Alexandra Lopes, in Jornal de Notícias
A existência de uma elevada incidência de gravidez na adolescência é uma das conclusões do estudo sobre a população pediátrica de etnia cigana, elaborado pelo serviço de Pediatria da unidade famalicense do Centro Hospitalar do Médio Ave.
O estudo, cujos resultados estão publicados no livro "Retrato da população pediátrica em Vila Nova de Famalicão", pretendeu "conhecer melhor as particularidades" desta comunidade e obter um maior número de dados sobre o seu estado de saúde, de modo a haver uma maior habilitação na assistência. Segundo dados alcançados, a idade média das mães de etnia cigana é de 16,6 anos, sendo que 80% tinham engravidado antes dos 18 anos de idade. A idade em que ocorreu a primeira gravidez situa-se entre os 13 e os 30 anos. A maioria dos casos (88,2%) teve uma gravidez vigiada.
O facto dos jovens ciganos constituírem família ainda muito novos é uma questão cultural que poderá explicar a elevada incidência de gravidez na adolescência. Contudo, Gonçalves Oliveira, coordenador do estudo, aponta para algumas mudanças de comportamento. "Há algumas mudanças no que diz respeito ao planeamento familiar. Por exemplo, antigamente, uma mulher cigana não tomava a pílula, mas hoje é vulgar", afirmou. Por outro lado, o pediatra diz debater-se, diariamente, com questões como a tradição que leva as jovens mulheres a deixarem a escola quando ficam menstruadas. "Com o tempo e se soubermos dialogar, as mudanças ocorrem", acrescentou.
O estudo abrangeu 102 crianças/jovens de 51 famílias. Apenas 41,2% tinham Boletim de Saúde Infantil e Juvenil. Das 61 crianças em idade escolar, só 43 frequentam a escola. Dez abandonaram as aulas com idades entre os 11 e os 16 anos.