Clara Viana, in Público on-line
Ministério da Educação reforça carácter lúdico das AEC.
As entidades promotoras das Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC), destinadas aos alunos do 1.º ciclo, devem evitar que estas sejam “um prolongamento de actividades formais de ensino” e garantir que tenham um carácter “eminentemente lúdico”, estipulou o Ministério da Educação num conjunto de normas que foram agora enviadas às escolas.
As AEC são de oferta obrigatória, embora a sua frequência seja facultativa, ou seja, os pais podem decidir se os filhos as realizam ou não. O ME já estabeleceu também que estas só poderão realizar-se após o termo das aulas, às 16h30, e não antes do seu início ou durante o período lectivo, como sucedia com frequência. Nas normas enviadas às escolas, o ministério frisa que estas actividades devem responder “às expectativas das crianças e da sua formação integral, aumentando o leque de experiências que cada um dos alunos vivencie”.
Deste modo, acrescenta, no momento de planificação das AEC as escolas devem, entre outras vertentes, “valorizar as expressões culturais locais”, “criar oportunidades para que os alunos possam escolher livremente entre diferentes actividades e projectos” e “privilegiar a metodologia de projecto com a intenção primordial de dar voz aos alunos, a fim de gerar aprendizagens significativas e uma visão global das situações”.
As AEC podem ser promovidas pelas escolas, por autarquias, associações de pais e Instituições Particulares de Solidariedade Social. O que nenhuma poderá fazer, frisa o ME, é transformar estas actividades em períodos de realização de trabalhos para casa.
Em 2015/2016, 88% dos alunos do 1.º ciclo estavam inscritos nas AEC, segundo informação da Direcção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). Na maior parte das escolas, adianta a DGEEC, os domínios mais representados são os que dizem respeito a actividades artísticas e desportivas e também o ensino de Inglês ou de outra língua estrangeira.
9.8.16
Há mais partos e mais casais a “arriscar” ter o terceiro filho
Alexandra Campos, in Público on-line
Até em Trás-os-Montes e no Alentejo estão a nascer mais crianças. Houve "um período em que as pessoas estavam quase bloqueadas pelo receio do futuro, e mesmo que a situação até possa não se ter alterado muito, em termos psicológicos mudou”, diz director do Centro Materno-Infantil do Norte.
Os números são inequívocos: pelo segundo ano consecutivo, estão a nascer mais bebés em todo o país, mesmo nas envelhecidas e desertificadas regiões de Trás-os-Montes e Alentejo. Em meio ano, os hospitais públicos fizeram mais 1551 partos do que no primeiro semestre de 2015, um aumento de quase 5%. Os portugueses parecem estar a confiar mais no futuro e decidiram arriscar e ter filhos, após anos de adiamentos forçados pela crise, comentam vários profissionais de saúde e uma demógrafa ouvidos pelo PÚBLICO.
Depois de a natalidade ter “batido no fundo”, há mais casais a ponderar ter o segundo filho e alguns avançam mesmo para o terceiro, sublinham.
“Há alturas em que fazemos 25 partos por dia, o que há muito tempo não acontecia”, contabiliza, satisfeito, Caldas Afonso, director do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN). “Depois de um período em que as pessoas estavam quase bloqueadas pelo receio do futuro, e mesmo que, na prática, a situação até possa não se ter alterado muito, em termos psicológicos mudou”, observa o pediatra que está à frente do CMIN (integrado no Centro Hospitalar do Porto), onde nos primeiros seis meses deste ano nasceram 1558 bebés.
Este é o segundo maior bloco de partos do país, logo a seguir à Maternidade Alfredo da Costa — MAC (que faz parte do Centro Hospitalar de Lisboa Central).
Na MAC, que em meio ano viu nascer 1694 crianças, o acréscimo foi ligeiro, mas também já se verificava desde 2015. “As pessoas estiveram à espera que a crise passasse e, como esta não passou mas queriam muito ter filhos, decidiram mesmo avançar”, teoriza Maria José Alves, directora do serviço de medicina materno-fetal da instituição.
“Há alturas em que fazemos 25 partos por dia, o que há muito tempo não acontecia."
Caldas Afonso
No Porto, o CMIN, que oferece quartos individuais e epidural generalizada, está mesmo a concorrer, “no bom sentido”, com as unidades privadas, destaca Caldas Afonso. A direcção do CMIN até planeia abrir um infantário para os filhos dos funcionários, um investimento “que, além de ser a nossa responsabilidade social, seguramente se reflectirá na taxa de absentismo”. “Ter onde deixar os filhos pequenos quando se trabalha até mais tarde é justamente uma das grandes dificuldades dos casais portugueses”, justifica.
Na MAC, que recebe “casos complicados e de alto risco enviados por outros hospitais”, apesar de a sala de partos ter sido renovada e de ser possível aos pais assistir ao nascimento dos filhos, as condições hoteleiras no pós-parto continuam, ao contrário do CMIN, a não ser são as melhores. “Ainda há enfermarias com seis e oito camas”, lamenta Maria José Alves.
Dar condições às mulheres
Melhorar as instalações está programado no plano estratégico, diz a médica, que defende com veemência que é preciso dar condições às mulheres para que tenham os filhos que querem ter. Muitas vezes o segundo filho não acontece porque o primeiro já nasceu tarde, explica, ao mesmo tempo que sublinha que lhe parece estar “a aumentar muito o número de mulheres que arrisca ter o terceiro”. “É preciso valorizar estas pessoas”, frisa.
“As pessoas estiveram à espera que a crise passasse e, como esta não passou mas queriam muito ter filhos, decidiram mesmo avançar."
Maria José Alves
Na Grande Lisboa, os dados da Administração Central do Sistema de Saúde provam que também aumentaram os partos nos centros hospitalares de Lisboa Norte (Santa Maria) e Ocidental (S. Francisco Xavier), mas foi o hospital Garcia de Orta (Almada) que registou o maior crescimento, quase 15% mais do que no primeiro semestre de 2015.
Noutros pontos do país, nos centros hospitalares com maior número de partos em termos globais (o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e o Centro Hospitalar do Algarve) — mas que têm duas maternidades cada um (a Bissaya Barreto e a Daniel de Matos, em Coimbra, e a de Portimão e a de Faro, no Algarve) —, verificou-se, no primeiro caso, uma estabilização e, no segundo, um aumento de 6,6%.
Maior crescimento no Algarve
Em termos regionais, foi no Algarve que comparativamente nasceram mais crianças nos hospitais públicos no primeiro semestre, ainda que o fenómeno se tenha replicado um pouco por todo o país. No Alentejo, à excepção da Unidade Local de Saúde (ULS) do Norte Alentejano (Elvas e Portalegre), onde nasceram menos bebés, verificou-se um acréscimo tanto na ULS do Baixo Alentejo (Beja) como no Hospital de Évora. O mesmo aconteceu em Trás-os-Montes. Na ULS do Nordeste (Bragança) fizeram-se mais 17 partos entre Janeiro e Junho.
No Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Maria do Céu Almeida, directora do serviço de obstetrícia, lamenta que ainda não tenha sido possível fazer a junção das duas salas de parto (maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Matos), enquanto recorda igualmente que, após “a queda abrupta verificada entre 2009 e 2014”, no ano passado o número de partos cresceu e este ano está estabilizado.
“Há um reacender da natalidade. Tínhamos batido no fundo, houve um acumular e isso tem-se notado nos serviços públicos. É uma tendência animadora, o país precisa de sangue novo."
Daniel Pereira da Silva
“Os casais confiam nas nossas equipas, na segurança oferecida. Agora, chegamos a fazer 12 a 13 partos por dia [em cada uma das duas maternidades]. Penso que as pessoas perceberam que não valerá a pena continuar a esperar por melhores dias que não virão. Não podem adiar mais”, frisa a médica. Nota ainda que são cada vez mais os que decidem partir para o segundo filho e outros mesmo para o terceiro. Esta última situação, que começava a ser olhada como excepcional, tem voltado a aparecer, acentua.
“Tendência animadora"
Na região Centro, houve, entretanto, hospitais que investiram em salas de partos renovadas, como Viseu e Aveiro, e o certo é que os nascimentos aumentaram nestes hospitais, de forma expressiva. Também no Norte se observaram crescimentos assinaláveis em vários hospitais públicos.
“Este ano poderemos aproximar-nos dos 88 mil, 89 mil, algo minimamente decente."
Luís Graça
“Há um reacender da natalidade. Tínhamos batido no fundo, houve um acumular e isso tem-se notado nos serviços públicos. É uma tendência animadora, o país precisa de sangue novo, é um grande estímulo, é muito positivo”, destaca Daniel Pereira da Silva, membro do colégio da especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos.
“Depois da debacle [hecatombe] de 2009, 2010, em que houve uma queda de 20% — passámos de cerca de 100 mil para pouco mais de 80 mil —, está a melhorar um bocadinho, mas, até chegarmos aos 100 mil, falta um bocado”, contextualiza, prudente, Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal.
Em 2015 nasceram 85.500 crianças em todo o país, nos hospitais públicos e nos privados. “Este ano poderemos aproximar-nos dos 88 mil, 89 mil, algo minimamente decente. Isto foi muito complicado em termos financeiros, as pessoas assustaram-se e adiaram a gravidez. Mas chega-se a um ponto em que não se pode adiar mais”, resume.
“Alguns casais evitaram ter o segundo filho e agora lá se decidiram. As coisas estar-se-ão a equilibrar. Mas há um problema que já não conseguimos contornar: a quantidade de mulheres e homens em idade fértil que emigraram. Se tiverem filhos e este regressarem num prazo relativamente curto, vão ser portugueses. Senão…”.
Até em Trás-os-Montes e no Alentejo estão a nascer mais crianças. Houve "um período em que as pessoas estavam quase bloqueadas pelo receio do futuro, e mesmo que a situação até possa não se ter alterado muito, em termos psicológicos mudou”, diz director do Centro Materno-Infantil do Norte.
Os números são inequívocos: pelo segundo ano consecutivo, estão a nascer mais bebés em todo o país, mesmo nas envelhecidas e desertificadas regiões de Trás-os-Montes e Alentejo. Em meio ano, os hospitais públicos fizeram mais 1551 partos do que no primeiro semestre de 2015, um aumento de quase 5%. Os portugueses parecem estar a confiar mais no futuro e decidiram arriscar e ter filhos, após anos de adiamentos forçados pela crise, comentam vários profissionais de saúde e uma demógrafa ouvidos pelo PÚBLICO.
Depois de a natalidade ter “batido no fundo”, há mais casais a ponderar ter o segundo filho e alguns avançam mesmo para o terceiro, sublinham.
“Há alturas em que fazemos 25 partos por dia, o que há muito tempo não acontecia”, contabiliza, satisfeito, Caldas Afonso, director do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN). “Depois de um período em que as pessoas estavam quase bloqueadas pelo receio do futuro, e mesmo que, na prática, a situação até possa não se ter alterado muito, em termos psicológicos mudou”, observa o pediatra que está à frente do CMIN (integrado no Centro Hospitalar do Porto), onde nos primeiros seis meses deste ano nasceram 1558 bebés.
Este é o segundo maior bloco de partos do país, logo a seguir à Maternidade Alfredo da Costa — MAC (que faz parte do Centro Hospitalar de Lisboa Central).
Na MAC, que em meio ano viu nascer 1694 crianças, o acréscimo foi ligeiro, mas também já se verificava desde 2015. “As pessoas estiveram à espera que a crise passasse e, como esta não passou mas queriam muito ter filhos, decidiram mesmo avançar”, teoriza Maria José Alves, directora do serviço de medicina materno-fetal da instituição.
“Há alturas em que fazemos 25 partos por dia, o que há muito tempo não acontecia."
Caldas Afonso
No Porto, o CMIN, que oferece quartos individuais e epidural generalizada, está mesmo a concorrer, “no bom sentido”, com as unidades privadas, destaca Caldas Afonso. A direcção do CMIN até planeia abrir um infantário para os filhos dos funcionários, um investimento “que, além de ser a nossa responsabilidade social, seguramente se reflectirá na taxa de absentismo”. “Ter onde deixar os filhos pequenos quando se trabalha até mais tarde é justamente uma das grandes dificuldades dos casais portugueses”, justifica.
Na MAC, que recebe “casos complicados e de alto risco enviados por outros hospitais”, apesar de a sala de partos ter sido renovada e de ser possível aos pais assistir ao nascimento dos filhos, as condições hoteleiras no pós-parto continuam, ao contrário do CMIN, a não ser são as melhores. “Ainda há enfermarias com seis e oito camas”, lamenta Maria José Alves.
Dar condições às mulheres
Melhorar as instalações está programado no plano estratégico, diz a médica, que defende com veemência que é preciso dar condições às mulheres para que tenham os filhos que querem ter. Muitas vezes o segundo filho não acontece porque o primeiro já nasceu tarde, explica, ao mesmo tempo que sublinha que lhe parece estar “a aumentar muito o número de mulheres que arrisca ter o terceiro”. “É preciso valorizar estas pessoas”, frisa.
“As pessoas estiveram à espera que a crise passasse e, como esta não passou mas queriam muito ter filhos, decidiram mesmo avançar."
Maria José Alves
Na Grande Lisboa, os dados da Administração Central do Sistema de Saúde provam que também aumentaram os partos nos centros hospitalares de Lisboa Norte (Santa Maria) e Ocidental (S. Francisco Xavier), mas foi o hospital Garcia de Orta (Almada) que registou o maior crescimento, quase 15% mais do que no primeiro semestre de 2015.
Noutros pontos do país, nos centros hospitalares com maior número de partos em termos globais (o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e o Centro Hospitalar do Algarve) — mas que têm duas maternidades cada um (a Bissaya Barreto e a Daniel de Matos, em Coimbra, e a de Portimão e a de Faro, no Algarve) —, verificou-se, no primeiro caso, uma estabilização e, no segundo, um aumento de 6,6%.
Maior crescimento no Algarve
Em termos regionais, foi no Algarve que comparativamente nasceram mais crianças nos hospitais públicos no primeiro semestre, ainda que o fenómeno se tenha replicado um pouco por todo o país. No Alentejo, à excepção da Unidade Local de Saúde (ULS) do Norte Alentejano (Elvas e Portalegre), onde nasceram menos bebés, verificou-se um acréscimo tanto na ULS do Baixo Alentejo (Beja) como no Hospital de Évora. O mesmo aconteceu em Trás-os-Montes. Na ULS do Nordeste (Bragança) fizeram-se mais 17 partos entre Janeiro e Junho.
No Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Maria do Céu Almeida, directora do serviço de obstetrícia, lamenta que ainda não tenha sido possível fazer a junção das duas salas de parto (maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Matos), enquanto recorda igualmente que, após “a queda abrupta verificada entre 2009 e 2014”, no ano passado o número de partos cresceu e este ano está estabilizado.
“Há um reacender da natalidade. Tínhamos batido no fundo, houve um acumular e isso tem-se notado nos serviços públicos. É uma tendência animadora, o país precisa de sangue novo."
Daniel Pereira da Silva
“Os casais confiam nas nossas equipas, na segurança oferecida. Agora, chegamos a fazer 12 a 13 partos por dia [em cada uma das duas maternidades]. Penso que as pessoas perceberam que não valerá a pena continuar a esperar por melhores dias que não virão. Não podem adiar mais”, frisa a médica. Nota ainda que são cada vez mais os que decidem partir para o segundo filho e outros mesmo para o terceiro. Esta última situação, que começava a ser olhada como excepcional, tem voltado a aparecer, acentua.
“Tendência animadora"
Na região Centro, houve, entretanto, hospitais que investiram em salas de partos renovadas, como Viseu e Aveiro, e o certo é que os nascimentos aumentaram nestes hospitais, de forma expressiva. Também no Norte se observaram crescimentos assinaláveis em vários hospitais públicos.
“Este ano poderemos aproximar-nos dos 88 mil, 89 mil, algo minimamente decente."
Luís Graça
“Há um reacender da natalidade. Tínhamos batido no fundo, houve um acumular e isso tem-se notado nos serviços públicos. É uma tendência animadora, o país precisa de sangue novo, é um grande estímulo, é muito positivo”, destaca Daniel Pereira da Silva, membro do colégio da especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos.
“Depois da debacle [hecatombe] de 2009, 2010, em que houve uma queda de 20% — passámos de cerca de 100 mil para pouco mais de 80 mil —, está a melhorar um bocadinho, mas, até chegarmos aos 100 mil, falta um bocado”, contextualiza, prudente, Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal.
Em 2015 nasceram 85.500 crianças em todo o país, nos hospitais públicos e nos privados. “Este ano poderemos aproximar-nos dos 88 mil, 89 mil, algo minimamente decente. Isto foi muito complicado em termos financeiros, as pessoas assustaram-se e adiaram a gravidez. Mas chega-se a um ponto em que não se pode adiar mais”, resume.
“Alguns casais evitaram ter o segundo filho e agora lá se decidiram. As coisas estar-se-ão a equilibrar. Mas há um problema que já não conseguimos contornar: a quantidade de mulheres e homens em idade fértil que emigraram. Se tiverem filhos e este regressarem num prazo relativamente curto, vão ser portugueses. Senão…”.
Escolas públicas perderam quatro vezes mais professores que as privadas
Samuel Silva, in Público on-line
De 2004 a 2015 saíram 42 mil docentes do sistema de ensino, três quartos dos quais durante os anos da troika.
Ao longo da última década, um quarto dos professores que ensinavam nas escolas nacionais deixou a profissão. O facto não é uma novidade para quem acompanha o sector, mas o relatório sobre o Perfil do Docente publicado, no final do mês passado, pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) permite perceber que a saída dos docentes teve quatro vezes mais impacto nas escolas públicas do que nos colégios e que três quartos destas saídas aconteceram durante os anos de intervenção da troika.
De acordo com aquele relatório, cuja última actualização diz respeito ao ano lectivo 2014/2015, nos dez anos anteriores 42.165 docentes deixaram as escolas nacionais, o que representa mais de um quarto (27%) do total de efectivos que estavam ao serviço em 2004/2005. O número dos que saíram foi superior no 3.º ciclo e ensino secundário (menos 16.224 professores, ou seja, 40% do total das saídas), mas a tendência foi transversal aos diferentes níveis de ensino.
Quando se analisam os dados da DGEEC percebe-se, no entanto, que esta realidade afectou de forma particular as escolas públicas. Foi nos estabelecimentos de ensino da rede do Estado que se concentrou a quase totalidade dos abandonos dos docentes ao longo da última década (98%). Já os colégios privados perderam menos de mil profissionais em dez anos (920), o que significa uma quebra de 6,5% do total de efectivos. As escolas públicas perderam 25% dos professores, ou seja, tiveram quatro vezes mais saídas.
Estes são números que não surpreendem o líder da Federação Nacional da Educação (FNE), João Dias da Silva, uma vez que, nos últimos anos, foram tomadas medidas “específicas das escolas públicas” que contribuíram para esta situação. São disso exemplo o encerramento dos estabelecimentos do 1.º ciclo com menos de 25 alunos, a criação de agrupamentos de escolas e o aumento do número de alunos por turma, que contribuíram para a redução do número de docentes.
Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), acrescenta ainda como explicação as medidas de austeridade aplicadas sobre a função pública. Os cortes nos vencimentos, o aumento da idade da reforma e o congelamento das progressões levaram muitos professores a saírem do sistema — pedindo a pré-reforma ou mudando de profissão — mais cedo do que seria expectável. “Saíram desiludidos e alguns deles ainda tinham muitos anos para dar”, sublinha Filinto Lima.
O efeito da austeridade
Os anos de vigência do programa de assistência financeira da troika (2011 a 2014) foram aqueles em que mais professores abandonaram as escolas nacionais. Ao todo, registaram-se 31.352 saídas, representando três quartos do total de docentes que deixaram de dar aulas na última década. Mais uma vez, as escolas públicas são as mais afectadas — 94% dos docentes que deixaram o sector nesses três anos estavam em escolas do Estado —, mas aquele foi também o período em que as escolas privadas perderam mais gente. Os colégios viram sair 13% do seu corpo docente entre 2011 e 2014. No mesmo período, as escolas públicas perderam 22,6% do efectivo.
Ainda que a maior parte das saídas tenha acontecido nos anos de aplicação do memorando — e, por consequência, de Nuno Crato à frente do Ministério da Educação —, a tendência de diminuição do número de docentes já tinha começado no ano anterior, quando o Governo socialista de José Sócrates, com Isabel Alçada na tutela, aplicou cortes no sector que resultaram numa diminuição de efectivos de 3% face ao ano anterior. Curiosamente, nos três anos anteriores, também com executivo do PS, o total de docentes tinha aumentado sempre, totalizando um crescimento de 5926 efectivos.
A redução do número de docentes tem sido apontada como uma consequência da quebra demográfica que há anos atinge o país e que tem feito reduzir o número de alunos inscritos nas escolas. De facto, nos mesmos dez anos a que diz respeito o relatório da DGEEC, o número de alunos a frequentar os três ciclos do ensino básico e o ensino secundário baixou, mas apenas 6,2% — menos 92.423 inscritos.
Mesmo sem recorrer a estes números, o presidente da ANDAEP refuta que a demografia seja a explicação para a redução do total de docentes: “O que aconteceu é que os professores estão a trabalhar mais tempo do que antigamente.” “Quem anda nas escolas sabe perfeitamente que esta não é apenas uma questão demográfica”, acrescenta Alexandre Henriques, professor e autor do blogue Com Regras. “Nós continuamos a ter turmas grandes e temos muito mais trabalho.”
