Economia solidária já deu resposta a mais de mil pessoas em exclusão

Rui Jorge Cabral, in Açoriano Oriental

A potencialidade da economia solidária está este fim-de-semana exposta na VI Feira Transregional de Economia Solidária, no Largo Mártires da Pátria, em Ponta Delgada. Do artesanato à gastronomia, passando pela música, animação de rua e artes do improviso, a feira promete animação.

A economia solidária distribui bens e serviços alternativos; cria emprego e satisfaz necessidades sociais; respeita e valoriza o meio ambiente, a diversidade cultural e promove a boa governação. Tem-se revelado ainda um dos pilares da construção do espaço macaronésio. Também na economia solidária, se fala agora da “nova economia”.
Os dados oficiais revelam que 22 entidades entre IPSS, Misericórdias e Cooperativas de Solidariedade Social, incubaram empresas de inserção com 45 unidades produtivas e de prestação de serviços que, desde 2003, dão resposta a aproximadamente 1200 pessoas. Cerca de 70 por cento dessas pessoas foram ou são beneficiárias do Rendimento Social de Inserção, com contratos de emprego ou programas de formação nas mais diversas áreas ou ainda em regimes de inserção através do trabalho ocupacional a favor da comunidade. Este é o retrato genérico da economia solidária.

No entanto, na VI Feira Transregional de Economia Solidária, que até domingo decorre no Largo Mártires da Pátria, no centro de Ponta Delgada, a frieza dos números irá dar lugar ao calor do convívio e da troca de experiências entre os arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. Da comida ao artesanato, do folclore ao jazz, da animação de rua à pintura ao improviso, de tudo um pouco viverá uma feira que atrai muitas pessoas sobretudo pelo carácter simultaneamente exótico, urbano e actual que transmite.

Ontem ao fim da tarde, decorreu a sessão de abertura da feira. Uma ocasião aproveitada pelo secretário regional dos Assuntos Sociais, Domingos Cunha, para lembrar que “a economia solidária tem-se constituído de forma gradual numa estratégia proactiva de integração de pessoas com grandes dificuldades de empregabilidade, promovendo a aprendizagem de competências pessoais, sociais e profissionais e de criação de emprego, através da produtos e serviços que vão desde a protecção do ambiente até à confecção de produtos alimentares”. No fundo, trata-se de tentar explorar e desenvolver áreas onde o mercado normal não intervém.
Os Açores são neste campo um exemplo para os outros arquipélagos. Na Madeira, estão apenas constituídas seis empresas de economia solidária, que integraram 66 pessoas no mercado de trabalho. “Notamos que os Açores estão mais avançados do que nós na economia solidária, com um espírito mais associativista”, reconhece Cecília Basílio, técnica do Instituto Regional do Emprego da Madeira, para quem, “na Madeira, os projectos de economia solidária ainda estão a dar os seus primeiros passos”.

Na Feira Transregional de Economia Solidária, marca este ano presença pela primeira vez a Associação Arrisca, que se dedica a públicos em exclusão social, como os deportados, os reclusos ou os toxicodependentes. Neste momento, contam com uma equipa de apoio psicossocial, têm um programa de prevenção de recaídas nos toxicodependentes e fazem acolhimento de deportados à sua chegada a Ponta Delgada. Têm também em projecto uma clínica de desintoxicação e uma comunidade terapêutica para jovens dos 12 aos 18 anos, com uma componente de saúde, social e de formação.

Suzete Frias, presidente da direcção da Arrisca, admite que hoje “as empresas estão mais abertas para a integração de pessoas em exclusão social” e dá como exemplo o facto da sua associação já ter conseguido integrar, de Janeiro a Setembro deste ano, perto de 80 pessoas no mercado normal de trabalho. Na Arrisca, o trabalho é sobretudo de reabilitação de competências essenciais ao trabalho, como a assiduidade, o respeito pela autoridade e a disciplina. “A economia solidária pode ser rentável, logo que em interligação com as empresas”, afirma Suzete Frias, para quem toda a gente pode ser reabilitada enquanto pessoa, embora nem todos possam ter uma autonomia total.