16.12.09

Moody"s avisa Portugal e Grécia que o euro não os pode proteger

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A agência compara o futuro dos dois países na zona euro ao das cidades pequenas que, mesmo em grandes países, assistem à erosão da vitalidade económica


Portugal e a Grécia correm o risco de estar a entrar num ciclo de baixo crescimento económico e dívida cada vez mais insustentável, que faz com que nem o facto de pertencerem à zona euro lhes sirva de protecção, avisou ontem a agência internacional de notação financeira Moody"s.

Num relatório sobre a evolução prevista para os ratings atribuídos aos Estados de todo o mundo, a Moody"s escolhe os dez temas que irão dominar a análise de risco durante o próximo ano. E um desses temas é dedicado em exclusivo a Portugal e à Grécia.

A unir os dois países, assinala a Moody"s, está, para além da ameaça recente feita aos seus ratings, um cenário bastante sombrio para as suas economias. "Uma nova conjuntura, com ainda mais dívida e baixas expectativas de crescimento, combinada com um apetite reduzido pelas reformas, colocou estes países num rumo negativo de crédito", afirma o relatório. A agência internacional - uma das três mais importantes do Globo - avisa ainda que "in extremis, à medida que a dívida se torna cada vez mais insustentável, os governos podem vir a ficar tentados a tomar decisões que sejam prejudiciais para os seus credores".

O Governo grego tem atravessado, nas últimas semanas, sérias dificuldades em convencer os mercados de crédito internacionais que financiam a sua dívida de que não existe qualquer risco de não cumprimento dos seus pagamentos aos credores, assistindo a uma subida muito acentuada das taxas de juro exigidas pelos investidores para comprarem a sua dívida. Portugal, com défices e dívidas bem menores, não tem sofrido tantas pressões do mercado, mas a Moody"s, que também dá a Portugal um rating mais favorável do que o grego, identifica para os dois países o mesmo tipo de problemas e ameaças.

Para a agência, os dois países, mesmo tendo atravessado sem danos muito graves a crise financeira, poderão vir agora a enfrentar dificuldades maiores do que os seus parceiros do euro. "Apesar de o euro os ter protegido durante a crise de liquidez, não irá agora ajudar estes países a recuperar. Pelo contrário, poderá mesmo constituir uma perturbação", afirma o relatório, assinalando que "o risco agora é que possa vir a ocorrer uma lenta mas inexorável erosão da vitalidade económica, semelhante à que pode acontecer nos casos das cidades pequenas e sem competitividade dos grandes países".

Países fora do euro, como a Islândia, Hungria e Ucrânia, tiveram, durante a crise de financiamento registada a seguir à falência do Lehman Brothers, de recorrer à ajuda do Fundo Monetário Internacional para continuarem a conseguir cumprir os seus compromissos externos. Grécia e Portugal ficaram muito longe desse cenário, em grande parte porque a sua divisa não se desvalorizou e os seus bancos tiveram sempre à sua disposição o financiamento do BCE.

Mas agora, com o resto da zona euro a recuperar mais depressa e o Banco Central Europeu a retirar aos poucos a sua ajuda, também isso pode mudar, avisa a Moody"s. "A forma como o BCE vai reduzir algumas das suas operações vai conduzir a um aumento dos custos de financiamento para muitos sistemas bancários e, como consequência, para os próprios governos", diz.

A Moody"s é, em conjunto com a Fitch e com a Standard & Poor"s, uma das agências de notação financeira que colocou recentemente um sinal negativo nas classificações de risco atribuídas a Portugal.