Prova disso é o rácio do número de alunos por professor, que aumentou nos últimos anos em todos os níveis de ensino. Por exemplo, no 1º ciclo, o número de alunos por cada professor passou de 12,6 em 2004/2005 para 15,4 em 2014/2015. No 3.º ciclo e ensino secundário, o nível onde há mais professores, o rácio é actualmente de 9,2 alunos por professor, 1,1 pontos mais elevado do que dez anos antes.
De 2004 a 2015 saíram 42 mil docentes do sistema de ensino, três quartos dos quais durante os anos da troika.
Ao longo da última década, um quarto dos professores que ensinavam nas escolas nacionais deixou a profissão. O facto não é uma novidade para quem acompanha o sector, mas o relatório sobre o Perfil do Docente publicado, no final do mês passado, pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) permite perceber que a saída dos docentes teve quatro vezes mais impacto nas escolas públicas do que nos colégios e que três quartos destas saídas aconteceram durante os anos de intervenção da troika.
De acordo com aquele relatório, cuja última actualização diz respeito ao ano lectivo 2014/2015, nos dez anos anteriores 42.165 docentes deixaram as escolas nacionais, o que representa mais de um quarto (27%) do total de efectivos que estavam ao serviço em 2004/2005. O número dos que saíram foi superior no 3.º ciclo e ensino secundário (menos 16.224 professores, ou seja, 40% do total das saídas), mas a tendência foi transversal aos diferentes níveis de ensino.
Quando se analisam os dados da DGEEC percebe-se, no entanto, que esta realidade afectou de forma particular as escolas públicas. Foi nos estabelecimentos de ensino da rede do Estado que se concentrou a quase totalidade dos abandonos dos docentes ao longo da última década (98%). Já os colégios privados perderam menos de mil profissionais em dez anos (920), o que significa uma quebra de 6,5% do total de efectivos. As escolas públicas perderam 25% dos professores, ou seja, tiveram quatro vezes mais saídas.
Estes são números que não surpreendem o líder da Federação Nacional da Educação (FNE), João Dias da Silva, uma vez que, nos últimos anos, foram tomadas medidas “específicas das escolas públicas” que contribuíram para esta situação. São disso exemplo o encerramento dos estabelecimentos do 1.º ciclo com menos de 25 alunos, a criação de agrupamentos de escolas e o aumento do número de alunos por turma, que contribuíram para a redução do número de docentes.
Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), acrescenta ainda como explicação as medidas de austeridade aplicadas sobre a função pública. Os cortes nos vencimentos, o aumento da idade da reforma e o congelamento das progressões levaram muitos professores a saírem do sistema — pedindo a pré-reforma ou mudando de profissão — mais cedo do que seria expectável. “Saíram desiludidos e alguns deles ainda tinham muitos anos para dar”, sublinha Filinto Lima.
O efeito da austeridade
Os anos de vigência do programa de assistência financeira da troika (2011 a 2014) foram aqueles em que mais professores abandonaram as escolas nacionais. Ao todo, registaram-se 31.352 saídas, representando três quartos do total de docentes que deixaram de dar aulas na última década. Mais uma vez, as escolas públicas são as mais afectadas — 94% dos docentes que deixaram o sector nesses três anos estavam em escolas do Estado —, mas aquele foi também o período em que as escolas privadas perderam mais gente. Os colégios viram sair 13% do seu corpo docente entre 2011 e 2014. No mesmo período, as escolas públicas perderam 22,6% do efectivo.
Ainda que a maior parte das saídas tenha acontecido nos anos de aplicação do memorando — e, por consequência, de Nuno Crato à frente do Ministério da Educação —, a tendência de diminuição do número de docentes já tinha começado no ano anterior, quando o Governo socialista de José Sócrates, com Isabel Alçada na tutela, aplicou cortes no sector que resultaram numa diminuição de efectivos de 3% face ao ano anterior. Curiosamente, nos três anos anteriores, também com executivo do PS, o total de docentes tinha aumentado sempre, totalizando um crescimento de 5926 efectivos.
A redução do número de docentes tem sido apontada como uma consequência da quebra demográfica que há anos atinge o país e que tem feito reduzir o número de alunos inscritos nas escolas. De facto, nos mesmos dez anos a que diz respeito o relatório da DGEEC, o número de alunos a frequentar os três ciclos do ensino básico e o ensino secundário baixou, mas apenas 6,2% — menos 92.423 inscritos.
Mesmo sem recorrer a estes números, o presidente da ANDAEP refuta que a demografia seja a explicação para a redução do total de docentes: “O que aconteceu é que os professores estão a trabalhar mais tempo do que antigamente.” “Quem anda nas escolas sabe perfeitamente que esta não é apenas uma questão demográfica”, acrescenta Alexandre Henriques, professor e autor do blogue Com Regras. “Nós continuamos a ter turmas grandes e temos muito mais trabalho.”
Prova disso é o rácio do número de alunos por professor, que aumentou nos últimos anos em todos os níveis de ensino. Por exemplo, no 1º ciclo, o número de alunos por cada professor passou de 12,6 em 2004/2005 para 15,4 em 2014/2015. No 3.º ciclo e ensino secundário, o nível onde há mais professores, o rácio é actualmente de 9,2 alunos por professor, 1,1 pontos mais elevado do que dez anos antes.
“As histórias mais importantes para mim são sobre a pobreza” (com vídeo)
in Beiras on-line
Começou a sua atividade no fotojornalismo de uma forma curiosa. Quer partilhá-la connosco?
Nenhum jornal me dava uma oportunidade e um dia estava no cais e vi um barco à vela entrar. Quando atracou, pedi para entrar e fotografei-o. No dia seguinte, vi a minha primeira fotografia ser publicada. O nome do barco era “O gazela”, tinha sido português, mas agora é americano. Dois anos depois, quando já era fotojornalista, o barco regressou a New Bedford e telefonei aos meus pais, que estavam em Portugal, e eles disseram-me que a tripulação daquele barco tinha salvado os meus dois avós, quando o seu bacalhoeiro naufragou, na Terra Nova. Ou seja, foi “O gazela” que me salvou duas vezes (risos).
Que histórias gosta de contar através da sua objetiva?
As histórias mais importantes para mim são sobre a pobreza [no mundo]. Nunca fui pobre, mas sempre quis abrir os olhos ao resto do mundo, para dizer que nem todos são privilegiados.
De que forma a sua origem portuguesa influencia o seu trabalho?
Fui para os EUA com oito anos. Por isso, a minha maneira de pensar talvez seja mais americana do que portuguesa. Mas acho que a maneira como vejo o mundo tem influência portuguesa, no sentido em que compreendo que o mundo é diferente, que não é visto apenas da maneira americana.
Teria o mesmo sucesso se se chamasse Pedro Pereira?
Acho que sim. Sou Peter porque a primeira vez que fui à América, tinha cinco anos, os meus primos começaram a chamar-me Peter. Não foi uma decisão minha. Nunca mais voltaram a chamar-me Pedro desde os oitos anos.
Nos Estados Unidos, os fotojornalistas estão no mesmo patamar dos jornalistas. Encontra este estatuto noutros países?
O fotojornalismo nos Estados Unidos tem mais peso. Os jornais e as publicações onde trabalhamos dão mais latitude para fazermos projetos puramente visuais, e não para apenas fotografias que dão com a história.
Ou seja, a história é a fotografia.
Exatamente, a história é a fotografia! Na América, temos oportunidades que talvez um fotojornalista em Portugal não tem.
Esta entrevista pode ser ouvida na íntegra na Foz do Mondego Rádio (99.1FM) e vista na Figueira TV.
Começou a sua atividade no fotojornalismo de uma forma curiosa. Quer partilhá-la connosco?
Nenhum jornal me dava uma oportunidade e um dia estava no cais e vi um barco à vela entrar. Quando atracou, pedi para entrar e fotografei-o. No dia seguinte, vi a minha primeira fotografia ser publicada. O nome do barco era “O gazela”, tinha sido português, mas agora é americano. Dois anos depois, quando já era fotojornalista, o barco regressou a New Bedford e telefonei aos meus pais, que estavam em Portugal, e eles disseram-me que a tripulação daquele barco tinha salvado os meus dois avós, quando o seu bacalhoeiro naufragou, na Terra Nova. Ou seja, foi “O gazela” que me salvou duas vezes (risos).
Que histórias gosta de contar através da sua objetiva?
As histórias mais importantes para mim são sobre a pobreza [no mundo]. Nunca fui pobre, mas sempre quis abrir os olhos ao resto do mundo, para dizer que nem todos são privilegiados.
De que forma a sua origem portuguesa influencia o seu trabalho?
Fui para os EUA com oito anos. Por isso, a minha maneira de pensar talvez seja mais americana do que portuguesa. Mas acho que a maneira como vejo o mundo tem influência portuguesa, no sentido em que compreendo que o mundo é diferente, que não é visto apenas da maneira americana.
Teria o mesmo sucesso se se chamasse Pedro Pereira?
Acho que sim. Sou Peter porque a primeira vez que fui à América, tinha cinco anos, os meus primos começaram a chamar-me Peter. Não foi uma decisão minha. Nunca mais voltaram a chamar-me Pedro desde os oitos anos.
Nos Estados Unidos, os fotojornalistas estão no mesmo patamar dos jornalistas. Encontra este estatuto noutros países?
O fotojornalismo nos Estados Unidos tem mais peso. Os jornais e as publicações onde trabalhamos dão mais latitude para fazermos projetos puramente visuais, e não para apenas fotografias que dão com a história.
Ou seja, a história é a fotografia.
Exatamente, a história é a fotografia! Na América, temos oportunidades que talvez um fotojornalista em Portugal não tem.
Esta entrevista pode ser ouvida na íntegra na Foz do Mondego Rádio (99.1FM) e vista na Figueira TV.
Rafaela Silva enfrentou pobreza e racismo para chegar ao ouro
Marco Vaza (no Rio de Janeiro), in Público on-line
O primeiro título do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro começou a ser construído há 20 anos, na Cidade de Deus, uma favela carioca na zona oeste da cidade.
O rosto de Rafaela Silva não revela qualquer tipo de emoção, antes, durante e após um combate. Cara fechada, dentes provavelmente cerrados, concentração total. As vitórias parciais não lhe interessavam festejar. Só a última, final e irrevogável. Só quando se esgotou o último segundo da final categoria de -57kg no judo olímpico é que o rosto se abriu, ela celebrou e um país celebrou com ela. Rafaela conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos do Rio de Janeiro e com uma proximidade espantosa de casa. O Arena Carioca 2, no Parque Olímpico, fica próximo da Cidade de Deus, uma das mais famosas favelas cariocas. Rafaela Silva veio de lá.
“Mostrei aqui que uma pessoa saída da favela pode tornar-se campeã. A lição que fica para as crianças é que, se têm um sonho, batalhem. Assim, podem alcançá-lo. Pode demorar. Eu não consegui há quatro anos, mas agora alcancei”, disse a judoca brasileira após ter derrotado a mongol Sumiva Dorjsuren no “golden score” pontuando com wazari, na mesma competição em que Telma Monteiro conquistou a medalha de bronze. Há 20 anos, antes de ser o exemplo em que se transformou, Rafaela era uma dessas crianças que nasceu e cresceu exposta à pobreza na comunidade que o filme de Fernando Meirelles tornou mundialmente célebre em 2002.
Quando tinha cinco anos, Rafaela era uma menina que gostava de bater nos rapazes e os pais colocaram-na, e às irmãs, a fazer judo no Instituto Reação, um projecto criado em várias comunidades pobres por Flávio Canto (medalha de bronze em Atenas 2004) para promover o desenvolvimento e a inclusão social através do desporto. O antigo judoca conta a história: “Rafaela entrou com uns cinco, seis anos, e desde novinha o Geraldo [treinador] falava que ela iria chegar à Olimpíada. Quando começou no Reação, eu e todo o mundo que está lá sempre pensou que o ouro podia acontecer. Mas desse jeito?”
A verdade é que Rafaela cresceu a praticar judo (ou judô, como se diz no Brasil) na favela e foi-se afirmando como uma das melhores. Mas, depois de superar as dificuldades impostas pelas origens humildes, Rafaela teve de enfrentar outro bloqueio. Em Londres 2012, era já uma forte candidata às medalhas olímpicas, mas foi desqualificada num combate por ter utilizado uma técnica ilegal. O que se seguiu da parte de muita gente não foi compreensão, mas críticas bem para lá dos limites do razoável. E desses, Rafaela também não se esqueceu quando venceu no “seu quintal”: “O macaco que tinha de estar na jaula em Londres é campeã olímpica em casa. Hoje, eu não sou a vergonha para a minha família.”
Pensou em abandonar a carreira após esses jogos, mas a reacção a Londres não podia ter sido melhor. Em 2013, conquistava o seu primeiro título mundial no Rio de Janeiro, tal como aconteceu agora com o seu primeiro título olímpico, mesmo que, depois, tenha andado num limbo competitivo durante três anos, até se reencontrar na hora certa com o desporto que lhe mudou a vida: “Se não fosse o judo, eu nem sei onde estaria agora. Poderia estar a brincar na Cidade de Deus, mas conheci este desporto e estou aqui como campeã.”
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14:13
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12:05
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10:10
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09:27
Os destaques da noite olímpica: o adeus de Djokovic, as críticas de João Sousa e a primeira campeã de râguebi .
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08:59
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2
Desporto:
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3
Desporto:
Rafaela Silva enfrentou pobreza e racismo para chegar ao ouro .
.
4
Sociedade:
Queremos ver Portugal a arder .
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5
Sociedade:
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“Mostrei aqui que uma pessoa saída da favela pode tornar-se campeã. A lição que fica para as crianças é que, se têm um sonho, batalhem. Assim, podem alcançá-lo. Pode demorar. Eu não consegui há quatro anos, mas agora alcancei”, disse a judoca brasileira após ter derrotado a mongol Sumiva Dorjsuren no “golden score” pontuando com wazari, na mesma competição em que Telma Monteiro conquistou a medalha de bronze. Há 20 anos, antes de ser o exemplo em que se transformou, Rafaela era uma dessas crianças que nasceu e cresceu exposta à pobreza na comunidade que o filme de Fernando Meirelles tornou mundialmente célebre em 2002.
Quando tinha cinco anos, Rafaela era uma menina que gostava de bater nos rapazes e os pais colocaram-na, e às irmãs, a fazer judo no Instituto Reação, um projecto criado em várias comunidades pobres por Flávio Canto (medalha de bronze em Atenas 2004) para promover o desenvolvimento e a inclusão social através do desporto. O antigo judoca conta a história: “Rafaela entrou com uns cinco, seis anos, e desde novinha o Geraldo [treinador] falava que ela iria chegar à Olimpíada. Quando começou no Reação, eu e todo o mundo que está lá sempre pensou que o ouro podia acontecer. Mas desse jeito?”
A verdade é que Rafaela cresceu a praticar judo (ou judô, como se diz no Brasil) na favela e foi-se afirmando como uma das melhores. Mas, depois de superar as dificuldades impostas pelas origens humildes, Rafaela teve de enfrentar outro bloqueio. Em Londres 2012, era já uma forte candidata às medalhas olímpicas, mas foi desqualificada num combate por ter utilizado uma técnica ilegal. O que se seguiu da parte de muita gente não foi compreensão, mas críticas bem para lá dos limites do razoável. E desses, Rafaela também não se esqueceu quando venceu no “seu quintal”: “O macaco que tinha de estar na jaula em Londres é campeã olímpica em casa. Hoje, eu não sou a vergonha para a minha família.”
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8.8.16
Mães sem poderem amamentar devido a fome extrema
in TVI24
Guerra, execuções, violações, fome e sede são as palavras-chave do dicionário real no Sudão do Sul. Organizações humanitárias estão em desespero e admitem que a situação vai piorar
Tudo está mal e deverá ainda piorar. No mês de julho, intensificaram-se os combates entre as fações que lutam pelo poder no Sudão do Sul, o mais novo país do planeta, e aumentaram as dificuldades para as organizações humanitárias no terreno. Com dificuldades de circulação e cada vez mais barreiras de controlo, a pouca ajuda possível de prestar às populações simplesmente não lhes chega.
“
Já estamos numa crise de insegurança alimentar extremamente preocupante”, afirmou o coordenador do gabinete de Emergência das Nações Unidas.
“
Há muitas circunstâncias onde, terrivelmente, a situação só piora”, afiançou Stephen O'Brien, citado pelo jornal inglês, The Telegraph.
Fome e violações continuam
Stephen O'Brien esteve na passada semana no Sudão do Sul, o país criado após o referendo de 2011, que continua a viver uma luta sem quartel entre os partidários presidente Salva Kiir e do vice-presidente, Riek Machar.
Consequência dos combates que eclodiram em grande escala no mês de julho, o responsável das Nações Unidas diz ter encontrado mulheres, mães, que, com tanta fome e má nutrição, já não têm leite para amamentar os filhos.
“
É o nível puro do desespero”, contou O’Brien.
Mais de 160 sudaneses sobrevivem em seis campos de refugiados nas Nações Unidas, muitos dos quais em localidades remotas, de difícil acesso.
Além de centenas de mortos devido aos combates, as equipas da ONU confirmam também novas situações de execução de civis por causa de rivalidades étnicas e o aumento de casos de violação.
“
Registámos pelo menos 217 casos de violência sexual em Juba, entre 8 e 25 de julho”, garantiu o Alto-Comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.
As Nações Unidas adiantam ainda que as forças governamentais saquearam um armazém onde estavam guardados alimentos que podiam matar a fome a 220 pessoas em situação de penúria extrema.
Um país rico dos mais pobres do mundo
Rico em jazidas de petróleo, o Sudão do Sul tornou-se independente em 2011. Desde então mantém uma das mais altas taxas de mortalidade infantil, sistemas de saúde e de educação mais que precários, uma taxa de analfabetismo de 84% e uma guerra fratricida desde 2013.
Desde a capital, a cidade de Juba, a luta pelo poder entre as fações do presidente e vice-presidente, com divisões tribais à mistura, já provocou que cerca de 4,8 milhões de pessoas enfrentem graves problemas alimentares, das quais, as equipas das Nações Unidas, só conseguiram acudir a não mais de 2,8 milhões.
Uma vez mais, a comunidade internacional procura instalar tréguas entre as fações que semeiam a guerra e violência no Sudão do Sul. A situação terá acalmado no presente mês de agosto, mas os observadores das Nações Unidas admitem que o país é ainda um barril de pólvora.
A tensão permanece muito alta e as violações continuam a ocorrer em Juba e noutras regiões do país”, sublinhou Zeid Ra'ad Al Hussein.
Guerra, execuções, violações, fome e sede são as palavras-chave do dicionário real no Sudão do Sul. Organizações humanitárias estão em desespero e admitem que a situação vai piorar
Tudo está mal e deverá ainda piorar. No mês de julho, intensificaram-se os combates entre as fações que lutam pelo poder no Sudão do Sul, o mais novo país do planeta, e aumentaram as dificuldades para as organizações humanitárias no terreno. Com dificuldades de circulação e cada vez mais barreiras de controlo, a pouca ajuda possível de prestar às populações simplesmente não lhes chega.
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Já estamos numa crise de insegurança alimentar extremamente preocupante”, afirmou o coordenador do gabinete de Emergência das Nações Unidas.
“
Há muitas circunstâncias onde, terrivelmente, a situação só piora”, afiançou Stephen O'Brien, citado pelo jornal inglês, The Telegraph.
Fome e violações continuam
Stephen O'Brien esteve na passada semana no Sudão do Sul, o país criado após o referendo de 2011, que continua a viver uma luta sem quartel entre os partidários presidente Salva Kiir e do vice-presidente, Riek Machar.
Consequência dos combates que eclodiram em grande escala no mês de julho, o responsável das Nações Unidas diz ter encontrado mulheres, mães, que, com tanta fome e má nutrição, já não têm leite para amamentar os filhos.
“
É o nível puro do desespero”, contou O’Brien.
Mais de 160 sudaneses sobrevivem em seis campos de refugiados nas Nações Unidas, muitos dos quais em localidades remotas, de difícil acesso.
Além de centenas de mortos devido aos combates, as equipas da ONU confirmam também novas situações de execução de civis por causa de rivalidades étnicas e o aumento de casos de violação.
“
Registámos pelo menos 217 casos de violência sexual em Juba, entre 8 e 25 de julho”, garantiu o Alto-Comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.
As Nações Unidas adiantam ainda que as forças governamentais saquearam um armazém onde estavam guardados alimentos que podiam matar a fome a 220 pessoas em situação de penúria extrema.
Um país rico dos mais pobres do mundo
Rico em jazidas de petróleo, o Sudão do Sul tornou-se independente em 2011. Desde então mantém uma das mais altas taxas de mortalidade infantil, sistemas de saúde e de educação mais que precários, uma taxa de analfabetismo de 84% e uma guerra fratricida desde 2013.
Desde a capital, a cidade de Juba, a luta pelo poder entre as fações do presidente e vice-presidente, com divisões tribais à mistura, já provocou que cerca de 4,8 milhões de pessoas enfrentem graves problemas alimentares, das quais, as equipas das Nações Unidas, só conseguiram acudir a não mais de 2,8 milhões.
Uma vez mais, a comunidade internacional procura instalar tréguas entre as fações que semeiam a guerra e violência no Sudão do Sul. A situação terá acalmado no presente mês de agosto, mas os observadores das Nações Unidas admitem que o país é ainda um barril de pólvora.
A tensão permanece muito alta e as violações continuam a ocorrer em Juba e noutras regiões do país”, sublinhou Zeid Ra'ad Al Hussein.
O caso Quintino Aires
José Manuel Oliveira Antunes, in Público on-line
As afirmações do Dr. Quintino Aires não têm nenhuma base documental nem rigor, mas as reacções por elas suscitadas carecem de mais equilíbrio de critérios.
