Ivete Carneiro, Jornal de Notícias
Relatório da OMS aponta o dedo à má gestão de medicamentos, hospitais e recursos
Entre 20 a 40% dos gastos em saúde no mundo são desperdício. A conclusão é Organização Mundial da Saúde, cujo relatório anual aponta o excesso de gasto em medicamentos e cuidados hospitalares, a desmotivação dos profissionais e a corrupção.
"Financiamento dos sistemas de saúde: o caminho para a cobertura universal" é o título de um documento que pretende servir como orientador para os países melhorarem a cobertura de saúde às suas populações. E conclui com uma constatação: nenhum país no mundo oferece uma cobertura a 100% e não há nenhuma solução milagrosa para se chegar a isso. Compete a cada país analisar a sua própria situação e os recursos que pode explorar. Mas a mensagem de esperança é a de que é possível fazer melhor.
Três causas
Os desperdícios, a falta de sistemas de financiamento em que os custos sejam partilhados por todos e a falta de recursos são os grandes obstáculos. Mas algumas experiências revelaram que a cobertura mais universal possível não é apanágio dos países ricos. O Brasil, o Chile, a China, o México, o Ruanda e a Tailândia apresentaram progressos importantes. Numa iniciativa inovadora, o Gabão aumentou o orçamento da saúde... aplicando uma taxa específica no uso de telemóveis. E o Camboja criou um fundo de equidade para responder aos mais desfavorecidos. Mas trata-se apenas de exemplos, num mundo que continua a não dar o seu melhor. Atentando no continente africano, um dos piores cobertos em termos de saúde, a OMS conclui que apenas três estados cumpriram a meta definida em 2000, alocar 15% do orçamento de Estado à saúde: Libéria, Ruanda e Tanzânia. Segundo a organização, o aumento de 50% na taxa sobre o tabaco traria 1,42 mil milhões de dólares em 22 países pobres. Outra sugestão: a Índia juntaria 370 milhões de dólares anuais taxando as transacções de moeda estrangeira.
Mas o capítulo com maior destaque no relatório é o do desperdício, em todo o mundo. Anda entre os 20 e os 40% e tem várias razões (ler caixa). A mais importante é a deficiente gestão do medicamento. A OMS sugere uma maior aposta nos genéricos, critica o abuso de antibióticos e alerta para a falta de qualidade de muitos produtos no mundo mais pobre, gerador de mais problemas - e portanto mais gastos - de saúde.