16.12.09

Ainda se discrimina apesar de haver regras

Ana Gaspar, in Jornal de Notícias

Fontes e público devem ter formação, diz ex-alto-comissário do ACIME


O crime continua a ser o tema mais associado aos imigrantes e às minorias étnicas, contribuindo para o tratamento discriminatório destes grupos nas notícias. Porém, os jornalistas já possuem mecanismos que lhes permitem evitar erros.

Os acontecimentos da "Quinta da Fonte" e o "Assalto ao BES" foram dois dos casos apontados como exemplo do tratamento discriminatório por parte dos média, na conferência sobre Imigração e diversidade étnica, linguística, religiosa e cultural na imprensa e na televisão, promovida pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que se realizou ontem em Lisboa. Já as condições de trabalho dos imigrantes e as dificuldades que enfrentam no processo de inserção são abordados por poucas peças jornalísticas.

No entender de Azeredo Lopes, presidente do Conselho Regulador da ERC, a abordagem destes temas melhorou nos últimos dez anos, mas falta o equilíbrio entre a visibilidade dada a questões negativas relativas a estas populações e os aspectos positivos. "Não defendo uma visão sempre positiva de grupos minoritários, justificaria sim que a presença deles não se fizesse apenas pelas piores razões", disse, citado pela agência Lusa.

No debate, Rui Marques ex-Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) assinalou a evolução da última década, mas salientou a necessidade da formação das fontes oficiais, no modo como transmitem a informação, e do público que tem que ter noção que os episódios se relacionam com questões sociais.

"Em termos técnicos, os jornalistas têm ferramentas, éticas e deontológicas, suficientes para não cometerem erros", sublinhou, apelando à "diminuição do peso das fontes anónimas oficiais".

O responsável pediu aos média para retratarem os bairros problemáticos do Porto. O objectivo é que o público perceba que os motivos das notícias negativas se prendem com a "pobreza" e a exclusão" e não com as "etnias".

Alcides Vieira, director de Informação da SIC, defendeu que os "problemas não são para esconder", com a ressalva de que "a protecção dos Direitos Humanos tem de ser a 'pedra de toque' do trabalho jornalístico".

O seu homólogo na estação pública, José Alberto Carvalho, frisou que "o nosso próprio preconceito é determinante" na abordagem e lembrou a onda de indignação contra os brasileiros gerada pelo vídeo de Maitê Proença. "Os 'Gato' (Fedorento) falam dos portugueses de uma forma mais violenta, do que a Maitê", rematou.