O psicólogo Dr. Quintino Aires afirmou num programa da TVI, cito o que li nos jornais, que “a etnia cigana não respeita as normas do país onde vive” e que “a maioria vive de subsídios ou trafica droga e não trabalha”. Tudo isto, a propósito da invasão com agressões, a um quartel de bombeiros em Campo Maior.
O Dr. Quintino Aires, por distracção ou porque o programa da TVI é mesmo para isso, confundiu uma “conversa de café”, com a circunstância de estar a falar para centenas de milhares de pessoas. Não é o primeiro, nem será o último.
Estima-se que os ciganos em Portugal (dados citados pelo Público em 2 de Agosto) sejam entre 40 e 60 mil. Desses, 35% auferem o Rendimento de Inserção. Ao que as estatísticas dizem, constituem 5% da população prisional.
Estes números desmentem a generalização e as conclusões empíricas do Dr. Quintino Aires, mas não deixa em todo o caso de ser preocupante, que uma etnia que representa 0,6% da população contribua com 5% dos reclusos, sem contar com os que se encontram com pena suspensa.
Mas o caso Quintino Aires, tem outra dimensão, tão ou ainda mais preocupante: A dualidade com que estas expressões públicas, do que poderia ser uma “conversa de café”, são encaradas por uma parte dos cidadãos que manifestam as suas reacções.
O facto é que perante afirmações com a matriz de “politicamente incorrectas”, surge logo uma profusão de abaixo assinados, requerimentos, pedidos de suspensão de actividade profissional, saneamento da televisão etc. etc. Não vamos opinar sobre a proporcionalidade de algumas destas queixas. Já referimos que as afirmações do Dr. Quintino Aires, não têm nenhuma base documental nem rigor e por conseguinte aconselhava o bom senso que não as tivesse feito.
Só que as reacções a declarações deste teor são também muito pouco rigorosas e carecem de mais equilíbrio de critérios.
As melhores anedotas sobre judeus são, como é sabido, escritas pelos próprios judeus. E são célebres por serem muito sarcásticas. No entanto, quando um não judeu conta uma delas, é prudente referir logo, que o autor é judeu, não vá o contador ser acusado de anti-semitismo. No entanto, se contar a mesma anedota com referência a polacos, belgas ou portugueses, não corre o risco de ser tido por xenófobo quanto a esses povos.
Podemos ouvir com facilidade em conversa de café, um cidadão de raça negra, dizer, que “os brancos só estão (por exemplo, em Angola) para explorar os pretos” e ocasionalmente, um cidadão branco, comentar noutra conversa de café, que “os pretos são uns mandriões e não querem trabalhar”. Imagine-se agora isto dito na televisão. A generalização tonta do cidadão de raça negra era logo desculpada por 400 anos de colonialismo e a atoarda, dita pelo cidadão de raça branco, era imediatamente classificada de racista.
Com o actual radicalismo islâmico, é o mesmo. Se um clérigo muçulmano prega a Jihad e incita ao ódio religioso numa mesquita na Europa, o que lhe acontece? Provavelmente nada. Se um padre católico fizer qualquer declaração que tenha um conteúdo presuntivamente anti-islâmico, é considerado um “cruzado” e se não for mudado de paróquia ou expulso, terá muita sorte.
As reacções ao caso Quintino Aires são mais um exemplo desta dualidade de critérios. Não leio tudo o que se publica, mas também não vi em lado algum, qualquer comentário critico sobre os actos de violência praticados por um grupo organizado (isso faz toda a diferença em relação ao acto duma pessoa isolada) contra os bombeiros de Campo Maior. São ambos actos censuráveis – um é eventual delito de opinião e outro é um acto de violência física - mas parece que o “alarme social” provocado pelas opiniões do Dr. Quintino Aires suplanta em muito o alarme causado pelo ataque aos bombeiros.
Muitas pessoas desconhecem, mas a estátua que simboliza a Justiça tem uma venda nos olhos, exactamente para significar que a justiça é cega. Cega no sentido em que todos são iguais perante a lei. Sejam maiorias ou minorias, homens ou mulheres, brancos, pretos, amarelos, ciganos, crentes ou não crentes.
É esse o fundamento da nossa civilização que só atingimos há menos de dois séculos, e com muito sangue e não menos lágrimas. Queremos perder isso? Às vezes parece que sim.
As afirmações do Dr. Quintino Aires não têm nenhuma base documental nem rigor, mas as reacções por elas suscitadas carecem de mais equilíbrio de critérios.
O psicólogo Dr. Quintino Aires afirmou num programa da TVI, cito o que li nos jornais, que “a etnia cigana não respeita as normas do país onde vive” e que “a maioria vive de subsídios ou trafica droga e não trabalha”. Tudo isto, a propósito da invasão com agressões, a um quartel de bombeiros em Campo Maior.
O Dr. Quintino Aires, por distracção ou porque o programa da TVI é mesmo para isso, confundiu uma “conversa de café”, com a circunstância de estar a falar para centenas de milhares de pessoas. Não é o primeiro, nem será o último.
Estima-se que os ciganos em Portugal (dados citados pelo Público em 2 de Agosto) sejam entre 40 e 60 mil. Desses, 35% auferem o Rendimento de Inserção. Ao que as estatísticas dizem, constituem 5% da população prisional.
Estes números desmentem a generalização e as conclusões empíricas do Dr. Quintino Aires, mas não deixa em todo o caso de ser preocupante, que uma etnia que representa 0,6% da população contribua com 5% dos reclusos, sem contar com os que se encontram com pena suspensa.
Mas o caso Quintino Aires, tem outra dimensão, tão ou ainda mais preocupante: A dualidade com que estas expressões públicas, do que poderia ser uma “conversa de café”, são encaradas por uma parte dos cidadãos que manifestam as suas reacções.
O facto é que perante afirmações com a matriz de “politicamente incorrectas”, surge logo uma profusão de abaixo assinados, requerimentos, pedidos de suspensão de actividade profissional, saneamento da televisão etc. etc. Não vamos opinar sobre a proporcionalidade de algumas destas queixas. Já referimos que as afirmações do Dr. Quintino Aires, não têm nenhuma base documental nem rigor e por conseguinte aconselhava o bom senso que não as tivesse feito.
Só que as reacções a declarações deste teor são também muito pouco rigorosas e carecem de mais equilíbrio de critérios.
As melhores anedotas sobre judeus são, como é sabido, escritas pelos próprios judeus. E são célebres por serem muito sarcásticas. No entanto, quando um não judeu conta uma delas, é prudente referir logo, que o autor é judeu, não vá o contador ser acusado de anti-semitismo. No entanto, se contar a mesma anedota com referência a polacos, belgas ou portugueses, não corre o risco de ser tido por xenófobo quanto a esses povos.
Podemos ouvir com facilidade em conversa de café, um cidadão de raça negra, dizer, que “os brancos só estão (por exemplo, em Angola) para explorar os pretos” e ocasionalmente, um cidadão branco, comentar noutra conversa de café, que “os pretos são uns mandriões e não querem trabalhar”. Imagine-se agora isto dito na televisão. A generalização tonta do cidadão de raça negra era logo desculpada por 400 anos de colonialismo e a atoarda, dita pelo cidadão de raça branco, era imediatamente classificada de racista.
Com o actual radicalismo islâmico, é o mesmo. Se um clérigo muçulmano prega a Jihad e incita ao ódio religioso numa mesquita na Europa, o que lhe acontece? Provavelmente nada. Se um padre católico fizer qualquer declaração que tenha um conteúdo presuntivamente anti-islâmico, é considerado um “cruzado” e se não for mudado de paróquia ou expulso, terá muita sorte.
As reacções ao caso Quintino Aires são mais um exemplo desta dualidade de critérios. Não leio tudo o que se publica, mas também não vi em lado algum, qualquer comentário critico sobre os actos de violência praticados por um grupo organizado (isso faz toda a diferença em relação ao acto duma pessoa isolada) contra os bombeiros de Campo Maior. São ambos actos censuráveis – um é eventual delito de opinião e outro é um acto de violência física - mas parece que o “alarme social” provocado pelas opiniões do Dr. Quintino Aires suplanta em muito o alarme causado pelo ataque aos bombeiros.
Muitas pessoas desconhecem, mas a estátua que simboliza a Justiça tem uma venda nos olhos, exactamente para significar que a justiça é cega. Cega no sentido em que todos são iguais perante a lei. Sejam maiorias ou minorias, homens ou mulheres, brancos, pretos, amarelos, ciganos, crentes ou não crentes.
É esse o fundamento da nossa civilização que só atingimos há menos de dois séculos, e com muito sangue e não menos lágrimas. Queremos perder isso? Às vezes parece que sim.
Mais de 500 palestinianos em prisões israelitas em greve de fome
in Diário de Notícias
Protesto começou por solidariedade a um palestiniano que cumpriu a pena total em junho mas ainda não foi libertado
Mais de 500 palestinianos detidos nas prisões israelitas estão atualmente em greve de fome, tendo iniciado o protesto nos últimos dois meses, disse à agência noticiosa espanhola EFE o presidente do Clube de Presos Palestinianos, Qadura Fares.
"Cerca de 100 deixaram de se alimentar em solidariedade com Bilal Kayed, em detenção administrativa, e mais de 400 estão em greve de fome para protestar contra as condições na prisão e os abusos que sofrem", explicou.
Bilal Kayed foi o detido que iniciou a vaga de greves de fome. Deveria ter sido libertado em junho após cumprir 14 anos de prisão, mas no dia da sua libertação ficou sob detenção administrativa e iniciou a greve de fome, que já se prolonga por 52 dias.
"A sua situação é muito perigosa. Está no Hospital de Barzalei, em Ashkelon (sul de Israel) e, segundo os médicos israelitas, pode morrer a qualquer momento. Permitiram-lhe ver o advogado, mas não a família", disse Fares.
Presos da Frente Popular de Libertação da Palestina foram entrando em greve de fome em apoio a Kayed e, semanas mais tarde, dezenas de presos foram começando também uma greve de fome contra o que consideram o agravamento das suas condições na prisão.
Segundo a organização palestiniana de ajuda aos prisioneiros Adamir, Israel tem detidos 7.000 palestinianos, dos quais mais de 700 estão sob detenção administrativa, ou seja, sem julgamento ou acusação.
Protesto começou por solidariedade a um palestiniano que cumpriu a pena total em junho mas ainda não foi libertado
Mais de 500 palestinianos detidos nas prisões israelitas estão atualmente em greve de fome, tendo iniciado o protesto nos últimos dois meses, disse à agência noticiosa espanhola EFE o presidente do Clube de Presos Palestinianos, Qadura Fares.
"Cerca de 100 deixaram de se alimentar em solidariedade com Bilal Kayed, em detenção administrativa, e mais de 400 estão em greve de fome para protestar contra as condições na prisão e os abusos que sofrem", explicou.
Bilal Kayed foi o detido que iniciou a vaga de greves de fome. Deveria ter sido libertado em junho após cumprir 14 anos de prisão, mas no dia da sua libertação ficou sob detenção administrativa e iniciou a greve de fome, que já se prolonga por 52 dias.
"A sua situação é muito perigosa. Está no Hospital de Barzalei, em Ashkelon (sul de Israel) e, segundo os médicos israelitas, pode morrer a qualquer momento. Permitiram-lhe ver o advogado, mas não a família", disse Fares.
Presos da Frente Popular de Libertação da Palestina foram entrando em greve de fome em apoio a Kayed e, semanas mais tarde, dezenas de presos foram começando também uma greve de fome contra o que consideram o agravamento das suas condições na prisão.
Segundo a organização palestiniana de ajuda aos prisioneiros Adamir, Israel tem detidos 7.000 palestinianos, dos quais mais de 700 estão sob detenção administrativa, ou seja, sem julgamento ou acusação.
Celorico de Basto ajuda famílias necessitadas
in Correio de Minho
O Banco Local de Voluntariado (BLV) de Celorico de Basto realizou recentemente uma campanha de recolha de bens alimentares. A campanha decorreu no comércio local e como habitualmente permitiu restabelecer o stock de alimentos.
O presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, Joaquim Mota e Silva, considerou as pessoas do seu concelho “sempre pautaram pela solidariedade e isso é bem notório nas campanhas promovidas e nos bens angariados. Infelizmente, ainda temos pessoas a precisar deste tipo de apoio mas estamos a actuar para que todos tenham as melhores condições de vida”.
Pedro Moura, técnico do Banco Local de Voluntariado, escolhe sempre o início de Agosto para efectuar a iniciativa devido a uma “maior afluê
ncia ao comércio com a chegada dos emigrantes”.
No entanto “temos dificuldade em conseguir voluntários para participar na campanha, visto que a sua maioria está em período de férias escolares e aproveitam para trabalhar durante o verão ou ir para fora”, lamentou Pedro Moura, realçando que se conseguiram articular para que tudo corresse da melhor forma, de modo a restabelecer o stock de bens alimentares.
Habitualmente o BLV realiza duas campanhas anuais de recolha de bens alimentares. Os bens recolhidos são, devidamente, acondicionados e atribuídos às famílias segundo critérios pré-definidos. Por norma as pessoas são encaminhadas para o BLV pela Segurança Social ou pelos técnicos de acção social das entidades locais.
O Banco Local de Voluntariado (BLV) de Celorico de Basto realizou recentemente uma campanha de recolha de bens alimentares. A campanha decorreu no comércio local e como habitualmente permitiu restabelecer o stock de alimentos.
O presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, Joaquim Mota e Silva, considerou as pessoas do seu concelho “sempre pautaram pela solidariedade e isso é bem notório nas campanhas promovidas e nos bens angariados. Infelizmente, ainda temos pessoas a precisar deste tipo de apoio mas estamos a actuar para que todos tenham as melhores condições de vida”.
Pedro Moura, técnico do Banco Local de Voluntariado, escolhe sempre o início de Agosto para efectuar a iniciativa devido a uma “maior afluê
ncia ao comércio com a chegada dos emigrantes”.
No entanto “temos dificuldade em conseguir voluntários para participar na campanha, visto que a sua maioria está em período de férias escolares e aproveitam para trabalhar durante o verão ou ir para fora”, lamentou Pedro Moura, realçando que se conseguiram articular para que tudo corresse da melhor forma, de modo a restabelecer o stock de bens alimentares.
Habitualmente o BLV realiza duas campanhas anuais de recolha de bens alimentares. Os bens recolhidos são, devidamente, acondicionados e atribuídos às famílias segundo critérios pré-definidos. Por norma as pessoas são encaminhadas para o BLV pela Segurança Social ou pelos técnicos de acção social das entidades locais.
Resposta do banco central ao “Brexit” não evita mais 250 mil desempregados
Sérgio Aníbal, in Público on-line
Banco de Inglaterra anuncia primeira descida de taxas em sete anos e volta a ligar a “máquina de imprimir dinheiro”. A economia, mesmo assim, deve travar a fundo.
Antes do referendo, Mark Carney não teve dúvidas em desempenhar o seu papel na campanha, avisando para a possível recessão que poderia resultar de uma saída do Reino Unido da UE. Agora, depois de os britânicos terem decidido mesmo assim sair, o governador do Banco de Inglaterra deixou mais um alerta, desta vez quase sob a forma de uma sentença: a de que, apesar de o banco estar disposto a ir mais longe do que nunca no estímulo monetário à economia, isso não será suficiente para evitar uma travagem a fundo no próximo ano, com cerca de 250 mil pessoas a perder o seu emprego.
A generalidade das previsões já apontava para que a autoridade monetária britânica apresentasse projecções mais pessimistas para a economia e que anunciasse novas medidas para contrariar os efeitos negativos do “Brexit”, mas Mark Carney e os seus pares fizeram mesmo questão de garantir que ninguém ficava com dúvidas quando à gravidade da situação.
O banco central anunciou medidas nunca antes vistas nos seus 322 anos de história, mas ao mesmo tempo, nas suas novas projecções (que já levam em conta os estímulos monetários agora lançados), realizou o corte mais forte desde 1993 na sua estimativa de crescimento económico, deixando ainda aberta a possibilidade de a economia entrar em recessão.
"A conjuntura económica mudou profundamente", disse Mark Carney, o canadiano que foi nomeado para liderar a autoridade monetária britânica. Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do comité de política monetária realizada nesta quinta-feira, o governador disse que os riscos que eram já identificados pela instituição antes do referendo se confirmam.
O Banco de Inglaterra reviu em baixa as suas previsões de crescimento, principalmente para o próximo ano. Se, para este ano, a estimativa de crescimento se manteve em 2%, para 2017, em vez da anterior projecção de variação do PIB de 2,3%, o banco aponta agora para apenas 0,8%. E para 2018, o ritmo volta a ser mais lento do que era previsto: 1,8% em vez de 2,3%.
O governador fez ainda questão de salientar, contudo, que estes são apenas os pontos centrais do intervalo de previsão, não excluindo a possibilidade de o país entrar em recessão.
Uma consequência do crescimento mais lento será a deterioração das condições no mercado de trabalho. O banco prevê que a taxa de desemprego suba dos 4,9% actuais para 5,5% durante os próximos dois anos, o que, de acordo com as contas de Mark Carney, corresponde ao surgimento no país de mais 250 mil desempregados.
Tudo isto acontece num cenário em que o banco central se prepara para colocar em prática medidas extraordinárias, em quatro grandes frentes. Em primeiro lugar, a taxa de juro de referência foi reduzida de 0,5% para 0,25%, um novo mínimo histórico para o Banco de Inglaterra.
A última descida de taxas realizada pela autoridade monetária britânica tinha ocorrido em Março de 2009, no auge da crise financeira. Desde aí, a opção tinha sido manter as taxas a um nível muito baixo, mas que ainda oferecia uma certa margem até ao nível zero. Agora, perante a ameaça de uma recessão, essa margem foi ainda mais reduzida.
Depois há um regresso da estratégia de “imprimir” mais dinheiro. O programa de compra de títulos de dívida pública posto em prática no auge da crise financeira internacional tinha ascendido a um total de 375 mil milhões de libras (cerca de 445 mil milhões de euros), estando parado desde 2012. Agora, o Banco de Inglaterra irá alargá-lo até aos 435 mil milhões de libras (cerca de 515 mil milhões de euros), um acréscimo de 60 mil milhões (cerca de 70 mil milhões de euros) que se destina a injectar mais liquidez na economia.
Em terceiro lugar, o Banco de Inglaterra anunciou que irá, à semelhança daquilo que foi feito pelo Banco Central Europeu, passar a comprar obrigações emitidas por empresas, num valor estimado de 10 mil milhões de libras (cerca de 11,8 mil milhões de euros), algo que nunca fez durante a crise.
Por último, o banco central anunciou ainda a criação de um novo "esquema de financiamento" para os bancos, que irá facilitar o acesso ao crédito a taxas de juro baixas do banco central, num montante total de 100 mil milhões de libras (cerca de 120 mil milhões de euros).
Ir ainda mais longe
Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, Mark Carney disse confiar que a resposta agora dada pode "reduzir a incerteza e limitar o abrandamento". Mas não quis criar ilusões. Uma das mensagens que mais repetiu, num recado claro ao Governo, foi a de que a política monetária tem os seus limites e que não vai conseguir contrariar totalmente o efeito negativo na actividade económica da decisão de saída da UE.
Questionado várias vezes sobre o que é que o Governo britânico deve fazer, Carney preferiu jogar à defesa, não dando conselhos específicos, nem ao nível da política orçamental, nem no que diz respeito à forma como deve ser negociado o “Brexit” com Bruxelas.
Mas, se é verdade que o governador deixou um apelo a que outros assumissem as suas responsabilidade, também fez questão de não deixar a imagem de estar, a partir de agora, de mãos atadas para fazer mais. Mark Carney garantiu que todas as medidas anunciadas nesta quinta-feira podem ser reforçadas, o que significa que o banco central está disposto a, se necessário, comprar mais dívida pública e empresarial e a colocar as taxas de juro a zero ou muito próximo.
Uma nova descida das taxas, que as colocaria no mínimo ainda mais coladas a zero, parece ser mesmo a opção mais óbvia no caso de o banco precisar de oferecer mais estímulos à economia. A decisão de cortar as taxas de juro foi adoptada pelos membros do comité de política monetária do Banco de Inglaterra por unanimidade e Carney revelou na conferência de imprensa que colocar as taxas a zero não é uma fronteira que não possa ser ultrapassada. Já a compra de obrigações do tesouro contou com seis votos a favor e três contra, ao passo que a compra de dívida das empresas teve oito votos a favor e um contra.
Nos mercados, as decisões do Banco de Inglaterra – e as suas novas previsões – tiveram como efeito imediato uma nova descida da libra face às outras divisas internacionais. As bolsas reagiram com grande moderação.
O Governo britânico aplaudiu o esforço do banco central para limitar os danos do “Brexit” na economia, mas entre os mais contestatários de um reforço das políticas expansionistas, a principal crítica ouvida foi a de que os aforradores acabam por sofrer perdas acentuadas. Em resposta, Mark Carney, que disse “não haver qualquer desculpa para os bancos não reflectirem a descida de taxas nos seus empréstimos”, deu a entender que, mais do que nos aforradores, esta é a altura para pensar noutro grupo: os desempregados.
Banco de Inglaterra anuncia primeira descida de taxas em sete anos e volta a ligar a “máquina de imprimir dinheiro”. A economia, mesmo assim, deve travar a fundo.
Antes do referendo, Mark Carney não teve dúvidas em desempenhar o seu papel na campanha, avisando para a possível recessão que poderia resultar de uma saída do Reino Unido da UE. Agora, depois de os britânicos terem decidido mesmo assim sair, o governador do Banco de Inglaterra deixou mais um alerta, desta vez quase sob a forma de uma sentença: a de que, apesar de o banco estar disposto a ir mais longe do que nunca no estímulo monetário à economia, isso não será suficiente para evitar uma travagem a fundo no próximo ano, com cerca de 250 mil pessoas a perder o seu emprego.
