por Rita Carvalho, in Diário de Notícias
Dinheiro da compra de uma vela de Natal vai reverter para milhares de famílias que precisam de ajuda
É na escola que muitas crianças cujas famílias são apoiadas pelas Cáritas tomam a única refeição do dia. Outras não têm material escolar para assistir às aulas. A maioria tem pais desempregados ou com rendimentos tão baixos que não chegam para cobrir as necessidades mais elementares. Para que esta condição de pobreza não se transforme em algo "estrutural e geracional", diz ao DN o presidente da Cáritas, foi lançada mais uma angariação de fundos. José Mourinho é o rosto desta campanha.
O dinheiro da compra de uma vela de Natal (um euro) reverterá para as Cáritas diocesanas, que apoiam milhares de famílias em dificuldades e onde chegaram este ano mais 30% de pedidos de ajuda do que no ano passado. As velas são vendidas nas paróquias, e o dinheiro ajudará a "fortificar esses recursos que já estão a escassear".
Outra parte desta verba (35%) ajudará a financiar a construção de um centro de acolhimento para crianças órfãs em São Tomé e Príncipe.
A campanha 10 Milhões de Estrelas - Um Gesto pela Paz 2010 pretende ainda assumir um carácter simbólico. "A vela é sinal de esperança. Por isso, convidamos todos a acender a vela na noite de Natal, por cada desempregado. É também uma forma de reclamar uma sociedade mais solidária e justa", afirmou ao DN Eugénio Fonseca. O presidente da Cáritas acrescentou ainda que com isto se pretende "recuperar o sentido do Natal, que não passa pelo consumismo estéril mas por valores de solidariedade, justiça e paz".
O convite a José Mourinho já tinha sido lançado há uns tempos por Eugénio Fonseca, seu conterrâneo. Mas só agora foi possível concretizar esta colaboração.
Eugénio Fonseca diz não ter dúvidas de que o problema da pobreza infantil vai aumentar no futuro. "As crianças são sempre as primeiras vítimas, dada a sua fragilida-de, e porque a sua pobreza decorre do contexto onde se inserem. E as piores dificuldades das famílias ainda estão para vir", estima, sublinhando os números do desemprego, que não param de subir. Além disso, lembra, quando o orçamento familiar já não chega para alimentar os filhos é porque a situação é muito grave.
"A sociedade comete um crime ao permitir que haja uma criança que nasce pobre e está a vida toda na fila dos pobres. A pobreza não é uma fatalidade. Mas se os mais novos não forem valorizados decentemente, vão crescer num ambiente de frustração e de pobreza geracional", diz o responsável da Cáritas Portuguesa.
Nos últimos meses, houve dioceses em que os atendimentos aumentaram até aos 40% e os no- vos pedidos de ajuda chegavam às várias dezenas por mês. Nas paróquias, as solicitações dire- ctas de auxílio também estão a crescer na mesma proporção.
Bens alimentares e ajuda para pagar despesas relacionadas com a casa - rendas e prestações habitacionais, contas da água, luz ou gás - são os principais apoios procurados pelas famílias. Para chegar a mais gente, as Cáritas já estão a limitar a ajuda, dando menos e apenas nos casos em que é possível operar alguma mudança.