16.6.23

Ranking das escolas reflete "fracasso total do 25 de Abril" no ensino público

André Rodrigues , Pedro Valente Lima, in RR
 
O comentador da Renascença lamenta que o ensino público continue a falhar na promoção da "igualdade de oportunidades" na sociedade portuguesa. Para Henrique Raposo, o desenvolvimento da educação pública em Portugal passa por dar mais autonomia às escolas.

Esta sexta-feira foi divulgado o ranking das escolas de 2022, no qual, uma vez mais, os estabelecimentos privados dominam de forma muito destacada. A melhor escola pública - a Escola Secundária de Vouzela - surge apenas na 33.ª posição, numa lista liderada pelo Grande Colégio Universal, no Porto.

Henrique Raposo aponta que os dados "revelam mais uma vez o fracasso total do regime do 25 de Abril no que mais interessa": "A igualdade de oportunidades". O comentador da Renascença dá o exemplo da escola que frequentou, em Loures, por sinal a última da classificação geral.

"É a Escola José Cardoso Pires. Está lá em cima no morro. Nada muda, é um pouco asfixiante. Estamos lá em cima, vemos Lisboa cá em baixo, são dois quilómetros, mas continuam a ser 200 quilómetros na cultura, nas oportunidades."

Com a aproximação dos 50 anos de democracia, Henrique Raposo pede mais "reflexão" sobre o ensino público, principalmente "à esquerda, que ficou com o património daquilo que é a escola pública". "A escola pública está a falhar por completo."

Para o comentador da Renascença, o problema não passa pela falta de investimento, mas sim pela gestão: "As escolas não têm autonomia. Cada escola devia ser autónoma, como na Suécia, por exemplo. Os modelos que funcionam estão aqui ao nosso lado, nos Países Baixos, na Suécia, na França e até em Espanha".

Escola pública precisa de mais autonomia

Henrique Raposo realça que é precisamente nessa questão de autonomia que os colégios privados acabam por se superar ao ensino público, na qual eventuais problemas conseguem ser geridos e solucionados de forma mais ágil e pragmática.

"Há um problema no forno, substitui-se o forno. Percebe-se que aquele professor de História não está a funcionar muito bem, está muito cansado, está a ficar tóxico para os miúdos, vai passar um ano na biblioteca. Na escola pública isso é impossível. Não se consegue gerir nada."

Por outro lado, o comentador aponta o dedo também ao conteúdo programático e aos métodos de ensino, que diz não terem em conta o contexto socioeconómico e cultural dos alunos: "Educar um miúdo em Famalicão é diferente de educar em Beja".

"Em Famalicão, o miúdo está rodeado de fábricas, tem um universo de engenharia e da mecânica na cabeça. Em Beja, tem o universo do campo e da agricultura. A escola pública aplica a mesma grelha. [Na disciplina de] Português é a mesma coisa. Porque é que os miúdos não leem? Num lar de classe média, a literatura faz parte dos hábitos. Numa de classe baixa não."

Como exemplo de abordagem à situação, Henrique Raposo volta a reforçar a autonomia e a personalização do método educativo, uma vez que a "maior parte dos professores não quer estar dependente do Ministério [da Educação], ou da Fenprof, ou do STOP".

"Querem educar os miúdos da maneira que lhes parece mais adequada para os miúdos que têm naquele ano. Deem liberdade às escolas, aos professores e confiem. Estamos no meio das provas de aferição, mas estas provas só fazem sentido se derem autonomia às escolas."

Ainda assim, o comentador da Renascença não deixa de realçar a importância do ensino público - que as suas filhas frequentam -, sobretudo no combate à "bolha de privilégio" a envolver o setor privado.