in Jornal de Notícias
A campanha do Banco Alimentar já bateu novos recordes de toneladas de alimentos recolhidos e de pessoas dispostas a apoiar a causa. Este fim-de-semana, os armazéns encheram-se de comida e voluntários. No depósito de Lisboa, até as crianças estão a ajudar.
A adesão dos portugueses "no primeiro dia foi muito impressionante", contou à Lusa a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet. No sábado à noite, não foi possível contabilizar todos os alimentos que chegaram aos 18 bancos alimentares do país, contou ainda surpreendida com a quantidade de produtos doados e o trabalho "incansável" dos voluntários. Uma coisa é certa: "bateram-se recordes, apesar de não ser esse o nosso objectivo", sublinhou.
Apesar de não terem conseguido fechar a contagem, no sábado à noite os voluntários podiam festejar ter passado a barreira das 1.500 toneladas de alimentos. "No ano passado foram doadas 1.490 toneladas", lembrou Jonet, sublinhando ainda o aumento de candidatos a voluntários.
Num supermercado perto do Banco Alimentar de Lisboa, o responsável pela recolha de alimentos, Daniel Silvestre, sente que este ano há mais pessoas a ajudar e "alguns até deixam um carro (de supermercado) cheio, o que é surpreendente". Este ano, os responsáveis do BA notaram também um aumento de pessoas que se ofereceu para ser voluntário.
"Tínhamos uma previsão de 30 mil pessoas, mas penso que superámos em muito esse valor", contou, apontando para a porta de entrada de um dos armazéns, onde dezenas de pessoas aguardavam que alguém as chamasse para ajudar. Mas o que à primeira vista pode parecer uma grande confusão está altamente organizado. "Não se pode simplesmente aceitar as pessoas. Isto está pensado ao ínfimo pormenor", contou a Lusa uma voluntária que não quis dar o nome.
Durante as campanhas de recolha de alimentos, a azáfama instala-se nos armazéns. Os voluntários parecem formiguinhas.
Hoje, domingo, nas instalações do BA de Alcantara, o movimento de carrinhas carregadas de alimentos era constante. Dezenas de pessoas descarregam as carrinhas, outras tantas enchem paletes que, por sua vez, são transportadas para um dos armazéns. Lá dentro, um grupo despeja a comida para os tapetes rolantes, onde dezenas de mãos anónimas sabem o que recolher. A rapidez com que trabalham é alucinante e a tarefa é animada por um grupo de radialistas, com estúdio montado no local. Num outro armazém, funciona o "voluntariado júnior", onde cerca de 100 crianças mostram que não é preciso ser "crescido" para trabalhar.
Apesar de a idade mínima recomendada ser seis anos, ali há "ilegais" desejosos por ajudar. Isabel Jonet explica que "os mais pequeninos têm de vir com um familiar". Apesar de ser o "armazém dos pequeninos", o ritmo de trabalho não é menor. Mas, claro, é mais fácil haver distracções: há quem faça "torres" com latas de salsichas ou se preocupe em arranjar um pacote de arroz de cada cor para colocar no sítio certo. Mas ninguém se chateia. "O objectivo é sensibilizar as crianças para o fato de que eles também podem ajudar", sublinha Jonet, lembrando que "é desde pequenino que se torce o pepino.
E ali, os meninos têm braçadeiras com cores e alimentos. Uns têm braçadeiras de salsichas, outros com massas. A Sofia e a Matilde, de sete e quatro anos, são do grupo das salsichas e estão a gostar da experiência. A Matilde diz que os alimentos são para "os velhinhos" e a Matilde não tem dúvidas: "são para as crianças que têm fome". Estão as duas certas: os alimentos recolhidos até à meia-noite de hoje serão distribuídos por mais de 1800 instituições de solidariedade social.