Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público
O resgate à Irlanda não resolveu o problema. Ontem, as taxas de juro da dívida portuguesa voltaram a subir acima dos sete por cento
Que Portugal estava sob forte pressão dos mercados para ser o próximo país da zona euro a ter de recorrer ao fundo de emergência europeu e do FMI já se sabia. Mas, ontem, também se ficou a saber que, mais rápido do que se previa, a Espanha entrou na zona de risco, acentuando de forma drástica os receios de uma ruptura financeira grave em toda a zona euro.
Dois dias após se ter confirmado que a Irlanda iria seguir os passos da Grécia e recorrer a ajuda externa, as taxas de juro dos empréstimos concedidos nos mercados ao Estado português e espanhol voltaram a subir. No caso português, as taxas das obrigações de tesouro a 10 anos passaram dos 6,8 por cento para um valor ligeiramente acima dos sete por cento. Em Espanha, passaram de 4,7 para um valor muito próximo dos cinco por cento, o mais alto desde o colapso do Lehman Brothers. Os juros suportadas pelos sectores bancário dos dois países para se financiarem no exterior também se agravaram.
Com estes resultados tornou-se claro que o resgate à Irlanda não está a conseguir, como desejavam os responsáveis europeus, estancar os efeitos de contágio da dívida europeia. E, ainda mais grave do que isso, que a Espanha, que toda a Europa teme que seja demasiado grande para poder ser salva com recurso ao fundo de ajuda existente, não está a salvo.
O ambiente tornou-se mais pessimista a partir do momento em que o Estado espanhol realizou uma emissão de títulos de dívida a três e seis meses e que não só viu as taxas de juro quase duplicarem em relação à emissão anterior como acabou por vender menos títulos do que previa inicialmente. Estas dificuldades de Espanha para aceder aos mercados fez, em conjunto com a crise política irlandesa, com que todos os países periféricos da zona euro voltassem a estar sob pressão.
Nos departamentos de research dos bancos internacionais multiplicaram-se os relatórios a apontar para a quase inevitabilidade dos pedidos de ajuda de Portugal e também de Espanha.
Uma nota publicada pelo Saxo Bank garantia ontem que "Portugal vai precisar de um pacote de ajuda mais tarde ou mais cedo", afirmando que o executivo liderado por José Sócrates será muito mais rápido que o irlandês a aceitar o apoio. Para Espanha, a previsão do Saxo Bank é a de que a necessidade de ajuda ocorrerá apenas em 2011. Mas, neste caso, pela dimensão da economia espanhola, o fundo europeu existente não seria suficiente, sendo preciso adoptar uma política de empréstimos bilaterais. De acordo com diversos cálculos ontem publicados, uma ajuda à Espanha poderia envolver verbas que iriam de 280 mil a 500 mil milhões de euros.
O Barclays Capital avisava também ontem que "é evidente a preocupação relativamente a um contágio a economias de maior dimensão, especialmente a Espanha". "Esta é a chave para os investidores nesta altura", diz o banco.
Em Portugal, no entanto, o Governo continua a assegurar que não será preciso recorrer a ajuda. Depois do número dois do FMI ter dito que, apesar de não haver qualquer pedido de apoio de Lisboa, há contactos com Portugal e os instrumentos necessários para ajudar existem, Teixeira dos Santos esclareceu à agência Lusa que estes contactos são "regulares e habituais, como têm sido sempre".
Com estas notícias, o euro registou a maior queda desde Agosto, passando de 1,36 para 1,33 dólares, uma prova da ansiedade dos investidores relativamente ao futuro da zona euro.
As bolsas também se ressentiram deste ambiente negativo no mercado da dívida, especialmente em Portugal e Espanha. Em Lisboa a queda foi de 2,18 por cento.