esta prioridade marca o contraste com a opinião dominante a nível global. Nesta escala a protecção do ambiente surge em primeiro lugar, de acordo com um inquérito realizado em 2010 pela Edelman, enquanto o combate à pobreza ocupa apenas a oitava posição. Segundo Pedro Pires "intelligence director" da GCI, este foco dos portugueses pode até nem ser um sinal dos tempos que se vivem em Portugal, marcados pela austeridade. "Parece que é mais uma característica estrutural nossa que nos faz divergir da tendência média global da protecção do ambiente, do que propriamente um resultado da conjuntura", afirma As empresas nacionais, contudo, não se devem deixar aprisionar por esta preocupação, na hora de definirem as suas estratégias em termos de responsabilidade social. "Apesar de a luta contra a pobreza, fome e integração ser a causa mais relevada pelos portugueses, isso não deve implicar um encaminhamento global das empresas para este território. A mensagem 'goodmatch' é exactamente a oposta". Por exemplo, "os consumidores entendem que o principal território de actuação do sector das energias deve ser a protecção do ambiente", refere Pedro Pires. O inquérito revela ainda que quatro em cada 10 cidadãos é da opinião que a empresas adoptam políticas de responsabilidade "apenas para se ajudarem a si próprias". Uma conclusão que, segundo Pedro Pires, não coloca em causa a reputação das empresas. "Cada vez mais os consumidores percebem que existe um interesse próprio nas políticas de responsabilidade social. O que é interessante é que o consumidor também não vê mal nenhum nisso. O interesse próprio não retira credibilidade desde que decorra de um interesse mútuo", sublinha o responsável. "O interesse próprio" não tira credibilidade às empresas - Uma das conclusões do estudo é a de que as empresas precisam de explicar melhor as sua políticas de responsabilidade social. Isto implica o quê? Mais investimento, diferentes formas de Comunicação? - A principal conclusão é a de que existe algum desajustamento nas expectativas dos consumidores relativamente às causas que as empresas apoiam. Isto quer dizer que, sobretudo as empresas, têm de decidir melhor, no momento de opção, o que tem a ver com Responsabilidade Social Empresarial (RSE): a escolha das áreas de intervenção social (as causas). Essa decisão deve, naturalmente, ter em conta as recomendações dos consumidores e também de outros "stakeholders". O projecto "goodmatch" pretende ser esse instrumento de apoio à decisão, definindo como principal variável o alinhamento entre a empresa e a causa. Assim, falamos não de aumentar o seu investimento, mas de rentabilizá-lo, na medida em que, quanto mais corresponder às expectatívas de consumidores e "stakeholders", mais eficiente será. - A que é que atribui o facto de 40% dos inquiridos considerarem que as empresas só fazem responsabilidade social para ter lucros? Não se deve isto também ao facto do próprio conceito estar contaminado? - Uma maior relação entre a política de RSE de uma empresa com o seu "core business" permite-lhe duas coisas: Impactar os activos da empresa e contribuir para suprir/reduzir uma necessidade social de forma mais eficiente. Cada vez mais os consumidores percebem que existe um interesse próprio nas políticas de RSE. O que é interessante é que o consumidor também não vê mal nenhum nisso. O interesse próprio não retira credibilidade desde que decorra de um interesse mútuo. Esta necessidade de um maior alinhamento implica naturalmente que não se olhe para o conceito de RSE na óptica de "campanha" mas sim de "projecto". Sabemos que existe um caminho a percorrer pelo nosso tecido empresarial, que ainda assenta a RSE numa lógica de "campanha" e não de "projecto". Naturalmente, o enfoque em "campanha" tem contaminado o conceito de RSE quase tornando-o um eixo de comunicação.