A generalidade das previsões já apontava para que a autoridade monetária britânica apresentasse projecções mais pessimistas para a economia e que anunciasse novas medidas para contrariar os efeitos negativos do “Brexit”, mas Mark Carney e os seus pares fizeram mesmo questão de garantir que ninguém ficava com dúvidas quando à gravidade da situação.
O banco central anunciou medidas nunca antes vistas nos seus 322 anos de história, mas ao mesmo tempo, nas suas novas projecções (que já levam em conta os estímulos monetários agora lançados), realizou o corte mais forte desde 1993 na sua estimativa de crescimento económico, deixando ainda aberta a possibilidade de a economia entrar em recessão.
"A conjuntura económica mudou profundamente", disse Mark Carney, o canadiano que foi nomeado para liderar a autoridade monetária britânica. Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do comité de política monetária realizada nesta quinta-feira, o governador disse que os riscos que eram já identificados pela instituição antes do referendo se confirmam.
O Banco de Inglaterra reviu em baixa as suas previsões de crescimento, principalmente para o próximo ano. Se, para este ano, a estimativa de crescimento se manteve em 2%, para 2017, em vez da anterior projecção de variação do PIB de 2,3%, o banco aponta agora para apenas 0,8%. E para 2018, o ritmo volta a ser mais lento do que era previsto: 1,8% em vez de 2,3%.
O governador fez ainda questão de salientar, contudo, que estes são apenas os pontos centrais do intervalo de previsão, não excluindo a possibilidade de o país entrar em recessão.
Uma consequência do crescimento mais lento será a deterioração das condições no mercado de trabalho. O banco prevê que a taxa de desemprego suba dos 4,9% actuais para 5,5% durante os próximos dois anos, o que, de acordo com as contas de Mark Carney, corresponde ao surgimento no país de mais 250 mil desempregados.
Tudo isto acontece num cenário em que o banco central se prepara para colocar em prática medidas extraordinárias, em quatro grandes frentes. Em primeiro lugar, a taxa de juro de referência foi reduzida de 0,5% para 0,25%, um novo mínimo histórico para o Banco de Inglaterra.
A última descida de taxas realizada pela autoridade monetária britânica tinha ocorrido em Março de 2009, no auge da crise financeira. Desde aí, a opção tinha sido manter as taxas a um nível muito baixo, mas que ainda oferecia uma certa margem até ao nível zero. Agora, perante a ameaça de uma recessão, essa margem foi ainda mais reduzida.
Depois há um regresso da estratégia de “imprimir” mais dinheiro. O programa de compra de títulos de dívida pública posto em prática no auge da crise financeira internacional tinha ascendido a um total de 375 mil milhões de libras (cerca de 445 mil milhões de euros), estando parado desde 2012. Agora, o Banco de Inglaterra irá alargá-lo até aos 435 mil milhões de libras (cerca de 515 mil milhões de euros), um acréscimo de 60 mil milhões (cerca de 70 mil milhões de euros) que se destina a injectar mais liquidez na economia.
Em terceiro lugar, o Banco de Inglaterra anunciou que irá, à semelhança daquilo que foi feito pelo Banco Central Europeu, passar a comprar obrigações emitidas por empresas, num valor estimado de 10 mil milhões de libras (cerca de 11,8 mil milhões de euros), algo que nunca fez durante a crise.
Por último, o banco central anunciou ainda a criação de um novo "esquema de financiamento" para os bancos, que irá facilitar o acesso ao crédito a taxas de juro baixas do banco central, num montante total de 100 mil milhões de libras (cerca de 120 mil milhões de euros).
Ir ainda mais longe
Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, Mark Carney disse confiar que a resposta agora dada pode "reduzir a incerteza e limitar o abrandamento". Mas não quis criar ilusões. Uma das mensagens que mais repetiu, num recado claro ao Governo, foi a de que a política monetária tem os seus limites e que não vai conseguir contrariar totalmente o efeito negativo na actividade económica da decisão de saída da UE.
Questionado várias vezes sobre o que é que o Governo britânico deve fazer, Carney preferiu jogar à defesa, não dando conselhos específicos, nem ao nível da política orçamental, nem no que diz respeito à forma como deve ser negociado o “Brexit” com Bruxelas.
Mas, se é verdade que o governador deixou um apelo a que outros assumissem as suas responsabilidade, também fez questão de não deixar a imagem de estar, a partir de agora, de mãos atadas para fazer mais. Mark Carney garantiu que todas as medidas anunciadas nesta quinta-feira podem ser reforçadas, o que significa que o banco central está disposto a, se necessário, comprar mais dívida pública e empresarial e a colocar as taxas de juro a zero ou muito próximo.
Uma nova descida das taxas, que as colocaria no mínimo ainda mais coladas a zero, parece ser mesmo a opção mais óbvia no caso de o banco precisar de oferecer mais estímulos à economia. A decisão de cortar as taxas de juro foi adoptada pelos membros do comité de política monetária do Banco de Inglaterra por unanimidade e Carney revelou na conferência de imprensa que colocar as taxas a zero não é uma fronteira que não possa ser ultrapassada. Já a compra de obrigações do tesouro contou com seis votos a favor e três contra, ao passo que a compra de dívida das empresas teve oito votos a favor e um contra.
Nos mercados, as decisões do Banco de Inglaterra – e as suas novas previsões – tiveram como efeito imediato uma nova descida da libra face às outras divisas internacionais. As bolsas reagiram com grande moderação.
O Governo britânico aplaudiu o esforço do banco central para limitar os danos do “Brexit” na economia, mas entre os mais contestatários de um reforço das políticas expansionistas, a principal crítica ouvida foi a de que os aforradores acabam por sofrer perdas acentuadas. Em resposta, Mark Carney, que disse “não haver qualquer desculpa para os bancos não reflectirem a descida de taxas nos seus empréstimos”, deu a entender que, mais do que nos aforradores, esta é a altura para pensar noutro grupo: os desempregados.
Rede Europeia Anti Pobreza contra sanções a Espanha e Portugal
in Gazeta da Beira
Rede Europeia Anti Pobreza contra sanções a Espanha e Portugal Sanções e multas são contraproducentes para a recuperação económica, geram mais pobreza e exclusão social A Rede Anti Pobreza (EAPN) manifestou-se, no início da semana, contra eventuais sanções da União Europeia (UE) a Portugal e Espanha por défice excessivo, alertando para as consequências na recuperação económica destes países.
“Estas sanções e multas são contraproducentes para a recuperação económica, geram mais pobreza e exclusão social e um maior descontentamento relativamente à UE. Nenhuma destas consequências é desejável na atual situação económica e política”, assinala o comunicado da organização.
O texto mostra também preocupação relativamente ao impacto da proposta de cortes ou congelamentos nos Fundos Estruturais.
“Tais cortes seriam prejudiciais para os programas sociais que promovem a inserção profissional e a inclusão social das pessoas mais vulneráveis”, adverte a EAPN.
A rede europeia entende que eventuais sanções das instituições comunitárias seriam uma penalização para os desempregados de longa duração e todas as pessoas que vivem em situação de pobreza e exclusão social.
“Este tipo de castigo cego, que não é capaz de contemplar o caso específico de cada Estado-membro, reprova o esforço feito e desmobiliza”, afirma o presidente da EAPN Portugal, padre Agostinho Jardim Moreira.
Para este responsável, uma Europa que, “ao invés de solidariedade, promove a pobreza”, está “muito distante dos seus fundamentos originais”.
“Necessitamos de uma Europa mais Social. Não às sanções. Não às multas”, conclui a nota.
A Rede Europeia Anti-Pobreza integra ONG’s de luta contra a pobreza, grupos de base, bem como outras organizações europeias, presente nos 28 Estados-membros da EU, é a maior rede europeia de redes nacionais, regionais e locais de ONGs, bem como de organizações europeias ativas na luta contra a pobreza.
Presidida em Portugal pelo padre Agostinho Jardim Moreira, esta ONG tem vários núcleos de ação distrital, nomeadamente em Viseu.
Rede Europeia Anti Pobreza contra sanções a Espanha e Portugal Sanções e multas são contraproducentes para a recuperação económica, geram mais pobreza e exclusão social A Rede Anti Pobreza (EAPN) manifestou-se, no início da semana, contra eventuais sanções da União Europeia (UE) a Portugal e Espanha por défice excessivo, alertando para as consequências na recuperação económica destes países.
“Estas sanções e multas são contraproducentes para a recuperação económica, geram mais pobreza e exclusão social e um maior descontentamento relativamente à UE. Nenhuma destas consequências é desejável na atual situação económica e política”, assinala o comunicado da organização.
O texto mostra também preocupação relativamente ao impacto da proposta de cortes ou congelamentos nos Fundos Estruturais.
“Tais cortes seriam prejudiciais para os programas sociais que promovem a inserção profissional e a inclusão social das pessoas mais vulneráveis”, adverte a EAPN.
A rede europeia entende que eventuais sanções das instituições comunitárias seriam uma penalização para os desempregados de longa duração e todas as pessoas que vivem em situação de pobreza e exclusão social.
“Este tipo de castigo cego, que não é capaz de contemplar o caso específico de cada Estado-membro, reprova o esforço feito e desmobiliza”, afirma o presidente da EAPN Portugal, padre Agostinho Jardim Moreira.
Para este responsável, uma Europa que, “ao invés de solidariedade, promove a pobreza”, está “muito distante dos seus fundamentos originais”.
“Necessitamos de uma Europa mais Social. Não às sanções. Não às multas”, conclui a nota.
A Rede Europeia Anti-Pobreza integra ONG’s de luta contra a pobreza, grupos de base, bem como outras organizações europeias, presente nos 28 Estados-membros da EU, é a maior rede europeia de redes nacionais, regionais e locais de ONGs, bem como de organizações europeias ativas na luta contra a pobreza.
Presidida em Portugal pelo padre Agostinho Jardim Moreira, esta ONG tem vários núcleos de ação distrital, nomeadamente em Viseu.
4.8.16
ONU cobra que comunidade internacional reconheça Holocausto dos ciganos pelos nazistas
in ONU
Ciganos também foram vítimas de detenção arbitrária, trabalho forçado e execuções em massa durante o nazismo. Especialistas da ONU alertaram que desumanização e estigmatização contra essas populações persistem até hoje sob outras formas e pediram mais proteção e garantia do direito à memória para sobreviventes e descendentes.
Na última terça-feira (2) – data que marcou o 72º aniversário do Holocausto dos ciganos, também chamado Pharrajimos, no regime nazista –, especialistas das Nações Unidas pediram à comunidade internacional que reconheça o direito à memória dessa população, ainda marginalizada atualmente.
“Sob o jugo dos nazistas, ciganos foram submetidos a detenção arbitrária, trabalho forçado e execuções em massa”, lembraram a relatora especial da ONU sobre questões de minorias, Rita Izsák-Ndiaye, e o conselheiro especial do secretário-geral para a prevenção de genocídio, Adama Dieng.
“Infelizmente, o ódio, o medo, a desumanização e a estigmatização dos ciganos ainda existem hoje sob outras formas. Ficamos tristes em ver que a violência direcionada contra indivíduos e comunidades ciganas e o preconceito perduram em muitas partes do mundo”, lamentaram.
Os especialistas alertaram que “muito ainda precisa ser feito para estabelecer o direito e a possibilidade de os ciganos lembrarem e rememorarem a data com dignidade”. A relatora e o conselheiro pediram aos Estados-membros que identifiquem e preservem os túmulos e locais de despojo em massa dos corpos das vítimas, permitindo aos sobreviventes o direito à memória e ao luto.
Diante da atual onda de extremismo político e social, a relatora e o conselheiro solicitaram aos Estados-membros que adotem legislações para combater crimes de ódio.
Articular entidades a nível nacional, regional e local também foi considerado fundamental por Izsák-Ndiaye e Dieng para prevenir e erradicar violações dos direitos humanos dos ciganos.
Políticas de integração que envolvam a criação de instituições específicas e a reserva de orçamento para a proteção de ciganos foram outras das recomendações dos dois especialistas, que pediram ainda que as nações onde o Pharrajimos ocorreu tornem o dia 2 de agosto a data oficial para a memória das vítimas.
Ciganos também foram vítimas de detenção arbitrária, trabalho forçado e execuções em massa durante o nazismo. Especialistas da ONU alertaram que desumanização e estigmatização contra essas populações persistem até hoje sob outras formas e pediram mais proteção e garantia do direito à memória para sobreviventes e descendentes.
Na última terça-feira (2) – data que marcou o 72º aniversário do Holocausto dos ciganos, também chamado Pharrajimos, no regime nazista –, especialistas das Nações Unidas pediram à comunidade internacional que reconheça o direito à memória dessa população, ainda marginalizada atualmente.
“Sob o jugo dos nazistas, ciganos foram submetidos a detenção arbitrária, trabalho forçado e execuções em massa”, lembraram a relatora especial da ONU sobre questões de minorias, Rita Izsák-Ndiaye, e o conselheiro especial do secretário-geral para a prevenção de genocídio, Adama Dieng.
“Infelizmente, o ódio, o medo, a desumanização e a estigmatização dos ciganos ainda existem hoje sob outras formas. Ficamos tristes em ver que a violência direcionada contra indivíduos e comunidades ciganas e o preconceito perduram em muitas partes do mundo”, lamentaram.
Os especialistas alertaram que “muito ainda precisa ser feito para estabelecer o direito e a possibilidade de os ciganos lembrarem e rememorarem a data com dignidade”. A relatora e o conselheiro pediram aos Estados-membros que identifiquem e preservem os túmulos e locais de despojo em massa dos corpos das vítimas, permitindo aos sobreviventes o direito à memória e ao luto.
Diante da atual onda de extremismo político e social, a relatora e o conselheiro solicitaram aos Estados-membros que adotem legislações para combater crimes de ódio.
Articular entidades a nível nacional, regional e local também foi considerado fundamental por Izsák-Ndiaye e Dieng para prevenir e erradicar violações dos direitos humanos dos ciganos.
Políticas de integração que envolvam a criação de instituições específicas e a reserva de orçamento para a proteção de ciganos foram outras das recomendações dos dois especialistas, que pediram ainda que as nações onde o Pharrajimos ocorreu tornem o dia 2 de agosto a data oficial para a memória das vítimas.
Parlamento propõe ao Governo medidas para combater pobreza infantil
in Público on-line
O Parlamento recomendou ao Governo várias medidas de combate à pobreza infantil, como a criação de um "programa extraordinário" para combater o flagelo e o apoio no acesso à educação em "condições de qualidade e igualdade".
Em 2014, 24,8% das crianças e jovens estavam em risco de pobreza, segundo o último Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Instituto Nacional de Estatística (INE), realizado em 2015 sobre rendimentos do ano anterior.
Para combater esta situação, a Assembleia da República propõe ao Governo, numa resolução publicada hoje em Diário da República, que elabore anualmente e apresente ao Parlamento um relatório sobre a situação da infância em Portugal, com destaque para a análise dos indicadores de pobreza infantil.
Outras medidas propostas pelo Parlamento passam pela realização de um estudo sobre "a realidade atual e as dimensões do trabalho infantil em Portugal, com vista à plena erradicação deste flagelo" e pelo desenvolvimento de "políticas integradas, visando a garantia do bem -estar social da criança".
"Definir metas, instrumentos, dispositivos e ações específicas direcionadas para a inclusão social das crianças", identificar linhas de intervenção sobre as condições estruturais de que resulta a exclusão social e a pobreza dos menores e a assegurar crianças melhores condições habitacionais, são outras das medidas propostas na resolução, assinada pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.
No Diário da República foi hoje igualmente publicada uma resolução do Parlamento a recomendar ao Governo que dê continuidade e conclua o processo de identificação e remoção integral do amianto em edifícios, instalações e equipamentos onde sejam prestados serviços públicos.
Na recomendação é ainda proposto ao Executivo que estabeleça prioridades e calendarize as ações necessárias para prevenir e controlar os riscos para a saúde humana e para o ambiente que advêm da utilização de materiais contendo amianto em edifícios públicos e apresente uma estimativa financeira do investimento a realizar para proceder a estas ações.
Foi também publicada hoje em Diário da República uma outra recomendação ao Governo para legislar no sentido de tornar obrigatória a inspeção periódica para os tratores que circulem na via pública, bem como a instalação de arco de proteção em todos os tratores anteriores a 1994.
Propõe ainda que promova ações de formação sobre condução e operação de tratores, número máximo de horas de trabalho e carga máxima que cada equipamento pode transportar ou rebocar, no âmbito das medidas de aconselhamento agrícola do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020).
Nos primeiros cinco meses do ano, a GNR registou 28 mortos e 12 feridos graves devido a acidentes com tratores agrícolas.
O Parlamento recomendou ao Governo várias medidas de combate à pobreza infantil, como a criação de um "programa extraordinário" para combater o flagelo e o apoio no acesso à educação em "condições de qualidade e igualdade".
Em 2014, 24,8% das crianças e jovens estavam em risco de pobreza, segundo o último Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Instituto Nacional de Estatística (INE), realizado em 2015 sobre rendimentos do ano anterior.
Para combater esta situação, a Assembleia da República propõe ao Governo, numa resolução publicada hoje em Diário da República, que elabore anualmente e apresente ao Parlamento um relatório sobre a situação da infância em Portugal, com destaque para a análise dos indicadores de pobreza infantil.
Outras medidas propostas pelo Parlamento passam pela realização de um estudo sobre "a realidade atual e as dimensões do trabalho infantil em Portugal, com vista à plena erradicação deste flagelo" e pelo desenvolvimento de "políticas integradas, visando a garantia do bem -estar social da criança".
"Definir metas, instrumentos, dispositivos e ações específicas direcionadas para a inclusão social das crianças", identificar linhas de intervenção sobre as condições estruturais de que resulta a exclusão social e a pobreza dos menores e a assegurar crianças melhores condições habitacionais, são outras das medidas propostas na resolução, assinada pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.
No Diário da República foi hoje igualmente publicada uma resolução do Parlamento a recomendar ao Governo que dê continuidade e conclua o processo de identificação e remoção integral do amianto em edifícios, instalações e equipamentos onde sejam prestados serviços públicos.
Na recomendação é ainda proposto ao Executivo que estabeleça prioridades e calendarize as ações necessárias para prevenir e controlar os riscos para a saúde humana e para o ambiente que advêm da utilização de materiais contendo amianto em edifícios públicos e apresente uma estimativa financeira do investimento a realizar para proceder a estas ações.
Foi também publicada hoje em Diário da República uma outra recomendação ao Governo para legislar no sentido de tornar obrigatória a inspeção periódica para os tratores que circulem na via pública, bem como a instalação de arco de proteção em todos os tratores anteriores a 1994.
Propõe ainda que promova ações de formação sobre condução e operação de tratores, número máximo de horas de trabalho e carga máxima que cada equipamento pode transportar ou rebocar, no âmbito das medidas de aconselhamento agrícola do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020).
Nos primeiros cinco meses do ano, a GNR registou 28 mortos e 12 feridos graves devido a acidentes com tratores agrícolas.
Michael Kors lança pulseiras solidárias para ajudar na luta contra a fome
Por Life&Style
O criador norte-americano quer distribuir 13 milhões de refeições a crianças carenciadas.
Michael Kors, criador de moda norte-americano e Embaixador Global Contra a Fome das Nações Unidas desde 2015, apresenta, pelo quarto ano consecutivo, o seu projecto de solidariedade Watch Hunger Stop, que envolve o lançamento de acessórios de edição limitada, onde uma parte das vendas reverte a favor do World Food Programme da ONU.
“A fome é um problema complicado mas a verdade simples é que se trabalharmos juntos conseguimos solucioná-lo”, disse o criador, que pôs à venda dois modelos (um feminino, outro masculino) de uma pulseira monitorizadora de actividade – a pulseira mede passos e distâncias percorridas, calorias queimadas ou horas de sono e liga-se aos smartphones com sistema iOS ou Android. Por cada pulseira vendida, serão entregues cem refeições.
Kors convida os consumidores a irem a uma loja da marca vestir uma t-shirt, tirar uma fotografia e partilhá-la com uma hashtag criada propositadamente para a campanha – por cada uma destas partilhas, 25 refeições são doadas ao World Food Programme.
A protagonista da campanha é a actriz Kate Hudson, que lembra que "todos somos responsáveis por nos certificarmos que as crianças do mundo crescem saudáveis, felizes, fortes e educadas. Tudo isso começa com a erradicação da fome”.
As peças vão estar à venda no site da Michael Kors e a campanha termina a 16 de Outubro, Dia Mundial da Alimentação.
O criador norte-americano quer distribuir 13 milhões de refeições a crianças carenciadas.
Michael Kors, criador de moda norte-americano e Embaixador Global Contra a Fome das Nações Unidas desde 2015, apresenta, pelo quarto ano consecutivo, o seu projecto de solidariedade Watch Hunger Stop, que envolve o lançamento de acessórios de edição limitada, onde uma parte das vendas reverte a favor do World Food Programme da ONU.
“A fome é um problema complicado mas a verdade simples é que se trabalharmos juntos conseguimos solucioná-lo”, disse o criador, que pôs à venda dois modelos (um feminino, outro masculino) de uma pulseira monitorizadora de actividade – a pulseira mede passos e distâncias percorridas, calorias queimadas ou horas de sono e liga-se aos smartphones com sistema iOS ou Android. Por cada pulseira vendida, serão entregues cem refeições.
Kors convida os consumidores a irem a uma loja da marca vestir uma t-shirt, tirar uma fotografia e partilhá-la com uma hashtag criada propositadamente para a campanha – por cada uma destas partilhas, 25 refeições são doadas ao World Food Programme.
