Isabel Teixeira da Mota, in Jornal de Notícias
Número aumentou mas ainda não chega para responder aos crescentes pedidos
O número de camas para cuidados paliativos na rede pública de saúde aumentou este ano para 153 em todo o país. Um número longe de superar as listas de espera. Especialistas debatem hoje, quarta-feira, em Lisboa, a situação na área.
Na rede pública de cuidados de saúde há 153 camas para cuidados paliativos, mais 82 desde Novembro do ano passado, disse, ao JN, a coordenadora da Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados ( UMCCI - que inclui os paliativos). Um valor ainda aquém dos objectivos de extensão da rede a todo o país. Longe está também o objectivo de dotar os centros de saúde de equipas domiciliárias.
Especialistas na área reúnem-se hoje no Hospital da Luz, em Lisboa, para debater o estado da arte e reflectir sobre os aspectos éticos ligados ao acompanhamento do doente em final de vida, nomeadamente sobre a eutanásia, a sedação paliativa e a chamada futilidade terapêutica.
No sistema público estão em funcionamento 13 equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos e 12 equipas de cuidados continuados integrados (com competência em paliativos) espalhadas pelo país, sendo as regiões do Alentejo, Lisboa e Porto aquelas com maior cobertura.
Segundo a coordenadora da UMCCI, Inês Guerreiro, "existem e estão implementados planos estratégicos de formação de profissionais" na área dos cuidadoa paliativos, muitos deles com estágios realizados na vizinha Espanha (Catalunha).
A presidente da Associção Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), Isabel Galriça Neto, que organizou a conferência de hoje, defende que os hospitais, os centros de saúde e as IPSS acolham estes serviços especializados recorrendo a equipas técnicas capazes. Candidata a deputada à Assembleia da República pelo CDS-PP, Galriça Neto vai bater-se para que estes cuidados sejam uma especialidade médica. Ao JN, porém, o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, declarou que o debate sobre as especialidades médicas não é uma prioridade na agenda: "Estará, talvez, em discussão em 2010, mas não é uma prioridade".
A directora da unidade de cuidados paliativos da Casa de Saúde da Idanha, Irmã Paula Carneiro, sustenta que "a maior dificuldade reside na descoordenação na hora dos hospitais e centros de saúde nos referenciarem os doentes". "Muitos esperam mais ou menos dois meses até chegarem até nós", sublinha, defendendo uma redução do tempo de espera e a preparação de equipas que se desloquem às casas dos doentes.
Este centro convencionado com o SNS disponibiliza oito camas para a rede pública e duas em regime privado. A equipa multidisciplinar permanente é composta por 20 especialistas, incluindo médicos, formados pela APCP.
"Sentimos também uma enorme dificuldade em dar alta ao doente quando ele estabiliza", acrescenta. A falta de locais de acolhimento quando a família não pode receber o doente em casa é outro dos problemas levantados.
A AMETIC - Apoio Móvel Especial à Terceira Idade e Convalescentes disponibiliza, convencionadas com o SNS, sete camas para cuidados paliativos na Casa de Repouso de Santa Bárbara, Lourinhã, e 28 para tratamentos de longa duração. "O maior problema é que estas unidades não devem ser só para doentes terminais, devem ser mais abrangentes", disse ao JN a directora clínica, Isabel Beltrão.