16.9.09

Cinquenta mil empresas dissolvidas em 12 meses

Pedro Araújo, in Jornal de Notícias

Mais de 33 mil novas sociedades foram constituídas até Agosto último


A falência atingiu 50 583 empresas entre Agosto último e o igual mês de 2008. No mesmo período, constituíram-se 33 665. Contas feitas, Portugal perdeu 16 918 empresas. Indústrias com custos fixos elevados terão sido as maiores vítimas.

Longe das 15 985 dissoluções registadas em Dezembro de 2008, o mês de Agosto trouxe poucas alterações no tecido empresarial português. "O mês de Agosto é sempre especial. Os tribunais não funcionam e é natural que ocorram menos falências", explica João Carvalho das Neves, economista e professor do ISEG, comentando o barómetro empresarial da consultora D&B. Daí que não espante o facto de a constituição de empresas (1766) ter suplantado a dissolução (1121) no oitavo mês do ano.

Por cada 10 empresas que vêem o seu fim decretado nos tribunais, há 6,7 sociedades que nascem no mercado. Representando o Norte 31% do tecido empresarial, a região contabilizou, só em Agosto último, 33,5% das constituições de sociedade e 22,2% das falências. A região de Lisboa e Vale do Tejo, com um peso de 33,5% no tecido empresarial, destacou-se no último mês com 33,3% das novas sociedades constituídas e 36,7% das dissoluções.

"Os sectores retalhista e grossista (366 dissoluções em Agosto), bem como as indústrias transformadoras (121), são muito penalizadas. Os grossistas e retalhistas são vítimas do aumento de escala das grandes cadeias. A indústria transformadora compreende-se porque é aquela que tem mais custos fixos, quando comparada com os serviços. Quando as vendas caem, é fácil as indústrias entrarem no prejuízo", afirma João Carvalho das Neves.

"Os governos têm muita preocupação em manter empresas que não tem viabilidade. Só servem para prejudicar a concorrência, praticam preços desvirtuados e entram em atrasos nos pagamentos. A dissolução de empresas tecnicamente falidas é melhor para a economia", considera o professor do ISEG.

"Os credores deviam ter muito mais poder para recuperar os activos. Nós tínhamos um Código de Insolvência muito bom e que os advogados e juízes conheciam bem. Fizeram tudo de novo e só veio trazer mais dificuldades. As alterações foram prejudiciais", critica João Carvalho das Neves, alertando as novas empresas para o facto de os níveis de custos terem de estar adaptados à potencial procura.