A protagonista da campanha é a actriz Kate Hudson, que lembra que "todos somos responsáveis por nos certificarmos que as crianças do mundo crescem saudáveis, felizes, fortes e educadas. Tudo isso começa com a erradicação da fome”.
As peças vão estar à venda no site da Michael Kors e a campanha termina a 16 de Outubro, Dia Mundial da Alimentação.
Parlamento propõe campanha de divulgação do complemento solidário para idosos
in Público on-line
Regras de acesso à prestação social vão estar em cartazes e folhetos.
A Assembleia da República recomendou hoje ao Governo que realize uma campanha pública de divulgação do Complemento Solidário para Idosos (CSI), para garantir que todos os pensionistas que necessitam tenham acesso a esta prestação social.
A recomendação, publicada hoje em Diário da República, refere que a campanha deverá decorrer em todo o país e assegurar informação sobre quem pode beneficiar da prestação, as regras de acesso, os documentos exigidos e os locais onde o requerimento pode ser apresentado.
Segundo a resolução, a campanha deve garantir que “todos os pensionistas da segurança social com pensões abaixo do valor de referência do CSI”, e que não sejam ainda beneficiários desta prestação, recebam toda a informação sobre o complemento solidário.
Além de informação escrita, através de cartazes e folhetos, a campanha deve incluir outros meios que possam chegar a todos os potenciais beneficiários, como a rádio e a televisão pública.
A resolução, assinada pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, propõe ainda que se seja estabelecido um protocolo de cooperação com a Guarda Nacional Republicana, para que “a próxima operação ‘Censos Sénior’ possa constituir-se como veículo de divulgação do CSI”.
Os últimos dados do Instituto da Segurança apontam um decréscimo no número de beneficiários do Complemento Solidário para Idosos em junho, totalizando 160.768 beneficiários, menos 622 face ao mês anterior.
Apesar das duas alterações legislativas no valor de referência anual (em janeiro passou para os 5.022 euros e, em abril, pelo Orçamento do Estado, passou para os 5.059 euros), o número de beneficiários continua a diminuir.
Segundo o Gabinete de Estratégia e Planeamento, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, esta situação deve-se ao facto de o regresso à medida não ser feito de modo automático, implicando que os beneficiários voltem a requerer o complemento.
Por outro lado, “as alterações dos agregados familiares, designadamente o direito à pensão de sobrevivência por morte do cônjuge, vão afastando os beneficiários que deixaram de ser elegíveis por alteração dos seus rendimentos”, explica o gabinete na “Síntese de informação estatística da Segurança Social”.
Regras de acesso à prestação social vão estar em cartazes e folhetos.
A Assembleia da República recomendou hoje ao Governo que realize uma campanha pública de divulgação do Complemento Solidário para Idosos (CSI), para garantir que todos os pensionistas que necessitam tenham acesso a esta prestação social.
A recomendação, publicada hoje em Diário da República, refere que a campanha deverá decorrer em todo o país e assegurar informação sobre quem pode beneficiar da prestação, as regras de acesso, os documentos exigidos e os locais onde o requerimento pode ser apresentado.
Segundo a resolução, a campanha deve garantir que “todos os pensionistas da segurança social com pensões abaixo do valor de referência do CSI”, e que não sejam ainda beneficiários desta prestação, recebam toda a informação sobre o complemento solidário.
Além de informação escrita, através de cartazes e folhetos, a campanha deve incluir outros meios que possam chegar a todos os potenciais beneficiários, como a rádio e a televisão pública.
A resolução, assinada pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, propõe ainda que se seja estabelecido um protocolo de cooperação com a Guarda Nacional Republicana, para que “a próxima operação ‘Censos Sénior’ possa constituir-se como veículo de divulgação do CSI”.
Os últimos dados do Instituto da Segurança apontam um decréscimo no número de beneficiários do Complemento Solidário para Idosos em junho, totalizando 160.768 beneficiários, menos 622 face ao mês anterior.
Apesar das duas alterações legislativas no valor de referência anual (em janeiro passou para os 5.022 euros e, em abril, pelo Orçamento do Estado, passou para os 5.059 euros), o número de beneficiários continua a diminuir.
Segundo o Gabinete de Estratégia e Planeamento, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, esta situação deve-se ao facto de o regresso à medida não ser feito de modo automático, implicando que os beneficiários voltem a requerer o complemento.
Por outro lado, “as alterações dos agregados familiares, designadamente o direito à pensão de sobrevivência por morte do cônjuge, vão afastando os beneficiários que deixaram de ser elegíveis por alteração dos seus rendimentos”, explica o gabinete na “Síntese de informação estatística da Segurança Social”.
“É terrível dizer às crianças que podem escolher o seu género”
in o Observador
Papa Francisco diz que há uma espécie de "colonização ideológica" e que o ensino da liberdade no género faz parte da teia. "Deus criou o homem e a mulher, criou o mundo só dessa forma", sublinhou.
O Papa Francisco lamenta que se ensine às crianças que podem escolher o seu género e considera que essas ideias estão dentro de uma “colonização ideológica” patrocinada por interesses. O assunto surgiu durante uma conversa com bispos da Polónia, durante a visita de Francisco a Cracóvia na semana passada. As considerações do Papa foram reveladas esta terça-feira pelo Vaticano.
Tudo começou quando o Papa falava sobre a situação dos refugiados na Europa. Dizia Francisco que o problema está na “exploração das pessoas” e que esta é a “era do pecado contra Deus, o criador”, citando o Papa Bento XVI. Francisco defendeu que a base destes problemas está numa “colonização ideológica” e a questão do género é um exemplo dessa “colonização”.
Hoje, as escolas ensinam às crianças – às crianças! – que qualquer um pode escolher seu género. Porque é que se ensina isso?”
“Deus criou o homem e a mulher, Deus criou o mundo dessa forma, só dessa forma, dessa única forma, e nós estamos a virá-lo ao contrário. Estava a falar com o Papa Bento XVI, que está bem de saúde, tem uma mente aberta, e às tantas ele diz-me: ‘Santo Deus, esta é a época do pecado contra Deus, o criador’. Ele tem razão! É inteligente”, disse o atual líder da Igreja Católica aos bispos polacos. Francisco acrescentou, nota a Associated Press: “Estamos a viver uma época de aniquilação do homem como imagem de Deus”
As declarações podem surpreender, visto que o Papa Francisco já recebeu um transexual e a namorada no Vaticano. “Deus aceita-te como és. Deus quer bem a todos os seus filhos”, disse ao cidadão espanhol, quando lhe telefonou para o convidar a visitar o Vaticano. Em junho, o Papa considerou também que a Igreja devia “pedir desculpa aos homossexuais” que tenha ofendido e meses antes, quando questionado sobre a aceitação da homossexualidade, respondeu: “Quem sou eu para julgar?”
A tal “colonização ideológica” que referiu vê-se em “diferentes países com influência” e é suportada por “pessoas e instituições que dão dinheiro” para a manter, sendo que o responsável não especificou a que países, pessoas e organizações se referia. Disse apenas que as escolas ensinam aos mais novos que cada um pode escolher o seu género “porque os livros são daquelas pessoas e instituições que dão dinheiro. E isso é terrível”, sublinhou.
Papa Francisco diz que há uma espécie de "colonização ideológica" e que o ensino da liberdade no género faz parte da teia. "Deus criou o homem e a mulher, criou o mundo só dessa forma", sublinhou.
O Papa Francisco lamenta que se ensine às crianças que podem escolher o seu género e considera que essas ideias estão dentro de uma “colonização ideológica” patrocinada por interesses. O assunto surgiu durante uma conversa com bispos da Polónia, durante a visita de Francisco a Cracóvia na semana passada. As considerações do Papa foram reveladas esta terça-feira pelo Vaticano.
Tudo começou quando o Papa falava sobre a situação dos refugiados na Europa. Dizia Francisco que o problema está na “exploração das pessoas” e que esta é a “era do pecado contra Deus, o criador”, citando o Papa Bento XVI. Francisco defendeu que a base destes problemas está numa “colonização ideológica” e a questão do género é um exemplo dessa “colonização”.
Hoje, as escolas ensinam às crianças – às crianças! – que qualquer um pode escolher seu género. Porque é que se ensina isso?”
“Deus criou o homem e a mulher, Deus criou o mundo dessa forma, só dessa forma, dessa única forma, e nós estamos a virá-lo ao contrário. Estava a falar com o Papa Bento XVI, que está bem de saúde, tem uma mente aberta, e às tantas ele diz-me: ‘Santo Deus, esta é a época do pecado contra Deus, o criador’. Ele tem razão! É inteligente”, disse o atual líder da Igreja Católica aos bispos polacos. Francisco acrescentou, nota a Associated Press: “Estamos a viver uma época de aniquilação do homem como imagem de Deus”
As declarações podem surpreender, visto que o Papa Francisco já recebeu um transexual e a namorada no Vaticano. “Deus aceita-te como és. Deus quer bem a todos os seus filhos”, disse ao cidadão espanhol, quando lhe telefonou para o convidar a visitar o Vaticano. Em junho, o Papa considerou também que a Igreja devia “pedir desculpa aos homossexuais” que tenha ofendido e meses antes, quando questionado sobre a aceitação da homossexualidade, respondeu: “Quem sou eu para julgar?”
A tal “colonização ideológica” que referiu vê-se em “diferentes países com influência” e é suportada por “pessoas e instituições que dão dinheiro” para a manter, sendo que o responsável não especificou a que países, pessoas e organizações se referia. Disse apenas que as escolas ensinam aos mais novos que cada um pode escolher o seu género “porque os livros são daquelas pessoas e instituições que dão dinheiro. E isso é terrível”, sublinhou.
Fazer dos meus, os olhos de amigos e conhecidos
Rita Moreira da Silva, in iOnline
Depois de já ter passado pelos campos de Dunquerque e Calais, e cansada de assistir ao drama dos refugiados a partir do sofá, Rita Moreira da Silva resolveu aproveitar as suas férias para rumar à Grécia para perceber como ajudar.
O principal motivo da minha viagem à Grécia foi fazer dos meus, os olhos de amigos e conhecidos, como forma de chamar a atenção para este drama humanitário, que embora old news, está longe de poder solucionar-se. Tendo feito voluntariado no ‘antigo’ campo de Dunquerque, o mal-afamado ‘champ de la honte’, e visitado também o campo de Calais, no norte de França, há já algum tempo que andava a remoer a possibilidade de ir à Grécia. Tal como me aconteceu quando senti necessidade de visitar os campos de refugiados no norte de França, esta incursão à Grécia tinha como objetivo, não apenas apoiar os refugiados e associações de voluntariado a trabalhar in situ, mas poder conhecer mais a fundo como funciona o sistema de obtenção de asilo estabelecido pela União Europeia para os refugiados que chegaram à Grécia antes do famigerado acordo com a Turquia, e também para aqueles que, apesar do fecho de fronteiras, continuam a chegar às ilhas helénicas, concretamente Chios e Lesbos, nos dias em que o mar o permite - a Chios chegam ainda à razão de dois a três barcos por dia, com uns 30 a 40 refugiados por Zodiac.
A decisão propriamente dita de fazer esta viagem tomei-a em Barcelona, em abril, quando à conversa com uma amiga de longa data, a Lali, nos apercebemos que ambas tínhamos a mesma inquietude. Deu-se a coincidência de que uns amigos da Lali estariam a navegar o mar Egeo durante os três meses de verão e, com o apoio da minha família, apontámos agulhas para sair assim que terminasse o ano escolar dos meus filhos - o que, na escola pública inglesa, ocorre normalmente por volta da última semana de julho. Devo dizer que os meus filhos estão habituados a que a mamã e o papá viajem por trabalho, e sabem que em casa somos pró-refugiados. Por isso a minha viagem à Grécia não causou nenhum problema. Muito pelo contrário, implicaram-se de corpo e alma nas atividades que levámos a cabo nos meses precedentes para recolher doações.
A um par de semanas da data de saída, procurei estabelecer contacto com pessoas individuais ou organizações e foi assim que conheci o Norman, um americano que se reformou recentemente e decidiu vir viver para a Europa na primavera, mais precisamente para a Holanda. Tendo acompanhado um grupo holandês numa missão de voluntariado a Atenas, não mais deixou este país e faz voluntariado diariamente no campo Skaramagas, gerido pelo exército grego, onde é responsável pela gestão do armazém. Foi ele o nosso guardião, e através dele fomos conhecendo mais voluntários e projetos em Atenas, desde o campo ilegal no porto de Piraeus, que o exército quer desmantelar proximamente, a uma escola ocupada no centro de Atenas onde vivem 400 famílias, e o próprio campo de Skaramagas, de acesso restrito mas ao qual pudemos aceder como visitantes oficiais.
Através de um outro contacto, o Ahmad, um sírio casado com uma grega, pudemos visitar uma família, a mãe e os seus quatro filhos, que vivem em regime de alojamento num apartamento providenciado por uma ONG local. Nos três dias que estivemos em Atenas, ainda conseguimos visitar o centro de distribuição gerido pela ONG Salvation Army, perto da Praça da Vitória, onde até há pouco tempo viviam muitos refugiados. Depois, de Atenas apanhámos um ferry para Chios onde nos encontrámos com os nossos amigos navegantes. Em Chios há três campos, dois de circulação livre, Souda e Dipethe, em pleno coração da cidade, e há ainda o campo militarizado de Vial para onde são levados os refugiados assim que chegam à ilha. Existe também um hotel onde se alojam 60 pessoas, principalmente mulheres consideradas mais vulneráveis (que viajam sozinhas, com ou sem filhos, e grávidas) mas também pessoas com doenças crónicas ou deficiências. Existe também uma escola para 70 crianças refugiadas e um centro diurno para ‘mulheres’ de mais de 13 anos, uma espécie de refúgio coordenado pela ONG Action from Switzerland, onde as mulheres podem acudir para relaxar, aprender inglês, praticar ioga ou apenas tomar um banho. A coordenação de todos os projetos e assistência está a cargo da associação Chios Eastern Shore Response Team (CESRT), juntamente com as associações do país - como a Salvamiento Marítimo Humanitário, que patrulha a costa este da ilha, e o projeto Zaporiak Proiektua, que diariamente prepara entre 1500 e 1700 refeições distribuídas pelos campos no centro de Chios.
Ontem deixámos a ilha rumo a Thessaloniki, ao norte da Grécia, para conhecer e apoiar o projeto Schools for Refugees, coordenado pelo professor de Direito Constitucional da Universidade de Sevilha, Pablo Urias. As ajudas económicas feitas a cada projeto que fomos conhecendo são fruto de doações feitas por amigos e desconhecidos que se sentiram sensibilizados pelos relatos que partilhámos através do evento criado no Facebook e ao qual chamámos “O Meu Casamento Grego”.
A nossa viagem ainda não terminou mas já há planos para colaborações com o CESRT, a quem propusemos vários projetos de continuação. Por isto, de volta a casa, quero estabelecer contacto com programadores informáticos solidários, para iniciar um projeto cuja fase piloto terá lugar em Chios. Espero poder regressar a esta ilha em outubro já com a primeira versão de uma app que possa ajudar.
Cansada mas de coração cheio, levo comigo a recordação de todos os voluntários fantásticos que tive o privilégio de conhecer e, claro, os refugiados, principalmente as crianças a quem a inocência foi roubada, vítimas do terrorismo e de conflitos armados. No entanto, há duas famílias que me tocaram especialmente, e a quem prometi não perder de vista. É na casa de uma delas que nos alojaremos na nossa última noite em Atenas, a pedido da própria família, o que nos sensibilizou enormemente. #spreadlovenothatred
Depois de já ter passado pelos campos de Dunquerque e Calais, e cansada de assistir ao drama dos refugiados a partir do sofá, Rita Moreira da Silva resolveu aproveitar as suas férias para rumar à Grécia para perceber como ajudar.
O principal motivo da minha viagem à Grécia foi fazer dos meus, os olhos de amigos e conhecidos, como forma de chamar a atenção para este drama humanitário, que embora old news, está longe de poder solucionar-se. Tendo feito voluntariado no ‘antigo’ campo de Dunquerque, o mal-afamado ‘champ de la honte’, e visitado também o campo de Calais, no norte de França, há já algum tempo que andava a remoer a possibilidade de ir à Grécia. Tal como me aconteceu quando senti necessidade de visitar os campos de refugiados no norte de França, esta incursão à Grécia tinha como objetivo, não apenas apoiar os refugiados e associações de voluntariado a trabalhar in situ, mas poder conhecer mais a fundo como funciona o sistema de obtenção de asilo estabelecido pela União Europeia para os refugiados que chegaram à Grécia antes do famigerado acordo com a Turquia, e também para aqueles que, apesar do fecho de fronteiras, continuam a chegar às ilhas helénicas, concretamente Chios e Lesbos, nos dias em que o mar o permite - a Chios chegam ainda à razão de dois a três barcos por dia, com uns 30 a 40 refugiados por Zodiac.
A decisão propriamente dita de fazer esta viagem tomei-a em Barcelona, em abril, quando à conversa com uma amiga de longa data, a Lali, nos apercebemos que ambas tínhamos a mesma inquietude. Deu-se a coincidência de que uns amigos da Lali estariam a navegar o mar Egeo durante os três meses de verão e, com o apoio da minha família, apontámos agulhas para sair assim que terminasse o ano escolar dos meus filhos - o que, na escola pública inglesa, ocorre normalmente por volta da última semana de julho. Devo dizer que os meus filhos estão habituados a que a mamã e o papá viajem por trabalho, e sabem que em casa somos pró-refugiados. Por isso a minha viagem à Grécia não causou nenhum problema. Muito pelo contrário, implicaram-se de corpo e alma nas atividades que levámos a cabo nos meses precedentes para recolher doações.
A um par de semanas da data de saída, procurei estabelecer contacto com pessoas individuais ou organizações e foi assim que conheci o Norman, um americano que se reformou recentemente e decidiu vir viver para a Europa na primavera, mais precisamente para a Holanda. Tendo acompanhado um grupo holandês numa missão de voluntariado a Atenas, não mais deixou este país e faz voluntariado diariamente no campo Skaramagas, gerido pelo exército grego, onde é responsável pela gestão do armazém. Foi ele o nosso guardião, e através dele fomos conhecendo mais voluntários e projetos em Atenas, desde o campo ilegal no porto de Piraeus, que o exército quer desmantelar proximamente, a uma escola ocupada no centro de Atenas onde vivem 400 famílias, e o próprio campo de Skaramagas, de acesso restrito mas ao qual pudemos aceder como visitantes oficiais.
Através de um outro contacto, o Ahmad, um sírio casado com uma grega, pudemos visitar uma família, a mãe e os seus quatro filhos, que vivem em regime de alojamento num apartamento providenciado por uma ONG local. Nos três dias que estivemos em Atenas, ainda conseguimos visitar o centro de distribuição gerido pela ONG Salvation Army, perto da Praça da Vitória, onde até há pouco tempo viviam muitos refugiados. Depois, de Atenas apanhámos um ferry para Chios onde nos encontrámos com os nossos amigos navegantes. Em Chios há três campos, dois de circulação livre, Souda e Dipethe, em pleno coração da cidade, e há ainda o campo militarizado de Vial para onde são levados os refugiados assim que chegam à ilha. Existe também um hotel onde se alojam 60 pessoas, principalmente mulheres consideradas mais vulneráveis (que viajam sozinhas, com ou sem filhos, e grávidas) mas também pessoas com doenças crónicas ou deficiências. Existe também uma escola para 70 crianças refugiadas e um centro diurno para ‘mulheres’ de mais de 13 anos, uma espécie de refúgio coordenado pela ONG Action from Switzerland, onde as mulheres podem acudir para relaxar, aprender inglês, praticar ioga ou apenas tomar um banho. A coordenação de todos os projetos e assistência está a cargo da associação Chios Eastern Shore Response Team (CESRT), juntamente com as associações do país - como a Salvamiento Marítimo Humanitário, que patrulha a costa este da ilha, e o projeto Zaporiak Proiektua, que diariamente prepara entre 1500 e 1700 refeições distribuídas pelos campos no centro de Chios.
Ontem deixámos a ilha rumo a Thessaloniki, ao norte da Grécia, para conhecer e apoiar o projeto Schools for Refugees, coordenado pelo professor de Direito Constitucional da Universidade de Sevilha, Pablo Urias. As ajudas económicas feitas a cada projeto que fomos conhecendo são fruto de doações feitas por amigos e desconhecidos que se sentiram sensibilizados pelos relatos que partilhámos através do evento criado no Facebook e ao qual chamámos “O Meu Casamento Grego”.
A nossa viagem ainda não terminou mas já há planos para colaborações com o CESRT, a quem propusemos vários projetos de continuação. Por isto, de volta a casa, quero estabelecer contacto com programadores informáticos solidários, para iniciar um projeto cuja fase piloto terá lugar em Chios. Espero poder regressar a esta ilha em outubro já com a primeira versão de uma app que possa ajudar.
Cansada mas de coração cheio, levo comigo a recordação de todos os voluntários fantásticos que tive o privilégio de conhecer e, claro, os refugiados, principalmente as crianças a quem a inocência foi roubada, vítimas do terrorismo e de conflitos armados. No entanto, há duas famílias que me tocaram especialmente, e a quem prometi não perder de vista. É na casa de uma delas que nos alojaremos na nossa última noite em Atenas, a pedido da própria família, o que nos sensibilizou enormemente. #spreadlovenothatred
3.8.16
Bebés à venda nas ruas, a realidade que o governo iraniano tentou esconder
in Diário de Notícias
Várias mulheres em situação de pobreza extrema ou dependentes de drogas vendem os filhos no Irão
Em Teerão, capital do Irão, o preço de um bebé varia entre mil e 1500 euros. O procedimento normal é negociar com uma mulher grávida que esteja na miséria, encontrada na parte pobre da cidade, acompanhá-la ao hospital no dia do parto e ficar com a criança mal ela nasça.
