por Ilídia Pinto, in Diário de Notícias
Apesar do desaparecimento de muitas empresas nas últimas duas décadas, a indústria soube reinventar-se e crescer
Numa altura em que ficou a saber-se que os últimos 70 trabalhadores da Mactrading, ex-Maconde, rescindiram os contratos de trabalho por terem salários em atraso, o que deverá obrigar ao fecho da empresa, os industriais do sector falam de uma crescente procura e queixam-se da falta de mão- -de-obra.
Aliás, a performance da indústria tem sido positiva, sendo que as exportações cresceram 4,7% de Janeiro a Setembro face a 2009, num total de 2,715 mil milhões de euros. Destaque para os têxteis-lar, que exportaram mais 31,4 milhões de euros, e para as fibras sintéticas, que venderam para o exterior mais 26 milhões de euros. Em termos percentuais, os artigos têxteis cresceram 11,5%, enquanto o vestuário e os têxteis-lar evoluíram 2,3%.
Significativo é o facto de o saldo da balança comercial do sector ser, actualmente, positivo em 345,8 milhões de euros, o que corresponde a uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 115%.
Uma dicotomia que, para o director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), "expressa bem o processo normal e saudável da economia de mercado, onde as empresas menos competitivas e que não conseguem aguentar as dificuldades fecham e as outras prosperam".
Paulo Vaz recorda que o têxtil e o vestuário (ITV), tal como o calçado e o mobiliário, são indústrias profundamente expostas à concorrência internacional, em que "dois terços do que produzimos vai para fora, o que nos obriga a ser muito bons ou fechamos".
O sucesso, embora enaltecido, não deixa de ser "registado com normalidade", sublinha Paulo Vaz. Quanto às outras, "lamentamos quando fecham, até pelos impactos sociais negativos que estas situações sempre geram. O ideal seria que permanecessem abertas", acrescenta.
E o que dita a diferença entre um projecto de sucesso e os outros? "A diferença está nos modelos de negócios, mas essencialmente na gestão. Produtos e serviços interessantes e competitivos no mercado global só se conseguem com estruturas empresariais. É preciso estratégia, planeamento, visão e gestão, questões fundamentais para ter uma empresa bem gerida e capaz de olhar o mercado como um todo e gerar produtos de sucesso", defende Paulo Vaz.
E o sucesso não passa, necessariamente, pela aposta em nichos de mercado. Os modelos de negócios são muitos e variados.
"Há empresas que apostam no modelo de negócios do private label, mas com alta intensidade de serviço e muita incorporação de inovação tecnológica. Veja-se o caso da Petratex. Trabalha em private label mas faz muita investigação e desenvolvimento interno, de produto e de processos, que partilha com os clientes. O que é um argumento interessantíssimo à escala global para alargar o seu leque de clientes, e não há ninguém que se lhe equipare", sublinha o director- -geral da ATP.
Para as empresas que fazem da moda o seu modelo de negócio, "têm de ter um conceito em termos estéticos, de imagem, suficientemente atractivo", refere.
De qualquer modo, garante o dirigente associativo, "não há nenhum segredo especial, a não ser uma gestão muito cuidada, segundo princípios de bom senso, de modo a manter as empresas competitivas".
E as razões do insucesso? "Não podemos generalizar as situações. Podemos encontrar uma história em cada empresa que fecha. Mas há algo de comum a todas. Uma gestão mal cuidada, seja a nível financeiro, das compras ou da área logística", diz ainda Paulo Vaz.
E acrescenta: "Há empresas que até tinham marcas com valor e que falharam enquanto outras, muito mais discretas na sua actividade, conseguiram adaptar-se e manter--se competitivas."
A globalização, com o consequente aumento de competitividade, "precipitou situações e acelerou processos".