Por Nuno Simas, in Jornal Público
Ministro da Economia acredita que oposição vai viabilizar OE e afasta hipótese de moção de confiança, pelo menos por enquanto
O ministro da Economia foi ontem às jornadas parlamentares do PS em Beja esvaziar um pouco o balão da dramatização à volta do Orçamento do Estado para 2010 e das eleições antecipadas. Pelo menos para já. Vieira da Silva foi um dos convidados para falar de competitividade e desenvolvimento regional. Um assunto "abafado" pelos cenários do Orçamento e de uma hipotética moção de confiança.
Dois dias depois de o deputado Ricardo Rodrigues ter dito em voz alta o que muitos dirigentes dizem em surdina, admitindo que a legislatura seja interrompida, o ministro nem quer ouvir falar de uma moção de confiança se a oposição obstaculizar o Orçamento do Estado de 2010. "Não é debate que esteja em cima da mesa", afirmou Vieira da Silva.
Aliás, o executivo está em funções há "pouco mais de 45 dias" e o ministro faz contas para dizer que as probabilidades são "pouco elevadas" para a não aprovação do Orçamento. Tendo em conta a situação de crise económica do país. Diálogo é o que promete à oposição para o Orçamento, embora não diga se é antes, como exigiu Paulo Portas. Um discurso diametralmente oposto ao de Ricardo Rodrigues, que acusou a oposição de "esticar a corda para que o PS diga que não pode governar".
Mais. Vieira da Silva subscreve José Sócrates ao repetir que o Governo não pode governar com um orçamento da oposição. Mas acredita no diálogo com os partidos. "Havendo um ambiente de um diálogo mais efectivo e, principalmente, não havendo uma tendência para uma coligação de toda a oposição contra o Governo, torna-se menos difícil a tarefa da estabilidade governativa", disse.Avisos internos
De estabilidade falou também Francisco Assis, líder da bancada do PS, e fez uns quantos avisos ao grupo parlamentar, pedindo que seja "um referencial de estabilidade". Nem pode ser factor de instabilidade nem deixar-se anestesiar, sintetizou. O PS, alertou, não pode ter "atitudes radicais" - nem ser um "agente promotor de instabilidade adoptando uma postura birrenta para demonstrar a impossibilidade de governar", nem adoptar "uma atitude de cedência" à oposição. Outro aviso com leituras internas: "A nossa preocupação não pode ser fazer da irresponsabilidade da oposição um álibi para não assumirmos as nossas responsabilidades".
As oposições também foram visadas no discurso de Assis aos deputados e quando já Vieira da Silva e o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, aguardavam para falar sobre competividade e desenvolvimento. Se no debate do programa do Governo a oposição não apresentou uma moção de censura, também não pode "apresentar todas as semanas minúsculas moções de censura" que impeçam o executivo de governar segundo o seu programa. Uma referência implícita, e única, às coligações negativas.
Indirectas a Cavaco
Já na parte fechada da reunião, sem jornalistas, Vieira da Silva e António Mendonça fizeram a defesa do investimento público. Como o TGV ou o empreendimento do Alqueva, visitado de manhã por Assis e um grupo de deputados. Assis comparou os dois projectos e criticou quem está contra o investimento público, como aconteceu durante anos com o Alqueva. "São sempre os mesmos a fazer o mesmo discurso" com argumentos como as dificuldades orçamentais. Uma crítica indirecta ao Presidente Cavaco Silva, que chefiou um Governo que não decidiu sobre a barragem. E se Cavaco tem dúvidas quanto ao TGV, Assis garante que o PS respeita a sua opinião, "mas é ao Governo que compete decidir".