in Jornal Público
Os portugueses estão entre os europeus que maior importância atribuem às funções sociais do Estado, mas são dos que estão menos dispostos a pagar mais impostos para a despesa social, segundo números do Inquérito Social Europeu hoje divulgado.
A velhice, doença e infância são as áreas em que os portugueses dizem que a acção do Estado Providência deve ser maior (Adriano Miranda)
A velhice, doença e infância são as três áreas em que os portugueses consideram que a acção do Estado Providência deve ser maior.
Numa escala de 0 a 10, os portugueses atribuem 8,12 ao que consideram que deve ser a responsabilidade do Estado na acção social.
A média europeia é de 7,77 e verifica-se que são os países mais pobres a dar maior importância ao Estado Providência.
“O nosso país é colocado no grupo daqueles que maior importância dá às funções sociais do Estado. Nos países em que o Estado Social é mais débil, como é o caso de Portugal, as pessoas pedem mais Estado Social”, explicou à agência Lusa Jorge Vala, coordenador nacional do Inquérito Social Europeu.
Para o investigador no Instituto de Ciências Sociais (ICS), as expectativas das pessoas em relação às funções sociais do Estado assumem “especial importância” numa altura em que muitos economistas tentam demonstrar que é inevitável destruir o Estado Social.
Apesar de algumas diferenças entre os vários países, em todos se nota uma preocupação com as funções sociais, sejam elas ligadas à doença, à infância ou ao emprego.
Contudo, os europeus mostram-se pouco dispostos a ver a sua carga fiscal aumentada mesmo que esse aumento seja especificamente associado à despesa social.
Aqui, os portugueses são dos que menos se dispõem a ver os impostos aumentados.
“A percentagem de portugueses que defende a diminuição da carga fiscal é das mais elevadas na Europa. Aliás, apenas países do ex-bloco de leste, como a Roménia e a Hungria, têm percentagens significativamente mais elevadas”, refere o Inquérito, que em Portugal foi elaborado conjuntamente pelo ICS e pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).
Para o estudo, os investigadores constituíram uma amostra representativa da população portuguesa, tendo realizado mais de 2300 entrevistas.
Um em cada quatro idosos já foi discriminado
Outra das conclusões do inquérito é que um em cada quatro portugueses com mais de 65 anos diz já ter sido vítima de discriminação com base na idade.
Este estudo, feito em cerca de 30 estados, mostra que nos países mais ricos são os jovens quem mais se queixa de discriminação devido à idade.
Os dados europeus indicam que metade dos jovens entre os 14 e os 25 anos assume discriminação baseada na idade, enquanto nos idosos essa percentagem é de 32 por cento.
Contudo, em Portugal é o inverso. Apenas 15 por cento das pessoas com menos de 30 anos se queixam de já terem sido discriminadas, percentagem que sobe para os 25 por cento nos idosos.
“Portugal tem uma característica diferente da dos outros países: os jovens não se queixam, ao contrário dos mais velhos”, explicou à agência Lusa Luísa Lima, investigadora do ISCTE.
Uma das coordenadoras do estudo, a primeira análise do género feita na Europa, refere que a pobreza está muitas vezes associada à velhice.
“Essa discriminação com base na idade será eventualmente associada à pobreza. Nos países mais ricos há condições totalmente diferentes para os mais velhos, como sistemas de pensões e de apoio domiciliário que funcionam muito bem”, justifica.
Apesar de uma análise global não mostrar Portugal como um país altamente discriminatório em função da idade, a investigadora sublinha que o padrão é de discriminação dos mais velhos.
“É um problema para as empresas. Numa altura de crise social, em que muitos economistas dizem que a solução é aumentar a idade de reforma, não queremos pessoas no local de trabalho sem se sentirem bem porque são discriminadas e mal vistas pelos colegas”, comentou.
O inquérito debruça-se ainda sobre a noção que os países têm da duração da juventude e da velhice.
Em média, os europeus acham que a partir dos 39,9 anos uma pessoa deixa de ser jovem e que a partir dos 60 começa a ser vista como idosa.