Céu Neves,
Bob Geldof, MÚSICO E ACTIVISTA DE DIREITOS HUMANOS
Interpelou os participantes na conferência sobre imigração se estavam numa discussão séria, já que entende que os países desenvolvidos não estão no caminho certo. É tudo uma hipocrisia?
Não é hipocrisia falar de um problema que existe em África e fora dela. Mas o que eu digo é que é interessante ouvir a realidade da situação em vez da lógica emocional que envolve o tratamento migrações, como vemos nos jornais. Ouvir os especialistas locais é muito interessante.
Quer isso dizer que a UE está a passar ao lado do problema?
As migrações são parte do problema da pobreza, que é completamente desnecessária no mundo económico moderno. Mas a emigração de África para a Europa é também consequência da nossa proximidade. Portanto, se isto nos preocupa, precisamos de fomentar o comércio com África para que estes países possam desenvolver-se.
Pôr em prática o provérbio chinês que diz para se dar a cana de pesca em vez do peixe...
Basta ver o que está a acontecer no meu país, a Irlanda, e em Portugal, países de emigração, que agora recebem imigrantes. Em vez da Austrália, América, Canadá ou Nova Zelândia, os países tradicionais de destino de imigrantes agora são a Irlanda, Portugal, Holanda ou a Noruega. E há também o aspecto da tradição. É preciso não esquecer que os mouros e berberes estiveram em Portugal 400 anos. Estes laços tradicionais continuarão sempre. Estas coisas devem ser discutidas, mas tudo isto é sintomático da condição da pobreza e essa devia ser a questão em cima da mesa da cimeira da UE e de África [EUROMED, em Dezembro].
De que forma?
África é o continente mais pobre do mundo. A maior incidência de pobreza existe na África subsariana. Porque investem os chineses tanto em África e nós não? O que nos está a falhar? O que percebem eles que nós não estamos a perceber? Tivemos muitos anos para estabelecer essas relações com o continente que nos é mais próximo e não o fizemos. Precisamos de lidar com esta questão. Há questões de estabilidade, de segurança de fontes de energia... e de riqueza entre os dois continentes. Precisamos de ouvir o que a África tem a dizer.
O que diz não acontecer...
Em Dezembro vai realizar-se uma cimeira UE/África, é um escândalo que não tenha acontecido nos últimos sete anos. Estivemos a falar nas migrações e desenvolvimento e não estiveram aqui peritos africanos. Precisamos de ter resultados concretos, europeus e africanos, não resultados do mundo inteiro. Os países africanos são os nossos vizinhos mais próximos.
A imigração é uma oportunidade ou um direito?
É uma oportunidade e um direito. Sou da Irlanda, provavelmente o país mais pobre da Europa ocidental, e emigrei para o Reino Unido à procura de oportunidades. As pessoas têm direito a essa procura. Sou imigrante, como muitos dos participantes desta conferência que trabalham no estrangeiro. Foram atrás de uma oportunidade.|