"O pessoal do hospital sabe, mas prefere que o bebé vá para casa com a família [que o comprou] do que com uma mãe que não poderá cuidar dele em nenhum caso", explica Leyla ao jornal espanhol El Mundo.
Leyla é voluntária de uma organização não-governamental que apoia crianças e mulheres no Irão e convive diariamente com o lado mais feio da cidade, onde reinam as drogas e a miséria.
"As mulheres estão desesperadas", afirma ao El Mundo. "Não conseguem sequer alimentar-se a si próprias e quando engravidam sabem que não podem cuidar dos bebés, por isso aceitam vendê-los".
Foi o caso de Zahra, de 25 anos. A jovem é filha de pais toxicodependentes e cresceu no meio das drogas. Começou a consumir ópio e ecstasy cedo e perdeu o controlo, ficando várias vezes à beira da morte.
Uma manhã, Zahra vendeu o seu bebé no mesmo parque onde tinha passado a noite, ao relento.
No Irão, esta situação é mais comum do que parece. O governo tem feito um grande esforço para esconder esta realidade, segundo o El Mundo, mas assumiu recentemente o problema e prometeu ajudar a combatê-lo.
Tanto a vice-ministra do governo, Shahindokht Molaverdi, como a responsável pelos assuntos sociais de Teerão se comprometeram publicamente a ajudar estas mulheres e a combater a prática.
A vice-ministra defendeu, há algumas semanas, que o agravamento da "pobreza económica e cultural, as drogas, a falta de habitação e os casamentos precoces são algumas das razões que explicam porque algumas mulheres se vêm forçadas a vender os filhos ainda antes de eles nascerem".
A vice-ministra afirmou ainda que há muitos casos, apesar de não existirem dados oficiais.
Os compradores muitas vezes são famílias que não conseguem ter filhos e que vão para as zonas pobres da cidade, como Shoosh ou Khate-Sefid, à procura de crianças ou mulheres grávidas desesperadas. Estes são os que pagam mais.
Os traficantes também compram crianças, para as obrigarem a trabalhar como vendedoras de rua desde os três anos e pagam menos. O filho de Zahra custou 50 euros, o que provavelmente quer dizer que foi comprado por um destes homens, segundo Leyla.
Leyla não critica completamente a venda de bebés a famílias com melhores condições porque, para si, o destino do filho de um toxicodependente é demasiado triste. "Os meninos passam mais de 12 horas a trabalhar nas ruas, a vender panos e postais para as mães comprarem droga", explica. Muitos deles acabam por se tornarem também viciados em drogas.
Esse foi o destino de Sepideh. Filha de pai toxicodependente, a mulher de 30 anos começou a consumir aos 12 anos e ficou viciada, tal como a irmã.
Um dia, à porta de uma mesquita, uma senhora ofereceu-se para comprar o filho de Sepideh e a irmã vendeu-o por 500 euros. "A minha irmã estava ali com o meu filho nos braços", diz Sepideh a chorar, enquanto conta que até hoje não voltou a encontrar o filho.
A organização onde Leyla trabalha tenta mudar a vida destas crianças, colocando-as na escola, enquanto ajuda as mães.
O Irão está na linha do tráfico de drogas, entre o Afeganistão, o maior produtor mundial de ópio, o Paquistão e a Europa, por isso o número de narcóticos que entram e circulam no país e o número de toxicodependentes é bastante elevado, segundo a agência contra drogas e crimes das Nações Unidas.
Várias mulheres em situação de pobreza extrema ou dependentes de drogas vendem os filhos no Irão
Em Teerão, capital do Irão, o preço de um bebé varia entre mil e 1500 euros. O procedimento normal é negociar com uma mulher grávida que esteja na miséria, encontrada na parte pobre da cidade, acompanhá-la ao hospital no dia do parto e ficar com a criança mal ela nasça.
"O pessoal do hospital sabe, mas prefere que o bebé vá para casa com a família [que o comprou] do que com uma mãe que não poderá cuidar dele em nenhum caso", explica Leyla ao jornal espanhol El Mundo.
Leyla é voluntária de uma organização não-governamental que apoia crianças e mulheres no Irão e convive diariamente com o lado mais feio da cidade, onde reinam as drogas e a miséria.
"As mulheres estão desesperadas", afirma ao El Mundo. "Não conseguem sequer alimentar-se a si próprias e quando engravidam sabem que não podem cuidar dos bebés, por isso aceitam vendê-los".
Foi o caso de Zahra, de 25 anos. A jovem é filha de pais toxicodependentes e cresceu no meio das drogas. Começou a consumir ópio e ecstasy cedo e perdeu o controlo, ficando várias vezes à beira da morte.
Uma manhã, Zahra vendeu o seu bebé no mesmo parque onde tinha passado a noite, ao relento.
No Irão, esta situação é mais comum do que parece. O governo tem feito um grande esforço para esconder esta realidade, segundo o El Mundo, mas assumiu recentemente o problema e prometeu ajudar a combatê-lo.
Tanto a vice-ministra do governo, Shahindokht Molaverdi, como a responsável pelos assuntos sociais de Teerão se comprometeram publicamente a ajudar estas mulheres e a combater a prática.
A vice-ministra defendeu, há algumas semanas, que o agravamento da "pobreza económica e cultural, as drogas, a falta de habitação e os casamentos precoces são algumas das razões que explicam porque algumas mulheres se vêm forçadas a vender os filhos ainda antes de eles nascerem".
A vice-ministra afirmou ainda que há muitos casos, apesar de não existirem dados oficiais.
Os compradores muitas vezes são famílias que não conseguem ter filhos e que vão para as zonas pobres da cidade, como Shoosh ou Khate-Sefid, à procura de crianças ou mulheres grávidas desesperadas. Estes são os que pagam mais.
Os traficantes também compram crianças, para as obrigarem a trabalhar como vendedoras de rua desde os três anos e pagam menos. O filho de Zahra custou 50 euros, o que provavelmente quer dizer que foi comprado por um destes homens, segundo Leyla.
Leyla não critica completamente a venda de bebés a famílias com melhores condições porque, para si, o destino do filho de um toxicodependente é demasiado triste. "Os meninos passam mais de 12 horas a trabalhar nas ruas, a vender panos e postais para as mães comprarem droga", explica. Muitos deles acabam por se tornarem também viciados em drogas.
Esse foi o destino de Sepideh. Filha de pai toxicodependente, a mulher de 30 anos começou a consumir aos 12 anos e ficou viciada, tal como a irmã.
Um dia, à porta de uma mesquita, uma senhora ofereceu-se para comprar o filho de Sepideh e a irmã vendeu-o por 500 euros. "A minha irmã estava ali com o meu filho nos braços", diz Sepideh a chorar, enquanto conta que até hoje não voltou a encontrar o filho.
A organização onde Leyla trabalha tenta mudar a vida destas crianças, colocando-as na escola, enquanto ajuda as mães.
O Irão está na linha do tráfico de drogas, entre o Afeganistão, o maior produtor mundial de ópio, o Paquistão e a Europa, por isso o número de narcóticos que entram e circulam no país e o número de toxicodependentes é bastante elevado, segundo a agência contra drogas e crimes das Nações Unidas.
Famílias têm mais dinheiro disponível. Mas pouco
Vitor Martins, in Diário de Notícias
Rendimento disponível das famílias portuguesas subiu 5,7% face ao mínimo de 2014. Na OCDE aumentou 21,2%
Dinheiro não compra felicidade, mas ajuda... pelo menos a elevar os padrões de qualidade de vida. Em Portugal, de acordo com o Índice para uma Vida Melhor, realizado pela OCDE, o rendimento médio disponível líquido das famílias, ajustado per capita, é hoje de 19 882 por ano. São mais 1076 dólares (+5,7%) do que o valor de 2014, quando bateu mínimos dos últimos anos. Mas está muito longe dos 29 016 dólares da média da OCDE, onde o rendimento subiu 21,2% no mesmo período. E há uma diferença importante entre os mais ricos e os mais pobres - os 20% mais favorecidos ganham quase seis vezes mais do que os 20% menos favorecidos.
Portugal apresenta bom desempenho em apenas algumas das 11 medidas de bem-estar do Índice para uma Vida Melhor. Portugal está acima da média na habitação, segurança pessoal e qualidade do meio ambiente, mas abaixo da média no rendimento, estado de saúde, educação e emprego.
Veja-se o exemplo do emprego - 63% dos portugueses com idade entre 15 a 64 anos têm emprego remunerado. Na OCDE são 66%. Em Portugal, 10% dos empregados fazem horas extraordinárias, abaixo dos 13% da média da OCDE. Dado curioso: 13% dos homens trabalham horas extra, contra apenas 7% das mulheres.
Boa educação e qualificações ajudam a conseguir um emprego. Em Portugal, só 43% dos adultos com idades entre 25 e 64 anos concluíram o ensino médio, muito abaixo da média da OCDE (76%) e um dos menores índices entre as 34 economias mais desenvolvidas. Há mais mulheres com o ensino médio (48%) do que homens (39%). E a qualidade do sistema educativo também fica um pouco abaixo da média da OCDE - o aluno médio obteve pontuação de 488 no domínio de leitura, matemática e ciências, no Programa Avaliação de Estudante Internacional (PISA, na sigla em inglês), contra uma pontuação média de 497 na OCDE. Em Portugal, os estudantes do sexo feminino superaram o desempenho dos estudantes masculinos em dez pontos; na OCDE a diferença é de oito pontos.
Mas estamos à frente na saúde e no ambiente. A esperança de vida no nascimento, em Portugal, é de quase 81 anos, mais um ano do que na OCDE. E o nível de PM2,5 atmosféricas - partículas de poluentes do ar pequenas o suficiente para entrar e causar danos aos pulmões - é de 9,9 microgramas por metro cúbico, abaixo dos 14,05 microgramas da OCDE. Portugal apresenta também bom desempenho na qualidade da água: 89% dos portugueses estão satisfeitos com a qualidade da água, acima da média de 81% da OCDE.
São números que mostram por que é que os portugueses estão menos satisfeitos com as suas vidas. Numa escala de zero a dez, os portugueses classificam-se num nível de 5,1 quanto à satisfação com a vida que têm. É a taxa mais baixa da OCDE, cuja média é de 6,5.
Rendimento disponível das famílias portuguesas subiu 5,7% face ao mínimo de 2014. Na OCDE aumentou 21,2%
Dinheiro não compra felicidade, mas ajuda... pelo menos a elevar os padrões de qualidade de vida. Em Portugal, de acordo com o Índice para uma Vida Melhor, realizado pela OCDE, o rendimento médio disponível líquido das famílias, ajustado per capita, é hoje de 19 882 por ano. São mais 1076 dólares (+5,7%) do que o valor de 2014, quando bateu mínimos dos últimos anos. Mas está muito longe dos 29 016 dólares da média da OCDE, onde o rendimento subiu 21,2% no mesmo período. E há uma diferença importante entre os mais ricos e os mais pobres - os 20% mais favorecidos ganham quase seis vezes mais do que os 20% menos favorecidos.
Portugal apresenta bom desempenho em apenas algumas das 11 medidas de bem-estar do Índice para uma Vida Melhor. Portugal está acima da média na habitação, segurança pessoal e qualidade do meio ambiente, mas abaixo da média no rendimento, estado de saúde, educação e emprego.
Veja-se o exemplo do emprego - 63% dos portugueses com idade entre 15 a 64 anos têm emprego remunerado. Na OCDE são 66%. Em Portugal, 10% dos empregados fazem horas extraordinárias, abaixo dos 13% da média da OCDE. Dado curioso: 13% dos homens trabalham horas extra, contra apenas 7% das mulheres.
Boa educação e qualificações ajudam a conseguir um emprego. Em Portugal, só 43% dos adultos com idades entre 25 e 64 anos concluíram o ensino médio, muito abaixo da média da OCDE (76%) e um dos menores índices entre as 34 economias mais desenvolvidas. Há mais mulheres com o ensino médio (48%) do que homens (39%). E a qualidade do sistema educativo também fica um pouco abaixo da média da OCDE - o aluno médio obteve pontuação de 488 no domínio de leitura, matemática e ciências, no Programa Avaliação de Estudante Internacional (PISA, na sigla em inglês), contra uma pontuação média de 497 na OCDE. Em Portugal, os estudantes do sexo feminino superaram o desempenho dos estudantes masculinos em dez pontos; na OCDE a diferença é de oito pontos.
Mas estamos à frente na saúde e no ambiente. A esperança de vida no nascimento, em Portugal, é de quase 81 anos, mais um ano do que na OCDE. E o nível de PM2,5 atmosféricas - partículas de poluentes do ar pequenas o suficiente para entrar e causar danos aos pulmões - é de 9,9 microgramas por metro cúbico, abaixo dos 14,05 microgramas da OCDE. Portugal apresenta também bom desempenho na qualidade da água: 89% dos portugueses estão satisfeitos com a qualidade da água, acima da média de 81% da OCDE.
São números que mostram por que é que os portugueses estão menos satisfeitos com as suas vidas. Numa escala de zero a dez, os portugueses classificam-se num nível de 5,1 quanto à satisfação com a vida que têm. É a taxa mais baixa da OCDE, cuja média é de 6,5.
Capicua: "Mulheres não são estimuladas para assumir posições de liderança"
Céu Neves, in Diário de Notícias
Cresceu a ouvir o que os pais ouviam, Fausto, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Zeca Afonso, etc. Depois, passou para os clássicos, para o reggae brasileiro, e só depois fez a sua incursão pelo hip hop. Mas de pop nunca gostou
Ana, Odd, Capicua ou Cap. Tanto faz. Tudo depende se está com amigos ou com pessoal dos graffiti ou do hip hop. Para todos, a rapper Ana Matos é uma das mulheres que se impôs num mundo que ainda é dos homens - o do rap
Os graffiti foram a sua primeira abordagem ao hip hop. Porque é que não optou pelo nome artístico que já tinha, Odd [ímpar]?
Muitas vezes acontece isso, as pessoas que vêm dos graffiti para o rap usam o mesmo nome, mas eu queria que fosse em português. Não fazia qualquer sentido ter um nome em inglês para a minha música. E para os graffiti escolhi Odd não só pelo seu significado, mas também pela parte gráfica. Tem um "O" e dois "d"redondinhos, o que tinha que ver com o meu estilo bubbles. E não fazia sentido trazer esse nome para o rap que queria que tivesse um significado claro, fácil de escrever. E, apesar de a palavra capicua ter origem catalã, é portuguesa e toda a gente conhece.
Como é que surgiu Capicua?
Quando comecei a fazer rap - normalmente todos os rappers escolhem um nome de código, é muito raro os que usam o nome do BI para o percurso musical - não tinha uma alcunha e acabei por escolher Capicua. Primeiro porque me chamo Ana, é um palíndromo e há essa ideia de ser uma capicua [palavras ou números que se leem da mesma maneira tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita]. E eu gosto muito das palavras compostas e capicua vem do catalão cap e cua, o que significa cabeça e cauda. É um pouco a ideia de cobra de rabo na boca e achei muito pictórico, tem essa ideia do eterno retorno, o final que ao mesmo tempo é um recomeço. Achei que era otimista e soava bem e ficou.
E sobrepôs-se ao seu nome, mesmo fora do palco.
Depende. A minha família e os amigos que me conhecem antes do rap continuam a chamar-me Ana. O pessoal mais ligado à comunidade hip hop chama-me Capicua ou Cap.
"Sou eclética nos meus gostos, mas sempre tive mais o pezinho na música negra"
Ouvia música de intervenção, depois reggae, como é que chegou ao hip hop?
Em miúda ouvia o que os meus pais ouviam, os cantautores de Abril, todo esse património musical que marcou muito a minha geração. Nasci nos anos 1980, esta geração é filha de pessoas que viveram intensamente o 25 de Abril, o PREC, e que gostavam muito desses cantautores. Ouvia muito Fausto, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Zeca Afonso, etc. Quando comecei a escolher a minha música e, até pelo que se ouvia no meu liceu, comecei a ouvir reggae, não só os clássicos como outros músicos, nomeadamente reggae brasileiro. Foi o meu primeiro contacto com a música negra e, de facto, a minha incursão no hip hop antes de ser musical foi pelos graffiti.
Isso depois da adolescência?
Sim, também tem que ver com a década de 1990 e com as minhas primeiras manifestações. Comecei a interessar-me pelos graffiti, a dar-me cada vez mais com as pessoas que os faziam e, como os graffiti fazem parte dessa comunidade maior que é o hip hop, a ir às festas e a ouvir as primeiras bandas do Porto, como os Dialema, os Mind Da Gap. E havia o Comix às quintas-feiras onde nos juntávamos, éramos um grupo pequeno e que funcionava um bocadinho como uma tribo. Esse foi o meu percurso.
Não gostava de pop, nem em criança?
Nunca foi a minha praia. Gosto de música de uma maneira geral e sou eclética nos meus gostos, mas sempre tive mais o pezinho na música negra, na música alternativa. Nunca fui muito rockeira ou de pop, sempre gostei mais de funk, soul, hip hop, reggae, dub. Toda a música negra me diz muito, mas o que sempre me disse muito foi a música em português, embora quem ouve hip hop seja marcado pelos americanos. Também aconteceu comigo, ouvir muito os rappers americanos mas, de facto, o que me liga à música são as palavras.
Palavras em língua portuguesa.
Sim, sou apaixonada pelo Caetano Veloso, pelo Chico Buarque, mas também gosto de fado. Tanto posso ouvir os discos da Amália como logo a seguir ouvir o que se faz na minha geração, que está cheia de talentosos músicos que cantam em português e nos mais variados estilos musicais. Vivemos um momento muito rico na música portuguesa e acabo por ouvir de tudo, desde que a lírica me interesse e eu ache que seja de qualidade. Aquela coisa, "a minha pátria é a minha língua" faz muito sentido, até a nível musical. O que me alimenta são as palavras mais do que o género musical.
Quando é que começou a interessar-se pelo jogo com palavras?
Desde que aprendi a falar que tenho uma relação muito lúdica com as palavras. O meu pai - ainda hoje faz isso - gostava muito de dizer as palavras ao contrário e de declamar poemas de cor, achava muita piada. E eu, antes de aprender a escrever, gostava muito de lengalengas. Um dos meus livros favoritos acaba com uma lengalenga do macaco. Ouvia toda a história à espera do final e daquela lengalenga. Tenho recordações da primeira infância, momentos em que as palavras já eram muito estimulantes. Depois, quando fui para a escola primária, sempre foi muito claro para os meus professores e os meus pais a minha vocação para escrever. Quando havia redações, escrevia a minha e a do colega do lado e, quando era possível, pedia para as escrever em verso. Uma professora até queria publicar um poema meu no livro da segunda classe. A disciplina que gostei mais de aprender foi Língua Portuguesa.
E desenhava bem?
Sim, desde que seja desenho livre. Sou uma pessoa muito expressiva de uma maneira geral. Tenho uma inteligência seletiva, coisas que envolvam pensamento matemático nunca foram muito fáceis para mim. Se me disserem um número elevado a 35 para mim é igual a dizer que Deus existe. Acredite ou não acredite, não compreendo. Coisas que exijam muito rigor, minúcia, paciência, não gosto muito. Sempre gostei mais das coisas plásticas, intuitivas, do pensamento humano, de filosofia, literatura, línguas, e o desenho mais livre e intuitivo. E mesmo depois de deixar de fazer graffiti, hoje no meu trabalho musical, gosto de recorrer às artes plásticas. As capas dos meus discos têm ilustrações, os meus concertos são acompanhados com ilustrações ao vivo, gosto muito da estética, da imagem.
Tudo muito visual.
A minha mãe costuma contar esta história que ilustra bem essa realidade. Quando fui para o infantário teve de preencher uma ficha em que se perguntava várias coisas básicas, e uma delas era: a que é que eu gostava de brincar. A minha mãe respondeu: "Ver imagens em livros." E, de facto, é verdade. Ela tinha aquela coleção de revistas de costura que se fazia nos anos 1970/80 e eu ficava horas a ver as fotografias, os desenhos, os anúncios, as publicidades, sempre gostei disso. E mantenho a ideia de, quando tiver tempo e paciência, fazer um curso de Belas-Artes.
Mas também gostava de escrever.
Sempre gostei muito de escrever, escrever as minhas rimas, os meus poemas. E fui para um curso de Sociologia em que se escreve muito, muitos trabalhos teóricos, e gostava muito dessa parte
Como é que passou da rima para os palcos?
Uma das coisas que me afligiam quando era miúda, e que só agora comecei a perceber o porquê e fiz a ligação ao que faço, era pensar que o que escrevia não ia soar com a mesma música quando lida por outros, não ia soar com a música que imaginei ao escrever. Tinha sempre essa angústia e acho que acabei por encontrar uma forma de resolver a questão. Se eu ler os meus poemas já pode ser com a minha música.
O hip hop é uma continuação da música de intervenção que tanto ouvia na casa dos pais?
Não sei se é uma continuação, mas encontrei ali um sentido, uma familiaridade. As primeiras músicas que ouvi foram os cantautores de Abril. E, para mim, sempre foi muito claro que a música está associada à palavra, que a palavra tem um protagonismo e não surge apenas como um objeto estético. Surge como discurso, como instrumento de mudança do mundo. E quando encontro o hip hop, vejo que a palavra tem esse sentido.
Por outro lado, tem um ar de menina bem-comportada que não encaixa na imagem dos rappers.
