26.11.10

Fundos de solidariedade das dioceses à beira da ruptura

Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias

Bispos admitem acolher repto que arcebispo de Braga fez aos padres para combater a pobreza


Algumas dioceses do país têm praticamente esgotadas as verbas destinadas a ajudar os mais carenciados. Atentos à crise do país, os bispos foram para o terreno e estão a lançar reptos aos católicos. Tal como em Braga, o clero pode ser chamado a contribuir.

A proximidade do Natal levou o arcebispo de Braga a desafiar os 421 padres da diocese a contribuírem com um ordenado para o "Fundo Partilhar com Esperança", destinado a ajudar os mais carenciados da diocese.

"Estou neste momento a preparar um folheto de divulgação, onde lanço o repto aos sacerdotes, ao bispo e a todos". A revelação é feita pelo próprio bispo de Beja que, na missiva que endereçada aos católicos, pede apenas que "contribuam com o que podem". Segundo D. António Vitalino Dantas, os 61 sacerdotes da diocese "não podem despender um ordenado" porque "também ganham pouco", mas admite que "com boa vontade se consegue ajudar quem mais precisa".

Na diocese do Algarve "está praticamente esgotado" o Fundo Social criado na Quaresma de 2008, com a renúncia quaresmal (produto da privação de algo em favor dos precisam). "Este fundo tem-nos permitido dar respostas às solicitações diversas, como a renda da casa, pagar facturas de água, luz, medicamentos e outros" explica D. Manuel Quintas.

O bispo reúne na próxima segunda-feira com o Conselho Presbitral, para analisar a possibilidade de poder solicitar aos 65 padres da diocese que contribuam com uma parte do ordenado.

A mobilização diocesana para o Fundo Social Solidário - criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e gerido pela Cáritas Nacional -, e o destino da "renúncia quaresmal" de 2011, são outros assuntos que vão ser abordados no encontro. A diocese através da sua Cáritas "está a reunir apoios para abrir um refeitório social em Faro", adiantou.

Na diocese da Guarda, os apelos são para contribuir para o Fundo da CEP, que "depois ajudará as dioceses do país". D. Manuel Felicio diz que anda no terreno "a fazer apelos", e mostra-se preocupado com o facto de "ter diminuído a oferta de géneros quando existe uma maior procura".

Em Viana do Castelo, os organismos que lidam com a caridade "estão a acudir a todos e ainda não estão demasiado assustados", assegura o bispo. D. Anacleto Correia diz que a diocese irá contribuir para o Fundo da CEP e que para já não irá lançar um repto aos padres, já que "estes não têm ordenado".

No Porto, o Fundo Social criado na Quaresma de 2008 "tem sido a muleta dos trabalhos da Cáritas" refere o padre Américo, revelando que no próximo dia 1 de Dezembro serão entregues 250 euros às famílias com bebes nascidos ao longo deste ano.

Na diocese de Leiria ainda não foi equacionada a criação de um fundo próprio. "Mantêm-se os apoios da Cáritas diocesana e de outros serviços e instituições da Igreja às pessoas em necessidade" explicou o vigário-geral da diocese, padre Jorge Guarda, frisando que a diocese "vai colaborar" com o Fundo da CEP.

A diocese de Bragança e Miranda também contribuirá para este fundo e, para já os mais carenciados "contam com a juda dos 50 centros sociais e paroquiais" explicou D. António Montes. "Não me parece útil criar um fundo da diocese", frisou o bispo.