Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias
A obesidade em crianças diminuiu 2,8% entre 2002 e 2009, mas a melhoria quase foi, entretanto, anulada pelo aumento do excesso de peso nesta população. Um estudo de âmbito nacional indica que o maior ou menor grau de instrução dos pais tem influência.
A prevalência da obesidade numa faixa da população infantil passou de 11,3% em 2002 para 8,5% em 2009. Estes são os resultados de um estudo de âmbito nacional que hoje, sexta-feira, é apresentado, no segundo dia do Congresso Antropologia e Saúde, na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.
Segundo a coordenadora do Projecto Nacional de Obesidade Infantil, "já é bom que a obesidade não tenha aumentado" neste período, ainda que seja de notar um aumento dos valores do excesso de peso: em 2002 a percentagem de casos nesta condição era de 20,3%, no ano passado era de 21,93%.
A investigadora em Antropologia Cristina Padez sublinha que, além das cerca de 4.500 crianças medidas e pesadas em escolas privadas e públicas de todas as regiões, foi feito um inquérito junto dos pais. Os dados deste permitiram estabelecer uma relação: um grau de instrução mais elevado dos pais corresponde a menos casos de obesidade ou excesso de peso nas crianças.
Cristina Padez explica que "o grau de instrução está muito associado à profissão e ao tipo de remuneração", fornecendo também indicadores sobre os diversos aspectos da vida da criança. O acesso a uma alimentação mais equilibrada fica favorecido nessas condições.
Cristina Padez comenta que esta associação é verificada também noutros países. "É certo que não basta ter dinheiro mas, na maior parte das vezes as pessoas mais instruídas podem comer melhor", por terem melhores rendimentos, assinala a antropóloga, para indicar como excepção o continente africano, "devido a razões de ordem cultural". Assim, "os valores da obesidade são significativamente mais baixos em quem tem o ensino superior".
De acordo com as observações de Cristina Padez, as cantinas escolares até nem estarão na raiz do excesso de peso e obesidade entre as crianças. "Na maior parte das vezes, o problema é o que o que vem de casa", afirma.
A influência da qualidade do meio ambiente também é notória na questão do peso das crianças, de acordo com outro estudo, a apresentar também hoje, sexta-feira, no congresso de Antropologia e Saúde.
Helena Nogueira, geógrafa e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, analisou com a sua equipa o caso de 1.874 crianças de escolas do distrito de Coimbra.
O leque de idades foi mais alargado, dos três aos dez anos. Estiveram em foco as condições de vivência no meio próximo: se havia lojas perto, se os passeios estavam conservados, se havia locais de interesse para visitas, ciclovias, facilidades recreativas como parques infantis, jardins ou sociedades recreativas. A análise incluiu também factores de segurança, como cruzamentos rodoviários e criminalidade.
As conclusões do estudo, referiu ao JN Helena Nogueira, poderiam fornecer elementos aos decisores com poder sobre a organização dos espaços públicos. É que tanto a qualidade como a segurança das zonas frequentadas pelas crianças junto à habitação e à escola e entre estas têm influência no peso corporal.
"Quando essa influência é positiva, as crianças são menos obesas", sublinha a investigadora, que adianta haver por parte dos pais a noção dos ambientes seguros e bem tratados.