26.1.10

Mortalidade precoce diminui em todas as idades até aos 65 anos

Por Alexandra Campos, in Jornal Público

Morre-se menos de enfarte e de acidente vascular cerebral (AVC), mas mais dos cancros do colo do útero, cólon e recto e das doenças atribuíveis ao álcool


A mortalidade precoce está a diminuir e os números oficiais provam a evolução verificada nos últimos anos. A mortalidade até aos 65 anos em Portugal baixou entre 2004 e 2008 em todos os escalões etários, revelam os indicadores do Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-2010. Considerando as patologias analisadas, a evolução também é genericamente positiva, à excepção do que se passa com os cancros do colo do útero, do cólon e recto e as doenças atribuíveis ao álcool.

O fenómeno merece uma referência elogiosa nas Grandes Opções do Plano de 2010. "Cerca de 85 por cento dos indicadores referentes à mortalidade demonstram um decréscimo", adianta o documento. "A tendência é geral. Morre-se cada vez mais tarde", acentua a alta comissária da Saúde, Maria do Céu Machado.

No conjunto dos 27 indicadores de mortalidade analisados no período compreendido entre 2004 e 2008, apenas três destoam, portanto - a mortalidade pelos cancros referidos e por doenças atribuíveis ao álcool antes dos 65 anos. Só foram analisadas as taxas de mortalidade até aos 65 porque "o que interessa, do ponto de vista da saúde pública, é que não se morra antes desta idade", explica a alta comissária.


Óptimos indicadores

Nas idades mais jovens, a melhoria já se verifica há algumas décadas e a aposta, agora, é garantir "a sustentabilidade desta área" e os óptimos indicadores que Portugal conseguiu ao nível da mortalidade infantil. "Temos procurado manter os equipamentos, aumentar as vagas dos internatos em Obstetrícia e Ginecologia, dar formação", descreve Céu Machado. Um resultado que a médica atribui também ao êxito do Plano Nacional de Vacinação (PNV): "Poucos países têm PNV cumpridos quase até aos 100 por cento até aos dois anos [de idade]".

Nos adolescentes, jovens adultos e adultos, os acidentes viários são um factor que pesa muito na mortalidade e, entre 2004 e 2008, a diminuição da sinistralidade foi significativa - menos 602 óbitos em cinco anos. Também a diminuição das mortes por Sida - que antes matava em poucos anos e agora se tornou uma doença crónica, como destaca Mário Carreira, da Direcção-Geral da Saúde - tem um impacto na mortalidade nestas idades. Nos adultos, as mortes por enfarte de miocárdio e acidentes vasculares cerebrais também registaram um decréscimo e isto é já um reflexo da melhoria dos cuidados de saúde prestados aos doentes, "com cuidados intensivos à altura", unidades especializadas e vias verdes, justifica. No sentido contrário, os resultados ainda pouco animadores nos cancros do colo do útero e do cólon e recto indicam que há muito a fazer nos rastreios de base populacional.

"Há um retardamento da morte, são bons resultados", comenta o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge Santos, que, mesmo assim, não deixa de chamar a atenção para um problema. "Os indicadores de mortalidade são muito traiçoeiros, muitas vezes os óbitos ou estão mal classificados, ou são desconhecidos".