22.9.09

Só a crise justifica apoios à economia

Lucília Tiago, in Jornal de Notícias

As medidas anticrise devem ser abandonadas assim que a economia começar a recuperar. Ao mesmo tempo, a UE deve preparar-se para a saída da recessão, aprofundando as reformas estruturais, recomenda a OCDE.

Os países europeus e as autoridades monetárias foram rápidas a responder à crise - mitigando desta forma os seus impactos negativos na procura e no desemprego - mas estes planos de apoio devem ser retirados assim que a economia começar a crescer, para que esta recuperação não seja posta em causa. Estas são as recomendações que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) faz num relatório onde analisa os desafios para as economias da União Europeia (UE), ontem divulgado. No documento, a Organização sublinha que, apesar dos esforços, os países europeus continuam fortemente afectados pela crise económia e financeira, que deverá fazer o Produto Interno Bruto cair este ano para valores na ordem dos - 4%.

Neste contexto, a OCDE recomenda aos 27 Estados-membros da UE a acelerar as reformas estruturais, pois estas são essenciais para "assegurar o crescimento económico a longo prazo" numa Europa a braços com a pior recessão dos últimos 50 anos. A aposta na inovação, o aprofundamento do mercado único e a promoção de uma economia com baixo consumo de carbono são as áreas onde as atenções devem centrar-se, defende o estudo.

Só através das reformas estruturais, é referido, será possível travar o desemprego, restabelecer o mercado do trabalho e preparar os Estados para a pressão que decorre do envelhecimento da população. Recordando o passado, a OCDE lembra que muitas reformas com impacto no crescimento foram encetadas em momento de crise económica. A mesma atitude deve, defende, agora ser tomada, mas assegurando que essas reformas se traduzirão "em benefícios no longo prazo" e que não se confundem "com paliativo a curto-prazo".

A OCDE alerta ainda para a necessidade de os países europeus retomarem o caminho da consolidação orçamental, assim que a recuperação económica arrancar, acentuando que a UE chegará a 2010 com um défice público médio superior 7%, quando em 2007 rondava 1%. A "recuperação" das regras do PEC terá aqui um papel essencial.

A UE tem de ser mais ambiciosa e investir mais em inovação, pois, apesar de algumas iniciativas, continua, neste campo, atrás do Japão e dos EUA. E a aposta na inovação é, segundo a OCDE, uma das formas que a Europa tem para reforçar o crescimento económico no período pós-crise.