Estou um bocadinho longe do estereótipo, mas quem conhece melhor a realidade percebe que há uma grande variedade no meio, não só de estilos como de origens sociais, geográficas, com backgrounds diferentes. E o próprio público é cada vez mais diverso. O hip hop em Portugal amadureceu pela diversidade, por se pulverizar em muitos subestilos. Há tantos subgéneros e rappers com histórias e realidades diferentes que eu não sou assim um bicho tão exótico.
"Há tantos subgéneros e realidades diferentes que eu não sou assim um bicho tão exótico"
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Alguma vez sentiu uma reação negativa por parte dos seus pares, por não corresponder a esse estereótipo?
Não, pelo contrário. O meio do hip hop é muito meritocrático. Quando mostramos trabalho, qualidade no que fazemos, os nossos pares tiram-nos o chapéu, nunca senti rejeição. Talvez tenha existido uma desconfiança inicial, mas pelo facto de ser mulher. É um meio de homens e tentavam perceber se era a sério, aquela desconfiança machista do género gosta de rap ou dos rappers. A partir do momento em se quebra essa desconfiança e se percebe que estamos ali para dar o nosso melhor, fazemos parte do grupo. E até acaba por ser mais fácil para nós, somos poucas e acabamos por ter mais visibilidade.
E fora da comunidade?
Onde senti mais o reforço desse exotismo em relação à minha pessoa foi na relação com os media, quando me abro ao público mais mainstreaming. Fazia rap mas era uma cena mais underground, a partir de 2012 com a saída do meu primeiro álbum [Capicua], percebi que o estereótipo é mesmo muito estreito. Que valorizam muito o facto de ser diferente dos outros rappers, e isso foi uma coisa que me incomodou, darem louvor à minha qualidade por ser diferente dos meus pares, o que é muito injusto. Venho dessa tribo, dessa comunidade, e devo-lhes a descoberta do meu talento e de poder viver do que mais gosto de fazer.
A Ana Matos tem um visual diferente da maioria.
Mas a ideia que as pessoas têm do rapper é muito fechada. Têm a ideia do puto do subúrbio que faz rimas contestatárias, dos graffiti, associada ao vandalismo, que é uma ideia preconceituosa e muito redutora. E mesmo que a realidade fosse só essa não seria menos importante, tinha o seu valor. É importante como forma de mensagem e de reportagem do que se passa nesses bairros. Além de que não se faz justiça à comunidade do rap em Portugal e da sua própria história. Nos anos 90 do século XX e até à primeira década do século XXI não era cool cantar em português e os rappers sempre cantaram em português. E falaram da realidade portuguesa, dos problemas que se passavam nas cidades, denunciaram as situações.
E, entretanto, apareceu mais gente e mais diversificada. Quem evoluiu mais, quem faz ou quem consome?
Os rappers também se foram profissionalizando e isso nota-se. Ainda há duas semanas, no Festival Super Rock Super Bock, houve um dia dedicado ao rap, o último, e foi aquele que esgotou. Convidei cinco mulheres para estarem comigo no palco: M7, Blaya, Blink, W-Magic, a T-Von, cantoras de gerações diferentes. A T-Von e a Blaya são mais antigas, a Blink e a W-Magic mais jovens. Foi um momento de grande emoção, do qual tenho um grande orgulho, e o público aderiu. Naquele dia, mostrou-se que não faz sentido estarmos a dividir a música em caixinhas, por critérios geográficos ou de sexo, que isso é muito desinteressante. Essa questão de que existem poucas mulheres no hip hop é verdade mas também acontece em outros géneros musicais. Mesmo no fado, as protagonistas são mulheres, mas depois toda a restante equipa é formada por homens.
A igualdade de género é uma das suas bandeiras?
Faz parte das minhas preocupações sociais e políticas. Os temas da minha agenda de causas estão sempre patentes nas minhas letras. Associo ao rap essa missão, a responsabilidade de passar a mensagem e de contribuir com a minha música para a mudança de mentalidades. E o feminismo é uma dessas causas, se calhar mais visível porque não só estão sempre nas minhas letras como na minha atitude, pelo facto de estar em cima de um palco, sendo eu própria. Sem criar uma persona, sem ser decorativa, sem pedir licença, e isso já é subversivo.
Subversivo porquê?
Não só na música como na vida em geral, as mulheres não são estimuladas para estarem em lugares de destaque, para conquistarem o espaço público, para assumirem posições de liderança, para darem opiniões, para serem desbocadas, todas características que são essenciais no rap e que estou ali a cumprir em palco e com muito orgulho. Aprendi no rap a ter orgulho em ser eu própria e faço-o com uma grande espontaneidade, o que não é aconselhável às mulheres. Algo que é tão básico como ter confiança para desenvolver os nossos talentos, se não tivermos a nossa autoestima no sítio vamos vacilar e desistir. A autoestima é a primeira coisa que se mina numa sociedade patriarcal como a nossa.
Sempre teve a autoestima no sítio ou o hip hop ajudou-a?
O hip hop ajudou, ajudou a ter essa espontaneidade, a sermos nós próprios e a estar num palco sem a ideia de que estamos ali para entreter e ser decorativas. E isso é muito libertador para uma mulher. Estou ali para fazer o meu trabalho, para fazer o que eu quero. Isso é uma coisa que aprendi no rap.
Em criança já tinha um pouco disso, contam as suas letras.
Obviamente, que desde miúda que sempre fui mais Mafalda do que Susaninha. Sempre fui de ter o espírito crítico, de questionar as coisas, de não aceitar um não como resposta. E depois há o percurso pessoal. Na adolescência, fiz trabalho associativo no SOS Racismo, militei no PSR que depois derivou no Bloco de Esquerda, toda essa escola em que os temas da igualdade de género e do feminismo estão muito presentes, o que acabou por contribuir para a minha formação pessoal e política. Também o facto de ter estudado Sociologia, uma área que desconstrói os papéis sociais, tem influência. Acaba por ser todo um bolo que contribuiu para a minha forma de ser.
Em miúda foi mais maria-rapaz ou Maria Capaz?
Sempre fui mais Maria Capaz. Gostava muito de cor-de-rosa, de coisas pirosas, de frufrus, tinha umas coisas pirosas.
Já não tem?
Às vezes dá-me um bocado para a piroseira. Cresci na década de 1980 e tudo à minha volta eram folhos, napas, ombreiras, tudo muito cor-de-rosa, arco-íris, a geração de hoje já não é tanto assim. Fiz a música Maria Capaz e dizia que era o significado de MC [termo com que se autodenominam os rappers e que quer dizer mestre-de-cerimónias], foi a minha provocação. Tem que ver com a ideia de que uma mulher para fazer rap tem de ser maria-rapaz, e eu digo: "Não. Tem de ser Maria Capaz, aliás MC quer dizer Maria Capaz." Sou eu a redefinir o significado do MC pela prática da mulher no rap. É uma brincadeira.
"A autoestima é a primeira coisa que se mina numa sociedade patriarcal como a nossa"
| Rui Oliveira / Global Imagens
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É uma rapper de causas?
Sou. As causas são importantes na minha música, mas não só. O José Mário Branco disse uma vez num debate uma coisa com a qual concordo. Há três pilares na música: a estética (o belo), a técnica (o ofício) e a ética (o que dá sentido ao trabalho da estética e da técnica).
Também foi por isso que escolheu o curso de Sociologia?
Eu queria estudar Ciência Política, mas o meu pai disse que isso afunilava muito a minha formação, que deveria escolher Sociologia, que era mais abrangente e, mais tarde, especificar. Acabei por estudar no ISCTE [Instituto Universitário de Lisboa]e gostei muito. Fiz a tese em Sociologia Urbana e depois fui para Barcelona fazer o doutoramento em Estudos Territoriais. Acabei por deixar a ciência política e não me arrependo nada. Sempre me interessei por estudos territoriais.
Porque é que diz que o hip hop não é sociológico? São observações diferentes, mas ambas da realidade.
O hip hop tem essa coisa de observar a realidade, mas é um olhar parcial no sentido em que tem pouco espaço para aquilo que a sociologia gosta de fazer e que é dar as diferentes perspetivas de um mesmo problema. E é sempre de uma grande complexidade. É nesse sentido que digo que o hip hop não é muito sociológico, é mais afirmativo. Vai procurar o que tem mais impacto emocional e vai fazê--lo de uma forma muito mais livre. Aliás, uma das críticas que fizeram ao meu trabalho musical foi que a formação se notava nas minhas rimas. Comecei a pensar nisso e cheguei à conclusão de que, se calhar, tinham razão. Se calhar tenho essas ressalvas, essa vertente de procurar as várias perspetivas e poder perder um pouco o impacto. Ando à procura da abordagem certa, para não ser redutora, para não ser simplista, e seria bom estar mais livre e não ter esse olhar tão condicionado.
Demora muito tempo para conseguir a frase perfeita?
Depende. Toda a gente no meio artístico diz isto e é bem verdade, às vezes é muito fácil ter uma música que se faz em duas horas, como Medo do Medo, que escrevi numa viagem de Intercidades Porto-Lisboa. Mas isso não quer dizer que não estivesse há semanas a pensar naquele tema e que a música não estivesse quase construída na minha cabeça. Outras vezes é uma luta, andamos a mastigar, deixamos para o dia seguinte, para reler com distanciamento, mudamos várias vezes. As duas formas são possíveis e não quer dizer que a que foi mais fácil seja pior do que a outra.
Inspiração e muito trabalho?
Sim, sim. Há um trabalho e uma técnica que se alimenta para quando a inspiração chegar termos as ferramentas na mão. É um pouco como os jogadores de futebol, muitos têm talento e não trabalham nada e outros compensam essa falta de talento com muito trabalho. Uma coisa sem a outra não existe.
Afirma que tem uma agenda política tão forte que poderia participar em campanhas eleitorais.
A única vez em que aconteceu foi na campanha do José Soeiro no Porto, mas não era só do Bloco de Esquerda. Envolvia várias organizações de independentes de esquerda e que participaram desde o início. Houve um envolvimento de todos, de grupos e subgrupos de trabalho, era um movimento de cidadãos. Toquei no evento dessa campanha e não me arrependo nada. E poderei voltar a fazê-lo se achar que aquela campanha me representa e que posso vestir a camisola, mas não é algo que seja fácil para mim. Tem de ter um grau de convicção e de afinidade que não é fácil de atingir, se fosse tinha o cartão de um partido.
Porque é que gosta tanto de escrever para fado?
Adoro, adoro escrever para fado. mas também gosto de escrever para outros géneros musicais. Do que gosto muito no fado é dessa coisa que é semelhante ao rap e que é a importância da palavra, o poema e a forma como se cospe o poema é muito semelhante. O poema não está ali para encher, é a matriz da música. Isso é o que me interessa no fado, interessa-me escrever para pessoas que valorizem o poema. E quanto mais conheço a pessoa mais fácil é escrever para ela. Atualmente, não estou a escrever só para fadistas, também para outras pessoas.
Quem?
Não posso dizer, mas vai haver surpresas.
E o contrário, escreverem para a Capicua?
Isso é impossível, porque eu não sou uma performer, não sou uma interprete, só estou ali para dizer as minhas palavras. Do que mais gosto é do momento em que estou sozinha a escrever a minha letra. Todo o trabalho de promoção, de tocar ao vivo, é para dar sentido a esse momento. Se chegasse escrever para mim, feliz da vida, mas para dar sentido ao que faço tenho de chegar às pessoas, mas esse lado é secundário. Às vezes acontece gostar muito de um poema e dizê-lo no palco, por exemplo, no meu concerto há uma parte em que declamo as palavras de Sophia de Mello Breyner e colo com o refrão da canção Liberdade do Sérgio Godinho. Mas esse momento surge como um complemento à minha música. É uma introdução para o que vem a seguir.
E o espetáculo Concerto Água e Sal em que diz outros autores?
Foi uma exceção em que fiz uma recolha de textos de vários autores portugueses sobre a água, é um espetáculo musical que fizemos para o São Luiz, e que até se calhar vamos repetir, mas estou a declamar. Outra coisa é alguém chegar ao pé de mim e dizer: "Tenho uma letra para ti", isso nunca vai acontecer. E, às vezes, há quem me ofereça letras.
Que projetos tem a curto prazo?
Duas coisas muito importantes e que irão realizar-se neste ano. Uma é um disco para crianças para sair no final de setembro, chama-se Mão Verde, com música de Pedro Geraldes e lengalengas minhas, é um disco e um livro. É um disco conceptual para crianças como motivação ecológica. Outra coisa é um concerto no CCB no dia 2 de dezembro. É a primeira vez que vou tocar com músicos ao vivo, com instrumentos, com uma banda que não tem o formato habitual do hip hop. Vai ser um alinhamento transversal aos meus discos.
Diz que não irá fazer sempre música. O que é que poderá fazer?
Muitas coisas e uma delas é agricultura, há muitos anos que tenho essa vontade de ir para um sítio mais pequeno e fazer produção agrícola, é uma possibilidade.
Mas já plantou alguma coisa?
Sim, tenho uma horta e interesso-me pela agricultura biológica, fico horas a catar ervas. Fiz um curso de permacultura e de agricultura biológica, a minha irmã tem uma produção agrícola, de groselhas. O meu hobby é a horta e a altura do ano em que é mais entusiasmante é na primavera e no verão, quando tenho mais trabalho. É frustrante.
"Álbum no meio do doutoramento foi uma estratégia de salvação"
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Como é que se faz um álbum, o Capicua, no meio de um doutoramento?
Pode parecer difícil, mas foi uma espécie de estratégia de salvação. Quando se faz um doutoramento, a nossa saúde mental sai muito comprometida, é quase como uma maratona e é preciso muita autodisciplina para se conseguir trabalhar. Estamos sozinhos e a lutar contra nós próprios, sobretudo no meu caso em que estava com uma bolsa, se não saísse da cama, ninguém sabia. E encontrei na escrita desse álbum uma espécie de recompensa ao fim do dia e, se calhar, um escape. Quando se está com uma bolsa não há férias, não há fins de semana. Mesmo quando não trabalhamos, estamos sempre com um peso na consciência. É muito cansativo. Mas não consegui acabar o álbum, só depois de concluir o doutoramento.
Não quis continuar na área da investigação?
Pensei nessa hipótese e concorri para as bolsas pós-doc. Foi na altura em que houve cortes na Ciência e acabei por não conseguir a bolsa para continuar a estudar. E no dia em que tive conhecimento que não tinha conseguido a bolsa - uma coisa quase de filme - tive uma reunião com a Valentim de Carvalho em que eles manifestaram interesse no meu trabalho e em que assinei um contrato.
Se tivesse conseguido a bolsa teria recusado a proposta para editar a sua música?
Não. Se bem me conheço teria tentado fazer as duas coisas, o que seria muito difícil. Seria complicado gerir as duas situações, recusava as oportunidades para continuar a fazer a minha música e os concertos ou ficava a investigação para trás. Na altura, também pensei que se era para viver com instabilidade, que é o que acontece com quem faz investigação, com os bolseiros, o melhor seria investir naquilo em que gosto de trabalhar. E não andar de bolsa em bolsa.
De onde se conclui que houve alguém que beneficiou com os cortes na Ciência...
Não sei, isso nunca vamos saber. A verdade é que nunca pensei em viver da música. As coisas estão diferentes e, se calhar, os mais novos já pensam de maneira diferente, mas na minha geração era quase impossível imaginar que alguém iria viver do rap em Portugal, havia mas eram exceções. A música sempre foi uma coisa que gostava de fazer mas seria uma espécie de vida paralela. Os meus colegas não sabiam que eu tinha essa vida dupla. E continuo a pensar que vou fazer outras coisas na minha vida. Neste momento, estou numa fase muito boa, tenho muito trabalho e faço outras coisas associadas à música, mas não quer dizer que será sempre assim e que viverei sempre da música. Até porque há muitas outras coisas que quero fazer.
Nasceu e cresceu no Porto, estudou em Lisboa e em Barcelona. Sabe bem voltar a casa?
Sinto-me muito bem no Porto, a cidade tem bastante qualidade de vida e tem o tamanho ideal. Não é demasiado pequena e não é demasiado grande, com uma vida cultural muito interessante. Depois de tantos anos a viver fora, não há nada que me dê mais conforto do que passar o domingo à noite no Porto, não ter de apanhar o comboio, fazer a despedida. É o meu luxo.
Um músico já não precisa de viver em Lisboa para ter trabalho?
Precisa, e cada vez mais. Comecei na promoção da minha música em 2012 e com o acentuar da crise, de um álbum para o outro basicamente - de Capicua para Sereia Louca [2014] -, o número de entrevistas que dei no Porto diminuiu drasticamente. As redações foram cortando o pessoal, diminuindo os recursos, centralizando mais as coisas em Lisboa. Mas, mesmo em relação aos convites das estruturas públicas, tenho tido sempre mais para Lisboa, tem mais dinheiro, mais festivais. Esta é uma prova de como vivemos num país que tem tendência para ser monocefálico e só não é mais porque o Porto é uma cidade com massa crítica, iniciativa privada e vida cultural. É o que acaba por compensar. As pessoas que vivem fora de Lisboa têm de ser muito proativas e engenhosas.
Cresceu a ouvir o que os pais ouviam, Fausto, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Zeca Afonso, etc. Depois, passou para os clássicos, para o reggae brasileiro, e só depois fez a sua incursão pelo hip hop. Mas de pop nunca gostou
Ana, Odd, Capicua ou Cap. Tanto faz. Tudo depende se está com amigos ou com pessoal dos graffiti ou do hip hop. Para todos, a rapper Ana Matos é uma das mulheres que se impôs num mundo que ainda é dos homens - o do rap
Os graffiti foram a sua primeira abordagem ao hip hop. Porque é que não optou pelo nome artístico que já tinha, Odd [ímpar]?
Muitas vezes acontece isso, as pessoas que vêm dos graffiti para o rap usam o mesmo nome, mas eu queria que fosse em português. Não fazia qualquer sentido ter um nome em inglês para a minha música. E para os graffiti escolhi Odd não só pelo seu significado, mas também pela parte gráfica. Tem um "O" e dois "d"redondinhos, o que tinha que ver com o meu estilo bubbles. E não fazia sentido trazer esse nome para o rap que queria que tivesse um significado claro, fácil de escrever. E, apesar de a palavra capicua ter origem catalã, é portuguesa e toda a gente conhece.
Como é que surgiu Capicua?
Quando comecei a fazer rap - normalmente todos os rappers escolhem um nome de código, é muito raro os que usam o nome do BI para o percurso musical - não tinha uma alcunha e acabei por escolher Capicua. Primeiro porque me chamo Ana, é um palíndromo e há essa ideia de ser uma capicua [palavras ou números que se leem da mesma maneira tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita]. E eu gosto muito das palavras compostas e capicua vem do catalão cap e cua, o que significa cabeça e cauda. É um pouco a ideia de cobra de rabo na boca e achei muito pictórico, tem essa ideia do eterno retorno, o final que ao mesmo tempo é um recomeço. Achei que era otimista e soava bem e ficou.
E sobrepôs-se ao seu nome, mesmo fora do palco.
Depende. A minha família e os amigos que me conhecem antes do rap continuam a chamar-me Ana. O pessoal mais ligado à comunidade hip hop chama-me Capicua ou Cap.
"Sou eclética nos meus gostos, mas sempre tive mais o pezinho na música negra"
Ouvia música de intervenção, depois reggae, como é que chegou ao hip hop?
Em miúda ouvia o que os meus pais ouviam, os cantautores de Abril, todo esse património musical que marcou muito a minha geração. Nasci nos anos 1980, esta geração é filha de pessoas que viveram intensamente o 25 de Abril, o PREC, e que gostavam muito desses cantautores. Ouvia muito Fausto, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Zeca Afonso, etc. Quando comecei a escolher a minha música e, até pelo que se ouvia no meu liceu, comecei a ouvir reggae, não só os clássicos como outros músicos, nomeadamente reggae brasileiro. Foi o meu primeiro contacto com a música negra e, de facto, a minha incursão no hip hop antes de ser musical foi pelos graffiti.
Isso depois da adolescência?
Sim, também tem que ver com a década de 1990 e com as minhas primeiras manifestações. Comecei a interessar-me pelos graffiti, a dar-me cada vez mais com as pessoas que os faziam e, como os graffiti fazem parte dessa comunidade maior que é o hip hop, a ir às festas e a ouvir as primeiras bandas do Porto, como os Dialema, os Mind Da Gap. E havia o Comix às quintas-feiras onde nos juntávamos, éramos um grupo pequeno e que funcionava um bocadinho como uma tribo. Esse foi o meu percurso.
Não gostava de pop, nem em criança?
Nunca foi a minha praia. Gosto de música de uma maneira geral e sou eclética nos meus gostos, mas sempre tive mais o pezinho na música negra, na música alternativa. Nunca fui muito rockeira ou de pop, sempre gostei mais de funk, soul, hip hop, reggae, dub. Toda a música negra me diz muito, mas o que sempre me disse muito foi a música em português, embora quem ouve hip hop seja marcado pelos americanos. Também aconteceu comigo, ouvir muito os rappers americanos mas, de facto, o que me liga à música são as palavras.
Palavras em língua portuguesa.
Sim, sou apaixonada pelo Caetano Veloso, pelo Chico Buarque, mas também gosto de fado. Tanto posso ouvir os discos da Amália como logo a seguir ouvir o que se faz na minha geração, que está cheia de talentosos músicos que cantam em português e nos mais variados estilos musicais. Vivemos um momento muito rico na música portuguesa e acabo por ouvir de tudo, desde que a lírica me interesse e eu ache que seja de qualidade. Aquela coisa, "a minha pátria é a minha língua" faz muito sentido, até a nível musical. O que me alimenta são as palavras mais do que o género musical.
Quando é que começou a interessar-se pelo jogo com palavras?
