2.10.09

País perderá este ano 14 milhões de euros/dia

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Desemprego deve continuar a agravar-se, mesmo quando a economia voltar a crescer


A boa notícia é que, já no próximo ano, a riqueza de Portugal poderá voltar a crescer, ainda que muito pouco. A má é que, se o FMI tiver razão, este ano o país ficou mais pobre, ao ritmo de 14 milhões por dia. E o desemprego sobe mais.

Com o passar dos meses, os organismos que costumam fazer previsões sobre a economia mostram-se mais optimistas quer quanto à dimensão que, chegados a Dezembro, a crise terá atingido, quer quanto ao que Portugal poderá esperar no próximo ano. As previsões de Outubro do Fundo Monetário Internacional (FMI), ontem divulgadas, falam de um cenário mais favorável em termos de crescimento da riqueza gerada pelo país, mas trazem más notícias em matéria de emprego.

Diz o FMI que, este ano, Portugal ficará mais pobre, perdendo 3% do Produto Interno Bruto (PIB), o que se traduz em mais de cinco mil milhões de euros, quase 14 milhões por dia. É consequência da crise que deverá ser ultrapassada já em 2010, se o organismo liderado por Dominique Strauss-Kahn acertar na previsão.

Onde estão os empregos?

O ligeiro crescimento previsto não ajudará a baixar o desemprego e esse é um dos aspectos da crise que mais preocupa Luís Bento, docente na Católica. "Este movimento começou nos Estados Unidos há cinco anos e já chegou à Europa: as empresas começam a criar mais valor optimizando recursos e processos, ou gerindo melhor bens como a marca, e não contratando pessoas".

O resultado é o aumento do desemprego, atingindo em particular pessoas que dificilmente regressarão ao mercado laboral, porque o tipo de trabalho que faziam vai desaparecendo, disse.

Jorge Farinha, professor da Escola de Gestão do Porto, reconhece nas empresas "relutância em contratar pessoas, sobretudo enquanto os sinais de recuperação da economia não forem firmes". Apesar de estar convicto de que o desemprego não subirá muito mais, Jorge Farinha recomenda cautela às pessoas. Os funcionários públicos irão, mais cedo ou mais tarde, sofrer com a necessidade de baixar o enorme défice do Estado. O professor lembra, mesmo, o tempo em que os trabalhadores do Estado recebiam parte do salário sobre a forma de títulos de dívida pública.

E na iniciativa privada, até quem consiga manter o emprego deve ter em atenção que os juros, por exemplo, não ficarão ao nível actual para sempre. "É possível que, dentro de dois anos, a Euribor esteja de novo em níveis pré-crise, entre os 4 e os 5%. Mas tudo dependerá da rapidez da recuperação da economia, disse.

Nesse capítulo, nem Jorge Farinha nem Luís Bento estão optimistas: porque o problema da economia portuguesa já vinha de trás e não foi resolvido; e porque ainda não foi decidida, em concreto, a melhor forma de o resolver.