in Diário de Notícias da Madeira
O Centro de Acolhimento Nocturno vem aumentar a resposta da Protectora dos Pobres.
A presença de mais alguns sem-abrigo nas ruas, mas sobretudo a crescente procura de apoio por parte dos novos pobres, realidades a que se junta, ainda, a previsão de um agudizar da crise económica e social, não deixam grandes dúvidas a quem segue de perto o quotidiano da pobreza na Madeira: vai ser necessário, nos tempos mais próximos, reforçar as valências de auxílio aos mais carenciados.
O desafio é assumido pelas três instituições que prestam apoio às pessoas que vivem na rua e aos outros que, de forma envergonhada e de quando em vez, se lhes vão juntando, designadamente a Associação Protectora dos Pobres, o Centro de Apoio aos Sem-abrigo (CASA) e a Paróquia da Nazaré.
Novo centro de acolhimento
Apesar de estar projectada há já algum tempo, a criação do novo Centro de Acolhimento Nocturno da Associação Protectora dos Pobres surge numa altura em que a instituição se confronta com um aumento da procura de ajuda por parte dos utentes. O edifício foi criado de raiz e vem aumentar quase para o dobro a capacidade de alojamento: o número de camas passa de 15 para 28, sendo que quatro delas vão responder a situações de emergência.
Segundo revela a directora, Luísa Pessanha, actualmente há 315 pessoas inscritas na instituição, quando no ano passado eram 308. Mais relevante é o crescimento no número de utentes que recorrem assiduamente à associação: eram 178 em Novembro do ano passado, neste momento já atingem os 263. Alguns são sem-abrigo, mas são novos pobres que vão surgindo, também, pelas ruas.
Luísa Pessanha atribui esta realidade "ao aumento das dificuldades que as pessoas estão a sentir para ir de encontro às suas despesas mensais", às quais muitas vezes está associada uma situação de desemprego. A grande maioria destas pessoas, vinca, procuram a instituição "principalmente para um apoio a nível alimentar" e não raras vezes "ainda de uma forma envergonhada".
Apesar do previsível aumento das solicitações, Luísa Pessanha está convicta que a associação irá "dar uma resposta positiva", até mesmo àqueles que "já tiveram uma vida estável e que, agora, vivem momentos que nunca pensaram viver". Nesse sentido, vinca, a instituição tem vindo a envidar esforços no sentido de "dar competências aos seus técnicos", para que "possam dar respostas imediatas" às solicitações.
"Há rostos novos na rua"
Há nove anos que a equipa da paróquia da Nazaré se desloca todas as noites ao centro do Funchal, para servir refeições e levar uma palavra de conforto a quem vive na rua. A psicóloga Cristina Jesus, que acompanha a equipa, admite que, nos últimos tempos, tem-se vindo a notar a presença de "mais alguns rostos novos na rua", muito embora deixe claro que a grande maioria não são sem-abrigo.
"É uma população muito flutuante, mas de facto notamos que há outras pessoas na rua, que aparecem um dia e no outro já não nos procuram", revela, admitindo que essa circunstância estará relacionada com os problemas sociais que decorrem "da crise e das medidas de austeridade".
É este agravamento da pobreza que está a motivar um incremento na intervenção da paróquia junto do próprio Bairro da Nazaré. Até porque, realça Cristina Jesus, com a agudizar da crise, tem chegado à paróquia um crescente número de pedidos de ajuda, não só de bens alimentares, mas também de outros produtos, nomeadamente vestuário.
CASA prepara novos projectos
A directora da delegação na Madeira da CASA, Sílvia Ferreira, também reconhece um aumento do número de pessoas que se aproximam, noite após noite, das equipas de voluntários em busca de uma refeição quente.
"A população dos sem-abrigo não tem propriamente aumentado, mas em compensação nota-se o surgimento de mais gente à procura de apoio, a chamada pobreza envergonhada", regista.
Em resposta a esta crescente procura, a CASA está já a preparar outros projectos de cariz social, nomeadamente "a recolha de bens alimentares para serem distribuídos por famílias carenciadas" e a criação de um espaço de inclusão, "onde serão alojados cinco a dez sem-abrigo", no sentido de lhes proporcionar "competências socais que lhes permitam a reintegração na sociedade".
Segurança social diz que existem 52 sem-abrigo
De acordo com a última avaliação efectuada pelo Centro de Segurança Social da Madeira (CSSM), em Outubro deste ano estavam identificados 52 sem-abrigo na Madeira (42 sem-tecto e 10 sem-casa).
Segundo a CSSM, alguns dos casos registados em 2010 (42 no total) revelaram-se transitórios, sendo que 12 deles regressaram à família e integraram o mercado de trabalho e outros já beneficiam ou estão a aguardar pelo Rendimento Social de Inserção e outros apoios sociais.
A mesma fonte regista ainda o facto de, até Outubro deste ano, se ter verificado a reinserção de 68 pessoas sem-abrigo.