Por Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público
Nos grandes da UE a 27, apenas a Polónia deverá regressar a um crescimento positivo em 2009. Europa mantém uma queda de quatro por cento este ano
A economia europeia está a sair mais depressa da recessão do que o previsto, mas a incerteza que paira sobre a actividade económica, conjugada com a previsão de uma forte deterioração do emprego e das finanças públicas, não permite grande triunfalismo.
De acordo com a Comissão Europeia, que ontem apresentou as suas previsões parciais (limitadas às sete maiores economias dos Vinte e Sete), a economia europeia entrou em terreno positivo no início do segundo semestre deste ano com um crescimento de 0,2 por cento no terceiro trimestre e um prognóstico de 0,1 por cento no quarto.
Estes valores são bem mais positivos que as anteriores previsões de Maio passado, que atiravam o início da retoma para o segundo trimestre de 2010 depois de um ano de 2009 inteiramente negativo e um primeiro trimestre do próximo ano de estagnação. A melhoria das perspectivas deve-se, sobretudo, à reanimação do comércio mundial e à estabilização da situação económica em vários grandes parceiros internacionais, a começar pela China e Estados Unidos.
Apesar desta revisão em alta das previsões - a primeira em mais de dois anos -, Bruxelas mantém a previsão de um recuo do PIB de 4 por cento ao longo deste ano tanto para a zona euro como para a totalidade da União Europeia (UE) devido a resultados de 2008 piores do que o previsto (cujos valores finais só foram conhecidos em Agosto) e à forte quebra do PIB, de 2,5 por cento no primeiro trimestre.
Algum optimismo
"A economia europeia parece estar num ponto de viragem" e "os receios de uma recessão profunda e prolongada estão a esmorecer", considera a Comissão, chegando mesmo Joaquín Almunia, comissário responsável pela Economia e Finanças, a dar conta de "algum optimismo" nas suas previsões desde o início da crise financeira, há um ano.
Apesar disso, Bruxelas insiste na necessidade de encarar as previsões com a maior prudência devido à forte incerteza que as rodeia, frisando que "há razões para crer que a retoma poderá ser volátil e decepcionante".
O risco resulta sobretudo do facto de a melhoria da situação se dever quase exclusivamente à gigantesca injecção de dinheiro na economia, por parte tanto do Banco Central Europeu (BCE), sob a forma de liquidez, como dos governos, através dos planos nacionais anti-recessão.
Segundo os cálculos mais recentes de Bruxelas, estes planos representam 1,4 por cento do PIB europeu este ano e 1,1 por cento no próximo. Se se adicionar o efeito dos estabilizadores automáticos (como prestações sociais para atenuar os efeitos do desemprego), o esforço europeu contra a recessão ascende a 5,5 por cento do PIB nos dois anos.
Além disso, o principal factor de incerteza assenta no impacto da crise sobre o desemprego e as finanças públicas que, segundo a Comissão, "ainda está para vir". Bruxelas não esconde, aliás, que os próximos meses vão ser particularmente difíceis em termos de deterioração do emprego e de contestação social.
Neste contexto, Almunia insistiu fortemente na necessidade de os governos europeus definirem uma estratégia de saída dos esforços de relançamento da economia "clara, credível e coordenada", nomeadamente para permitir um regresso progressivo à disciplina orçamental.
Em paralelo com a melhoria da situação europeia, a Comissão avança previsões mais favoráveis para a Alemanha - que terá uma quebra do PIB de 5,1 por cento contra 5,4 por cento avançados em Março - e para a França, cuja recessão será de 2,1 por cento em vez dos 3 por cento esperados antes do Verão.
Ao invés, a recessão será pior do que o esperado em Espanha (que passa de uma previsão de crescimento negativo de 3,2 para 3,7 por cento), Itália (de 4,4 por cento para 5 por cento), da Holanda (de 3,5 para 4,5 por cento). O Reino Unido, que não é membro da zona euro, passa de um crescimento negativo de 3,8 para 4,3 por cento, e a Polónia passa de uma previsão de recessão de 1,4 por cento para um crescimento positivo de 1 por cento.