Desde que aprendi a falar que tenho uma relação muito lúdica com as palavras. O meu pai - ainda hoje faz isso - gostava muito de dizer as palavras ao contrário e de declamar poemas de cor, achava muita piada. E eu, antes de aprender a escrever, gostava muito de lengalengas. Um dos meus livros favoritos acaba com uma lengalenga do macaco. Ouvia toda a história à espera do final e daquela lengalenga. Tenho recordações da primeira infância, momentos em que as palavras já eram muito estimulantes. Depois, quando fui para a escola primária, sempre foi muito claro para os meus professores e os meus pais a minha vocação para escrever. Quando havia redações, escrevia a minha e a do colega do lado e, quando era possível, pedia para as escrever em verso. Uma professora até queria publicar um poema meu no livro da segunda classe. A disciplina que gostei mais de aprender foi Língua Portuguesa.
E desenhava bem?
Sim, desde que seja desenho livre. Sou uma pessoa muito expressiva de uma maneira geral. Tenho uma inteligência seletiva, coisas que envolvam pensamento matemático nunca foram muito fáceis para mim. Se me disserem um número elevado a 35 para mim é igual a dizer que Deus existe. Acredite ou não acredite, não compreendo. Coisas que exijam muito rigor, minúcia, paciência, não gosto muito. Sempre gostei mais das coisas plásticas, intuitivas, do pensamento humano, de filosofia, literatura, línguas, e o desenho mais livre e intuitivo. E mesmo depois de deixar de fazer graffiti, hoje no meu trabalho musical, gosto de recorrer às artes plásticas. As capas dos meus discos têm ilustrações, os meus concertos são acompanhados com ilustrações ao vivo, gosto muito da estética, da imagem.
Tudo muito visual.
A minha mãe costuma contar esta história que ilustra bem essa realidade. Quando fui para o infantário teve de preencher uma ficha em que se perguntava várias coisas básicas, e uma delas era: a que é que eu gostava de brincar. A minha mãe respondeu: "Ver imagens em livros." E, de facto, é verdade. Ela tinha aquela coleção de revistas de costura que se fazia nos anos 1970/80 e eu ficava horas a ver as fotografias, os desenhos, os anúncios, as publicidades, sempre gostei disso. E mantenho a ideia de, quando tiver tempo e paciência, fazer um curso de Belas-Artes.
Mas também gostava de escrever.
Sempre gostei muito de escrever, escrever as minhas rimas, os meus poemas. E fui para um curso de Sociologia em que se escreve muito, muitos trabalhos teóricos, e gostava muito dessa parte
Como é que passou da rima para os palcos?
Uma das coisas que me afligiam quando era miúda, e que só agora comecei a perceber o porquê e fiz a ligação ao que faço, era pensar que o que escrevia não ia soar com a mesma música quando lida por outros, não ia soar com a música que imaginei ao escrever. Tinha sempre essa angústia e acho que acabei por encontrar uma forma de resolver a questão. Se eu ler os meus poemas já pode ser com a minha música.
O hip hop é uma continuação da música de intervenção que tanto ouvia na casa dos pais?
Não sei se é uma continuação, mas encontrei ali um sentido, uma familiaridade. As primeiras músicas que ouvi foram os cantautores de Abril. E, para mim, sempre foi muito claro que a música está associada à palavra, que a palavra tem um protagonismo e não surge apenas como um objeto estético. Surge como discurso, como instrumento de mudança do mundo. E quando encontro o hip hop, vejo que a palavra tem esse sentido.
Por outro lado, tem um ar de menina bem-comportada que não encaixa na imagem dos rappers.
Estou um bocadinho longe do estereótipo, mas quem conhece melhor a realidade percebe que há uma grande variedade no meio, não só de estilos como de origens sociais, geográficas, com backgrounds diferentes. E o próprio público é cada vez mais diverso. O hip hop em Portugal amadureceu pela diversidade, por se pulverizar em muitos subestilos. Há tantos subgéneros e rappers com histórias e realidades diferentes que eu não sou assim um bicho tão exótico.
"Há tantos subgéneros e realidades diferentes que eu não sou assim um bicho tão exótico"
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Alguma vez sentiu uma reação negativa por parte dos seus pares, por não corresponder a esse estereótipo?
Não, pelo contrário. O meio do hip hop é muito meritocrático. Quando mostramos trabalho, qualidade no que fazemos, os nossos pares tiram-nos o chapéu, nunca senti rejeição. Talvez tenha existido uma desconfiança inicial, mas pelo facto de ser mulher. É um meio de homens e tentavam perceber se era a sério, aquela desconfiança machista do género gosta de rap ou dos rappers. A partir do momento em se quebra essa desconfiança e se percebe que estamos ali para dar o nosso melhor, fazemos parte do grupo. E até acaba por ser mais fácil para nós, somos poucas e acabamos por ter mais visibilidade.
E fora da comunidade?
Onde senti mais o reforço desse exotismo em relação à minha pessoa foi na relação com os media, quando me abro ao público mais mainstreaming. Fazia rap mas era uma cena mais underground, a partir de 2012 com a saída do meu primeiro álbum [Capicua], percebi que o estereótipo é mesmo muito estreito. Que valorizam muito o facto de ser diferente dos outros rappers, e isso foi uma coisa que me incomodou, darem louvor à minha qualidade por ser diferente dos meus pares, o que é muito injusto. Venho dessa tribo, dessa comunidade, e devo-lhes a descoberta do meu talento e de poder viver do que mais gosto de fazer.
A Ana Matos tem um visual diferente da maioria.
Mas a ideia que as pessoas têm do rapper é muito fechada. Têm a ideia do puto do subúrbio que faz rimas contestatárias, dos graffiti, associada ao vandalismo, que é uma ideia preconceituosa e muito redutora. E mesmo que a realidade fosse só essa não seria menos importante, tinha o seu valor. É importante como forma de mensagem e de reportagem do que se passa nesses bairros. Além de que não se faz justiça à comunidade do rap em Portugal e da sua própria história. Nos anos 90 do século XX e até à primeira década do século XXI não era cool cantar em português e os rappers sempre cantaram em português. E falaram da realidade portuguesa, dos problemas que se passavam nas cidades, denunciaram as situações.
E, entretanto, apareceu mais gente e mais diversificada. Quem evoluiu mais, quem faz ou quem consome?
Os rappers também se foram profissionalizando e isso nota-se. Ainda há duas semanas, no Festival Super Rock Super Bock, houve um dia dedicado ao rap, o último, e foi aquele que esgotou. Convidei cinco mulheres para estarem comigo no palco: M7, Blaya, Blink, W-Magic, a T-Von, cantoras de gerações diferentes. A T-Von e a Blaya são mais antigas, a Blink e a W-Magic mais jovens. Foi um momento de grande emoção, do qual tenho um grande orgulho, e o público aderiu. Naquele dia, mostrou-se que não faz sentido estarmos a dividir a música em caixinhas, por critérios geográficos ou de sexo, que isso é muito desinteressante. Essa questão de que existem poucas mulheres no hip hop é verdade mas também acontece em outros géneros musicais. Mesmo no fado, as protagonistas são mulheres, mas depois toda a restante equipa é formada por homens.
A igualdade de género é uma das suas bandeiras?
Faz parte das minhas preocupações sociais e políticas. Os temas da minha agenda de causas estão sempre patentes nas minhas letras. Associo ao rap essa missão, a responsabilidade de passar a mensagem e de contribuir com a minha música para a mudança de mentalidades. E o feminismo é uma dessas causas, se calhar mais visível porque não só estão sempre nas minhas letras como na minha atitude, pelo facto de estar em cima de um palco, sendo eu própria. Sem criar uma persona, sem ser decorativa, sem pedir licença, e isso já é subversivo.
Subversivo porquê?
Não só na música como na vida em geral, as mulheres não são estimuladas para estarem em lugares de destaque, para conquistarem o espaço público, para assumirem posições de liderança, para darem opiniões, para serem desbocadas, todas características que são essenciais no rap e que estou ali a cumprir em palco e com muito orgulho. Aprendi no rap a ter orgulho em ser eu própria e faço-o com uma grande espontaneidade, o que não é aconselhável às mulheres. Algo que é tão básico como ter confiança para desenvolver os nossos talentos, se não tivermos a nossa autoestima no sítio vamos vacilar e desistir. A autoestima é a primeira coisa que se mina numa sociedade patriarcal como a nossa.
Sempre teve a autoestima no sítio ou o hip hop ajudou-a?
O hip hop ajudou, ajudou a ter essa espontaneidade, a sermos nós próprios e a estar num palco sem a ideia de que estamos ali para entreter e ser decorativas. E isso é muito libertador para uma mulher. Estou ali para fazer o meu trabalho, para fazer o que eu quero. Isso é uma coisa que aprendi no rap.
Em criança já tinha um pouco disso, contam as suas letras.
Obviamente, que desde miúda que sempre fui mais Mafalda do que Susaninha. Sempre fui de ter o espírito crítico, de questionar as coisas, de não aceitar um não como resposta. E depois há o percurso pessoal. Na adolescência, fiz trabalho associativo no SOS Racismo, militei no PSR que depois derivou no Bloco de Esquerda, toda essa escola em que os temas da igualdade de género e do feminismo estão muito presentes, o que acabou por contribuir para a minha formação pessoal e política. Também o facto de ter estudado Sociologia, uma área que desconstrói os papéis sociais, tem influência. Acaba por ser todo um bolo que contribuiu para a minha forma de ser.
Em miúda foi mais maria-rapaz ou Maria Capaz?
Sempre fui mais Maria Capaz. Gostava muito de cor-de-rosa, de coisas pirosas, de frufrus, tinha umas coisas pirosas.
Já não tem?
Às vezes dá-me um bocado para a piroseira. Cresci na década de 1980 e tudo à minha volta eram folhos, napas, ombreiras, tudo muito cor-de-rosa, arco-íris, a geração de hoje já não é tanto assim. Fiz a música Maria Capaz e dizia que era o significado de MC [termo com que se autodenominam os rappers e que quer dizer mestre-de-cerimónias], foi a minha provocação. Tem que ver com a ideia de que uma mulher para fazer rap tem de ser maria-rapaz, e eu digo: "Não. Tem de ser Maria Capaz, aliás MC quer dizer Maria Capaz." Sou eu a redefinir o significado do MC pela prática da mulher no rap. É uma brincadeira.
"A autoestima é a primeira coisa que se mina numa sociedade patriarcal como a nossa"
| Rui Oliveira / Global Imagens
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É uma rapper de causas?
Sou. As causas são importantes na minha música, mas não só. O José Mário Branco disse uma vez num debate uma coisa com a qual concordo. Há três pilares na música: a estética (o belo), a técnica (o ofício) e a ética (o que dá sentido ao trabalho da estética e da técnica).
Também foi por isso que escolheu o curso de Sociologia?
Eu queria estudar Ciência Política, mas o meu pai disse que isso afunilava muito a minha formação, que deveria escolher Sociologia, que era mais abrangente e, mais tarde, especificar. Acabei por estudar no ISCTE [Instituto Universitário de Lisboa]e gostei muito. Fiz a tese em Sociologia Urbana e depois fui para Barcelona fazer o doutoramento em Estudos Territoriais. Acabei por deixar a ciência política e não me arrependo nada. Sempre me interessei por estudos territoriais.
Porque é que diz que o hip hop não é sociológico? São observações diferentes, mas ambas da realidade.
O hip hop tem essa coisa de observar a realidade, mas é um olhar parcial no sentido em que tem pouco espaço para aquilo que a sociologia gosta de fazer e que é dar as diferentes perspetivas de um mesmo problema. E é sempre de uma grande complexidade. É nesse sentido que digo que o hip hop não é muito sociológico, é mais afirmativo. Vai procurar o que tem mais impacto emocional e vai fazê--lo de uma forma muito mais livre. Aliás, uma das críticas que fizeram ao meu trabalho musical foi que a formação se notava nas minhas rimas. Comecei a pensar nisso e cheguei à conclusão de que, se calhar, tinham razão. Se calhar tenho essas ressalvas, essa vertente de procurar as várias perspetivas e poder perder um pouco o impacto. Ando à procura da abordagem certa, para não ser redutora, para não ser simplista, e seria bom estar mais livre e não ter esse olhar tão condicionado.
Demora muito tempo para conseguir a frase perfeita?
Depende. Toda a gente no meio artístico diz isto e é bem verdade, às vezes é muito fácil ter uma música que se faz em duas horas, como Medo do Medo, que escrevi numa viagem de Intercidades Porto-Lisboa. Mas isso não quer dizer que não estivesse há semanas a pensar naquele tema e que a música não estivesse quase construída na minha cabeça. Outras vezes é uma luta, andamos a mastigar, deixamos para o dia seguinte, para reler com distanciamento, mudamos várias vezes. As duas formas são possíveis e não quer dizer que a que foi mais fácil seja pior do que a outra.
Inspiração e muito trabalho?
Sim, sim. Há um trabalho e uma técnica que se alimenta para quando a inspiração chegar termos as ferramentas na mão. É um pouco como os jogadores de futebol, muitos têm talento e não trabalham nada e outros compensam essa falta de talento com muito trabalho. Uma coisa sem a outra não existe.
Afirma que tem uma agenda política tão forte que poderia participar em campanhas eleitorais.
A única vez em que aconteceu foi na campanha do José Soeiro no Porto, mas não era só do Bloco de Esquerda. Envolvia várias organizações de independentes de esquerda e que participaram desde o início. Houve um envolvimento de todos, de grupos e subgrupos de trabalho, era um movimento de cidadãos. Toquei no evento dessa campanha e não me arrependo nada. E poderei voltar a fazê-lo se achar que aquela campanha me representa e que posso vestir a camisola, mas não é algo que seja fácil para mim. Tem de ter um grau de convicção e de afinidade que não é fácil de atingir, se fosse tinha o cartão de um partido.
Porque é que gosta tanto de escrever para fado?
Adoro, adoro escrever para fado. mas também gosto de escrever para outros géneros musicais. Do que gosto muito no fado é dessa coisa que é semelhante ao rap e que é a importância da palavra, o poema e a forma como se cospe o poema é muito semelhante. O poema não está ali para encher, é a matriz da música. Isso é o que me interessa no fado, interessa-me escrever para pessoas que valorizem o poema. E quanto mais conheço a pessoa mais fácil é escrever para ela. Atualmente, não estou a escrever só para fadistas, também para outras pessoas.
Quem?
Não posso dizer, mas vai haver surpresas.
E o contrário, escreverem para a Capicua?
Isso é impossível, porque eu não sou uma performer, não sou uma interprete, só estou ali para dizer as minhas palavras. Do que mais gosto é do momento em que estou sozinha a escrever a minha letra. Todo o trabalho de promoção, de tocar ao vivo, é para dar sentido a esse momento. Se chegasse escrever para mim, feliz da vida, mas para dar sentido ao que faço tenho de chegar às pessoas, mas esse lado é secundário. Às vezes acontece gostar muito de um poema e dizê-lo no palco, por exemplo, no meu concerto há uma parte em que declamo as palavras de Sophia de Mello Breyner e colo com o refrão da canção Liberdade do Sérgio Godinho. Mas esse momento surge como um complemento à minha música. É uma introdução para o que vem a seguir.
E o espetáculo Concerto Água e Sal em que diz outros autores?
Foi uma exceção em que fiz uma recolha de textos de vários autores portugueses sobre a água, é um espetáculo musical que fizemos para o São Luiz, e que até se calhar vamos repetir, mas estou a declamar. Outra coisa é alguém chegar ao pé de mim e dizer: "Tenho uma letra para ti", isso nunca vai acontecer. E, às vezes, há quem me ofereça letras.
Que projetos tem a curto prazo?
Duas coisas muito importantes e que irão realizar-se neste ano. Uma é um disco para crianças para sair no final de setembro, chama-se Mão Verde, com música de Pedro Geraldes e lengalengas minhas, é um disco e um livro. É um disco conceptual para crianças como motivação ecológica. Outra coisa é um concerto no CCB no dia 2 de dezembro. É a primeira vez que vou tocar com músicos ao vivo, com instrumentos, com uma banda que não tem o formato habitual do hip hop. Vai ser um alinhamento transversal aos meus discos.
Diz que não irá fazer sempre música. O que é que poderá fazer?
Muitas coisas e uma delas é agricultura, há muitos anos que tenho essa vontade de ir para um sítio mais pequeno e fazer produção agrícola, é uma possibilidade.
Mas já plantou alguma coisa?
Sim, tenho uma horta e interesso-me pela agricultura biológica, fico horas a catar ervas. Fiz um curso de permacultura e de agricultura biológica, a minha irmã tem uma produção agrícola, de groselhas. O meu hobby é a horta e a altura do ano em que é mais entusiasmante é na primavera e no verão, quando tenho mais trabalho. É frustrante.
"Álbum no meio do doutoramento foi uma estratégia de salvação"
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Como é que se faz um álbum, o Capicua, no meio de um doutoramento?
Pode parecer difícil, mas foi uma espécie de estratégia de salvação. Quando se faz um doutoramento, a nossa saúde mental sai muito comprometida, é quase como uma maratona e é preciso muita autodisciplina para se conseguir trabalhar. Estamos sozinhos e a lutar contra nós próprios, sobretudo no meu caso em que estava com uma bolsa, se não saísse da cama, ninguém sabia. E encontrei na escrita desse álbum uma espécie de recompensa ao fim do dia e, se calhar, um escape. Quando se está com uma bolsa não há férias, não há fins de semana. Mesmo quando não trabalhamos, estamos sempre com um peso na consciência. É muito cansativo. Mas não consegui acabar o álbum, só depois de concluir o doutoramento.
Não quis continuar na área da investigação?
Pensei nessa hipótese e concorri para as bolsas pós-doc. Foi na altura em que houve cortes na Ciência e acabei por não conseguir a bolsa para continuar a estudar. E no dia em que tive conhecimento que não tinha conseguido a bolsa - uma coisa quase de filme - tive uma reunião com a Valentim de Carvalho em que eles manifestaram interesse no meu trabalho e em que assinei um contrato.
Se tivesse conseguido a bolsa teria recusado a proposta para editar a sua música?
Não. Se bem me conheço teria tentado fazer as duas coisas, o que seria muito difícil. Seria complicado gerir as duas situações, recusava as oportunidades para continuar a fazer a minha música e os concertos ou ficava a investigação para trás. Na altura, também pensei que se era para viver com instabilidade, que é o que acontece com quem faz investigação, com os bolseiros, o melhor seria investir naquilo em que gosto de trabalhar. E não andar de bolsa em bolsa.
De onde se conclui que houve alguém que beneficiou com os cortes na Ciência...
Não sei, isso nunca vamos saber. A verdade é que nunca pensei em viver da música. As coisas estão diferentes e, se calhar, os mais novos já pensam de maneira diferente, mas na minha geração era quase impossível imaginar que alguém iria viver do rap em Portugal, havia mas eram exceções. A música sempre foi uma coisa que gostava de fazer mas seria uma espécie de vida paralela. Os meus colegas não sabiam que eu tinha essa vida dupla. E continuo a pensar que vou fazer outras coisas na minha vida. Neste momento, estou numa fase muito boa, tenho muito trabalho e faço outras coisas associadas à música, mas não quer dizer que será sempre assim e que viverei sempre da música. Até porque há muitas outras coisas que quero fazer.
Nasceu e cresceu no Porto, estudou em Lisboa e em Barcelona. Sabe bem voltar a casa?
Sinto-me muito bem no Porto, a cidade tem bastante qualidade de vida e tem o tamanho ideal. Não é demasiado pequena e não é demasiado grande, com uma vida cultural muito interessante. Depois de tantos anos a viver fora, não há nada que me dê mais conforto do que passar o domingo à noite no Porto, não ter de apanhar o comboio, fazer a despedida. É o meu luxo.
Um músico já não precisa de viver em Lisboa para ter trabalho?
Precisa, e cada vez mais. Comecei na promoção da minha música em 2012 e com o acentuar da crise, de um álbum para o outro basicamente - de Capicua para Sereia Louca [2014] -, o número de entrevistas que dei no Porto diminuiu drasticamente. As redações foram cortando o pessoal, diminuindo os recursos, centralizando mais as coisas em Lisboa. Mas, mesmo em relação aos convites das estruturas públicas, tenho tido sempre mais para Lisboa, tem mais dinheiro, mais festivais. Esta é uma prova de como vivemos num país que tem tendência para ser monocefálico e só não é mais porque o Porto é uma cidade com massa crítica, iniciativa privada e vida cultural. É o que acaba por compensar. As pessoas que vivem fora de Lisboa têm de ser muito proativas e engenhosas.
Entrega do IRS em separado "seduziu" apenas 5% dos casais
Lucília Tiago, in Dinheiro Vivo
A tributação em separado no IRS passou a ser a regra para os casais e unidos de facto. Mas o novo regime convenceu apenas uma minoria de pessoas
Cerca de metade dos contribuintes que entregaram este ano declaração de IRS reuniam as condições para serem automaticamente abrangidos pela tributação em separado. Ou seja, são casados ou preenchem os requisitos da união de facto que lhes permite ter o tratamento fiscal dos casados. No entanto, o que os números mostram é que apenas 5,1% dos mais de 2,36 milhões destes agregados se deixaram "ficar" no regime da tributação separada.
A tributação em separado no IRS passou a ser a regra para os casais e unidos de facto. Mas o novo regime convenceu apenas uma minoria de pessoas
Cerca de metade dos contribuintes que entregaram este ano declaração de IRS reuniam as condições para serem automaticamente abrangidos pela tributação em separado. Ou seja, são casados ou preenchem os requisitos da união de facto que lhes permite ter o tratamento fiscal dos casados. No entanto, o que os números mostram é que apenas 5,1% dos mais de 2,36 milhões destes agregados se deixaram "ficar" no regime da tributação separada.
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