por Diana Mendes, in Diário de Notícias
Associação já teve de despedir cinco funcionários administrativos por dificuldades económicas
A Abraço perdeu este ano 50% dos apoios que tinha das empresas, um financiamento essencial à realização de projectos como a alimentação de doentes ou o apoio a crianças filhas de pais como vírus na Madeira. Em vésperas do Dia Mundial de Luta contra a Sida, Margarida Martins admite que "os cortes de verbas superam os cem a 150 mil euros" e que já dispensou cinco trabalhadores da área administrativa. "Os projectos ainda não pararam, mas estamos com dívidas, o que nunca aconteceu e isso assusta-nos", diz.
A Abraço conta com 90 pessoas a dar apoio a doentes, a angariar fundos e organizar campanhas. Mas prefere cortar no trabalho de escritório que no terreno. "Em termos totais apoiamos centenas de pessoas: 70 crianças, apoio domiciliário a 60 pessoas e temos centenas de pessoas que vêm aqui diariamente. Todos os dias damos comida a cem pessoas aqui mas também o fazemos em Setúbal", diz Margarida Martins. Refeições imprescindíveis para que o tratamento faça efeito e as pessoas trabalhem. "Agora todos os programas têm de ser inovadores. Mas para que queremos um programa inovador se só precisamos de comida para as pessoas tomarem medicamentos?", ironiza.
Outro caso é o das unidades de acamados, como a do Porto. "Mudamos de casa e precisamos de 25 mil euros de obras. E embora os internamentos custem ao Estado 500 euros por dia nos hospitais e só mil euros por mês aqui, respondem que não podem pagar obras. É uma poupança para todos. Devíamos ser acarinhados e não ser o parceiro mais fraco", lamenta.
Situação difícil foi a perda do apoio às consultas dentárias. "Há uma proposta para ser apoiado nestes dez meses anteriores ao cheque-dentista para doentes com VIH, mas não passou do papel. São médicos voluntários, as pessoas saem daqui com média de 20 dentes, esqueléticas e só temos os custos do material", frisa.
Em tempo de crise, temendo-se o aumento do consumo de drogas ou recurso à prostituição para suprir dificuldades, Margarida Martins recorda às instituições de saúde que "todas as associações estão atentas". Alguns hospitais começam terapias mais tarde e estão a tentar "mandar doentes para outros hospitais para não terem de arcar com a despesa. A discriminação de que tanto se fala começa aqui. Há um caso que a ministra resolveu há cerca de três meses de um hospital, deixando outros serviços sobrecarregados e elevando os custos ligados aos transportes, alimentação ou estadia".
A dirigente da Abraço elogia a tutela por negociar a redução dos preços dos remédios, que custam 200 milhões ao ano. "Acho bem que o façam e não cortem tratamentos a quem precisa". À falta de apoios estatais a Abraço faz mais peditórios, além do anual que agora será feito, e tenta ter mais sócios. "É tempo de contar com a ajuda de todos", diz Margarida Martins.