Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Os empréstimos de emergência realizados pelo BCE nesta crise estão a garantir mais receitas com juros
O Banco Central Europeu (BCE) deverá registar, em 2009, lucros adicionais de 900 milhões de euros graças aos empréstimos excepcionais que tem estado a conceder aos bancos da zona euro desde o início da crise, um valor que para o Banco de Portugal pode significar uma receita extra de cerca de 18 milhões de euros.
Os cálculos foram publicados esta semana pelo departamento de research do banco Goldman Sachs e citados pelo Financial Times e são o resultado de um aumento muito significativo do "volume de negócios" do BCE em tempo de crise.
Desde Setembro do ano passado, quando os bancos comerciais deixaram de emprestar dinheiro uns aos outros, a autoridade monetária europeia tornou o acesso aos seus empréstimos muito mais fácil para todos. Para além de baixar agressivamente as taxas de juro, passou a realizar os seus leilões regulares de liquidez a uma taxa fixa e por montantes ilimitados. Ou seja, o BCE decidiu, para garantir que não havia falta de liquidez no mercado, emprestar a taxas baixas tudo aquilo que os bancos quisessem. A única condição era terem garantias para apresentar - e mesmo para estas as condições exigidas foram facilitadas.
Para as contas do BCE, o enorme aumento dos empréstimos concedidos vai resultar, no final do ano, num aumento considerável das receitas com juros, mesmo tendo em conta que as taxas estão a níveis históricos. Mais recentemente, o BCE começou ainda, numa acção inédita destinada a dinamizar este segmento do mercado de crédito, a comprar obrigações hipotecárias, arrecadando os juros correspondentes. Feitas as contas, diz o Goldman Sachs, são 900 milhões de euros adicionais aos lucros anuais, algo que se irá reflectir na hora de distribuir dividendos aos bancos centrais nacionais da zona euro.
O Banco de Portugal contribuiu com cerca de 2,5 por cento do capital do BCE, pelo que, retirando os 20 por cento que vão para reservas, pode ficar com uma receita adicional relacionada com a crise de cerca de 18 milhões de euros. As contas oficiais do BCE em 2009 e o seu anúncio de distribuição de lucros apenas serão conhecidos no próximo mês de Março.
Não se pense, contudo, que o BCE é o banco central que mais lucros está a conseguir devido às medidas anticrise que está a tomar. Neste capítulo, a Reserva Federal norte-americana está a correr muito mais riscos, obtendo, em contrapartida, lucros potencialmente superiores. Ainda segundo a notícia do Financial Times, os lucros adicionais da Fed com os seus programas de empréstimos e compra de activos poderão atingir, durante o período de crise, os 14 mil milhões de dólares (cerca de 9,5 mil milhões de euros).
Os mais pessimistas, no entanto, avisam que a muito maior exposição ao risco dos balanços dos bancos centrais constitui, no caso de um regresso em força da crise no sistema financeiro, uma ameaça à sua estabilidade.