16.6.23

Menstruação ou monstruação?

Tânia Graça, in Público

Um processo biológico natural do corpo, que continua a ser tratado como um gigante tabu, envolto em crenças e mitos que espero aqui ajudar a desmistificar.

No dia 28 de Maio, foi celebrado o Dia Internacional da Higiene Menstrual.

Um dia extremamente importante, em primeiro lugar, para recordar que cerca de 500 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a produtos de higiene menstrual, tais como tampões, pensos ou copos menstruais, sendo esta também uma realidade em Portugal. Um estudo realizado em cinco universidades na região de Lisboa revelou que, uma em cada 10 mulheres portuguesas já sentiu dificuldades económicas para comprar produtos menstruais. Assim sendo, a menstruação revela-se também uma agravante de desigualdades sociais, educacionais, profissionais e económicas, para a qual precisam de ser criadas políticas com medidas de apoio. Porque, afinal de contas, menstruar não é uma escolha.

Além disso, é um dia particularmente importante para falar de menstruação (ou deveríamos chamar-lhe "monstruação"?). Um processo biológico natural do corpo, que continua a ser tratado como um gigante tabu, envolto em crenças e mitos que espero aqui ajudar a desmistificar.

Comecemos por entender do que se trata: todos os meses, é libertado um óvulo num dos ovários e o revestimento do útero – endométrio – prepara-se para receber esse óvulo, caso ele seja fecundado, de modo a criar o ambiente certo para se desenvolver uma gravidez. No caso de esse óvulo não ser fecundado, o corpo descarta o revestimento uterino, o que origina então a menstruação, e o ciclo recomeça.

Mas, sendo este um sangue que sai da vagina, e que está ligado à procriação e à sexualidade da mulher, claro que nunca poderia ser visto apenas como um processo natural e saudável do corpo. Vamos lá então clarificar alguma da desinformação ligada a este tema.

1. As mulheres podem fazer tudo durante o período menstrual. “Não podes ir à praia.”; “Não podes fazer desporto.”; “Não podes lavar o cabelo.”; “Não podes bater claras em castelo que nunca vão ficar boas.” E poderíamos continuar. São inúmeras as crenças infundadas sobre este período do mês. Havendo energia, vontade e produtos de higiene menstrual, não há nada que façamos todos os dias que não possamos fazer nos dias do período.

2. Relações sexuais durante a menstruação são seguras e permitidas. Mais uma vez, não há nada que contra-indique relações sexuais durante a menstruação. Na verdade, existem mulheres que sentem um aumento da libido, tendo em conta as alterações hormonais que acontecem. Além disso, as hormonas libertadas durante um orgasmo podem ainda aliviar algum desconforto abdominal ou dores de cabeça associadas à menstruação. No entanto, tendo em conta a maior vascularização da área, assim como a alteração de ph da mesma, existe um maior risco de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis. Deste modo, o preservativo torna-se ainda mais essencial.

2. Relações sexuais durante a menstruação são seguras e permitidas. Mais uma vez, não há nada que contra-indique relações sexuais durante a menstruação. Na verdade, existem mulheres que sentem um aumento da libido, tendo em conta as alterações hormonais que acontecem. Além disso, as hormonas libertadas durante um orgasmo podem ainda aliviar algum desconforto abdominal ou dores de cabeça associadas à menstruação. No entanto, tendo em conta a maior vascularização da área, assim como a alteração de ph da mesma, existe um maior risco de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis. Deste modo, o preservativo torna-se ainda mais essencial.

4. Não somos relógios suíços. Um ciclo menstrual saudável em idade fértil tem geralmente uma duração entre 25 e 35 dias, sendo o dia que nos aparece o período, o primeiro dia da contagem. Deste modo, ser regular, não significa que ele aparece sempre no mesmo dia do mês. Além disso, continua a considerar-se um período regular quando não oscila mais do que 7 dias, para mais ou para menos. Caso contrário, deverá ser abordado em consulta médica.

5. Dores menstruais não são normais. Embora seja comum as mulheres sentirem algum grau de desconforto durante a menstruação, se experienciarem dor intensa, incapacitante, que as leve à cama, que exija sempre medicação para conseguir “sobreviver”, não é normal e deve ser observada para despiste de condições como endometriose. Existe uma desvalorização constante das dores menstruais, que nos são explicadas como algo inerente à condição de ser mulher. A par disso, a pílula é muitas vezes prescrita como uma "cura" quando, no fundo, a sua função é apenas a de tratar o sintoma – a dor –, mas não a causa.

Em suma, falta educação menstrual! Não temos conhecimento sobre o funcionamento do nosso corpo, usamos métodos contraceptivos hormonais que, podendo até ser os mais adequados ao nosso caso, acabamos por “escolher” sem toda a informação necessária; querendo engravidar, não temos a informação sobre qual o melhor momento do mês para tentá-lo. E tudo isto não é aceitável.

No entretanto, e enquanto outro tipo de informação formal não nos chega, podemos ler livros como Não é só sangue, da Patrícia Lemos, Dores menstruais não são normais, da Catarina Maia, ou assistir a documentários como O meu sangue ou Period. End of Sentence.

É preciso tirar a menstruação, assim como tantos outros aspectos do corpo e da sexualidade da mulher, da penumbra! Só assim poderemos fazer escolhas informadas, só assim seremos verdadeiramente donas do nosso corpo e da nossa vida! E isto é empoderamento.