Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias
Sentimentos, laços familiares ou referências pessoais para as crianças são razões, mais do que suficientes, para que em casos como o de Oliveira de Azeméis se contorne o regime jurídico que impede aos casais homossexuais o acesso à adopção.
Ou seja, a orientação sexual não tem sido limitativa quando chega à hora de um tribunal decidir a quem entregar um menor, em vias de ser institucionalizado.
"Contactei com situações em que a relação afectiva justificou a entrega, devidamente acompanhada", explicou, ao JN, Dulce Rocha, a ex-presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens, que recusou comentar o episódio oliveirense. "A questão da homossexualidade não deve impedir a entrega da criança a uma pessoa que seja uma referência para si", reforçou.
Afastada a sombra da legislação, qual o impacto da homossexualidade dos pais de afecto sobre as duas meninas? "Este caso parece-me absolutamente banal. Analisar o impacto da orientação sexual deste casal na educação dos menores será sempre de forma enviesada. Não há estudos profundos sobre isso", respondeu João Lopes, especialista em psicologia educacional. O docente da Universidade do Minho acrescenta: "Opiniões todos temos. Prefiro que as crianças não sejam institucionalizadas. Apesar de as instituições serem um mal necessário. Tudo o resto que se disser será a partir de pontos de vista preconceituosos".
Já Paulo Côrte-Real, o rosto da Ilga Portugal, sublinhou a importância de se respeitar o interesse das crianças. Mas frisou: "Apesar da discriminação, não faltam exemplos de casais [homossexuais] em que um dos parceiros adoptou uma criança".