in Jornal de Notícias
Um em cada quatro portugueses com mais de 65 anos diz já ter sido vítima de discriminação com base na idade, segundo o Inquérito Social Europeu que foi divulgado hoje, quinta-feira.
Este estudo, feito em cerca de 30 Estados, mostra que nos países mais ricos são os jovens quem mais se queixa de discriminação devido à idade.
Os dados europeus indicam que metade dos jovens entre os 14 e os 25 anos assume discriminação baseada na idade, enquanto nos idosos essa percentagem é de 32%.
Contudo, em Portugal é o inverso. Apenas 15% das pessoas com menos de 30 anos se queixam de já terem sido discriminadas, percentagem que sobe para os 25% nos idosos.
"Portugal tem uma característica diferente da dos outros países: os jovens não se queixam, ao contrário dos mais velhos", explicou à Agência Lusa Luísa Lima, investigadora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).
Uma das coordenadoras do estudo, a primeira análise do género feita na Europa, refere que a pobreza está muitas vezes associada à velhice.
"Essa discriminação com base na idade será eventualmente associada à pobreza. Nos países mais ricos há condições totalmente diferentes para os mais velhos, como sistemas de pensões e de apoio domiciliário que funcionam muito bem", justifica.
Apesar de uma análise global não mostrar Portugal como um país altamente discriminatório em função da idade, a investigadora sublinha que o padrão é de discriminação dos mais velhos.
"É um problema para as empresas. Numa altura de crise social, em que muitos economistas dizem que a solução é aumentar a idade de reforma, não queremos pessoas no local de trabalho sem se sentirem bem porque são discriminadas e mal vistas pelos colegas", comentou.
Juventude e velhice
O inquérito debruça-se ainda sobre a noção que os países têm da duração da juventude e da velhice.
Em média, os europeus acham que a partir dos 39,9 anos uma pessoa deixa de ser jovem e que a partir dos 60 começa a ser vista como idosa.
Em Portugal, considera-se jovem até aos 35 anos e idoso a partir dos 65,6 anos.
Mas a disparidade é grande. Chipre e Grécia, por exemplo, consideram que só a partir dos 52 anos uma pessoa deixa de ser jovem.
"Estes indicadores mostram como uma coisa que parece muito evidente varia muito de cultura para cultura, apesar de haver marcadores biológicos", nota Luísa Lima.
A investigadora refere ainda que os inquiridos tendem a empurrar a fronteira da juventude e da velhice ao longo da vida, que no caso dos jovens acontece em média 10 anos antes.
O estudo sobre a discriminação em função da idade insere-se no Inquérito Social Europeu, projecto promovido em Portugal pelo Instituto de Ciências Sociais e pelo ISCTE.