Inês Schreck, in Jornal de Notícias
Dez famílias ciganas de Moreira da Maia vão ser despejadas dos terrenos que ocupam, na Urbanização do Lidador, na Maia, há quase 40 anos. O tribunal decidiu a favor dos proprietários dos lotes e ordenou o despejo, que estará iminente.
Nem os próprios sabem dizer ao certo quantos são: mais de 50 certamente, menos de 100, talvez. Com muitas crianças pelo meio e outras a caminho. Todos têm o apelido Rossio e quando falam entre eles ninguém os entende. "Somos ciganos, mas de carne e osso como os outros", reclamam, sentindo-se injustiçados por nunca terem tido oportunidade de morar numa casa.
Vivem em condições miseráveis no meio de uma urbanização bem arranjadinha, a poucos quilómetros do aeroporto. São todos dependentes do Rendimento Social de Inserção. Ninguém trabalha. Os Rossio dão-se bem com os vizinhos - "alguns são padrinhos das crianças" -, garantem que não se metem em problemas e acreditam que, se calhar, é por isso que nunca se lembraram deles.
O ex-presidente da Câmara, Vieira de Carvalho, prometeu-lhes uma solução, mas não viveu anos suficientes para a concretizar. "Fomos tentando dar alguma dignidade àquele espaço para que não fosse tudo mau. Não dava para fazer mais porque os terrenos são privados", explica Albino Maia, presidente da Junta de Moreira da Maia. Foi colocado um contentor com casas de banho e um outro para acolher uma das famílias.
O caso "é um drama", na opinião do autarca, e não tem, para já, solução definitiva. "Estamos atentos, preocupados, mas solução definitiva não temos", referiu Albino Maia. A possibilidade de realojar as famílias em bairros municipais esteve em estudo, mas surgiram "muitas resistências".
Ao JN, o Gabinete de Comunicação da Autarquia assegurou que o presidente e o vice-presidente estão a ver a melhor forma de mediar a situação. Hoje, poderá haver novidades, referiu a mesma fonte.
Há cerca de uma década, os proprietários intentaram uma acção de despejo contra os ocupantes do terreno e ganharam. A sentença do Tribunal da Maia data de 2008. As famílias já foram notificadas duas vezes para abandonar o espaço e o prazo já acabou. "Não temos para onde ir", lamentam.