Maria João Lopes, in Jornal Público
Estudo divulgado ontem pela Rede Europeia Anti-Pobreza mostra que mais de metade das pessoas sem emprego são mulheres
Mais de metade dos desempregados do distrito de Coimbra não recebem subsídio de desemprego. Esta é uma das conclusões de um estudo apresentado ontem, intitulado É o (des)emprego fonte de pobreza? O impacto do desemprego e do mau emprego na pobreza e exclusão social do distrito de Coimbra, coordenado pelo investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) Pedro Hespanha.
De acordo com o documento, que ficará disponível no sítio da Rede Europeia Anti-Pobreza (www.reapn.org), em Dezembro de 2004, apenas 45 por cento dos desempregados recebiam subsídio de desemprego, número que Pedro Hespanha considera "preocupante".
Segundo adianta o estudo, que se reportou ao período entre os anos 2000-2005, a taxa de cobertura masculina é mais elevada (48,7 por cento contra 41,9 por cento nas mulheres) e atinge 56,9 por cento no concelho de Montemor-o-Velho. Os valores mais baixos encontram-se em Oliveira do Hospital, em Mira, na Pampilhosa da Serra e em Arganil.
O distrito de Coimbra, segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional, registava, em 2000, um número total de 11.648 desempregados, dos quais 4236 homens e 7412 mulheres. Em cinco anos, estes valores aumentaram para 15.461 pessoas desempregadas, 6521 homens e 8940 mulheres.
Entre outros dados, os concelhos onde o desemprego entre as mulheres sem escolaridade aumentou mais significativamente foram Condeixa-a-Nova (380 por cento); Góis (200 por cento); Oliveira do Hospital (57 por cento) e Miranda do Corvo (50 por cento). Os concelhos de Penela, Pampilhosa da Serra e Coimbra foram os que registaram maiores diminuições.
Desigualdades salariais entre homens e mulheres, continuando estas a acumular mais trabalho doméstico, e falta de consciência de que se é pobre são outras das conclusões apontadas por este estudo que, entre outras medidas, sublinha a importância da prevenção no combate à pobreza.
Outra das leituras feitas prende-se com a diferença de remunerações, nível de vida e acesso a diferentes bens consoante a zona em que se vive: quanto mais próximo de centros urbanos, como Coimbra, mais caro é viver, mas também mais elevados são os salários e mais acesso a instituições de educação se tem, por exemplo.
"A problemática do combate à pobreza é complexa. Devia haver uma entidade que congregasse a actividade dos organismos da administração central, autarquias e instituições particulares", defendeu ontem, na sessão de apresentação do estudo, Manuel Machado, coordenador distrital de Coimbra da Rede Europeia Anti-Pobreza, entidade que promoveu o estudo.
15.461
Pessoas desempregadas no distrito de Coimbra, no ano de 2005, das quais mais de metade são mulheres, segundo o estudo coordenado por Pedro Hespanha, do Centro de Estudos Sociais.