13.9.07

Combater o desemprego e o mau emprego

Dora Loureiro, in Diário das Beiras

À tendência para o aumento do desemprego acresce a elevada percentagem de trabalhadores com rendimento inferior a 500 euros por mês, realça um estudo realizado pelo CES.

Avaliar a relação entre desemprego, pobreza e exclusão social no distrito do Coimbra e debater propostas para um plano de desenvolvimento estratégico foi o objectivo do seminário organizado pelo Núcleo de Coimbra da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal (REAPN).

No encontro, realizado ontem em Coimbra, no auditório do CEARTE, foram apresentados alguns dados do estudo “O impacto do (des)emprego na pobreza e exclusão social no distrito de Coimbra”, desenvolvido pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Faculdade de Economia de Coimbra.

“É muito difícil relacionar o desemprego e a pobreza”, reconheceu Pedro Hespanha, coordenador científico do estudo, sobretudo porque existem poucos dados.
Ainda assim, o estudo, que analisou o período 2000-2005 no distrito de Coimbra, concluiu que se assiste a um agravamento do desemprego e existem baixas taxas de cobertura e eficácia das políticas sociais e de formação profissional.

Em relação à pobreza relativa - conceito que integra agregados familiares que auferem menos de 60 por cento da mediana do rendimento nacional -, Pedro Hespanha alertou que esta abrange um número considerável de indivíduos.

Embora os dados sejam escassos, calcula-se, pelos rendimentos declarados, que a média do rendimento mensal per capita nacional é de 728 euros, número que no distrito de Coimbra é inferior à média nacional, ficando-se pelos 706 euros. Dados que permitem situar em 500 euros o rendimento abaixo do qual se pode enquadrar o conceito de pobreza relativa.

No país, é nas zonas do interior que existe uma maior percentagem de pessoas que recebe menos de 500 euros mensais. Mas no distrito de Coimbra 53 por cento das mulheres ganham menos de 500 euros, número que sobe para 73 por cento no concelho de Tábua, exemplificou o sociólogo.

“Temos políticas sociais, mas a sua execução é má”, disse Pedro Hespanha, afirmando que é importante combater não só o desemprego, mas também o emprego precário e o mau emprego (com baixa remuneração e desqualificante).

O estudo, que procurou identificar melhor o perfil do desempregado no distrito, concluiu que existe “um agravamento levado do desemprego”, nas mulheres mas também nos homens.

O desemprego provocado pelo termo de contrato a prazo tem uma percentagem elevada no distrito de Coimbra, variando entre os 18,8 e 63,4 por cento (média de 35,3 por cento) nos homens e os 6,1 e 52,9 por cento (média de 28 por cento) nas mulheres. E “mais de metade dos desempregados não recebem subsídio de desemprego”, realçou ainda o coordenador do estudo, que foi realizado em colaboração com as redes sociais do distrito.