Hugo Torres, in Jornal Público
A O número 746 da Rua de Antero de Quental, no Porto, acolhe desde sábado uma livraria especial. Nas prateleiras, há livros à venda, como em todas as livrarias. Os volumes, novos ou usados, são dispostos por temas, como em muitas, para melhor orientação da clientela. A grande diferença nota-se na hora de fechar as contas: os lucros são todos encaminhados para acção social.
A inciativa é do Coração da Cidade (CC), o departamento de apoio social da Associação Migalha Amiga, e é apresentada como alternativa à reciclagem daqueles livros que os portuenses têm lá por casa, ao pó, candidatos ao esquecimento. A acção que se pede é esta: doar à instituição os livros "que não usamos, nem iremos usar". Maria José Ferreira, da CC, lembra o mecanismo utilizado com a roupa. É o mesmo movimento, com os mesmos fins de solidariedade social (no caso, seguem para o projecto Vidas em Risco), mas a mercadoria é outra.
À frente da livraria estão voluntários com os conhecimentos suficientes para poder ajudar os clientes com dificuldades na escolha dos títulos disponíveis. Os preços praticados serão "diferentes", até porque muitos dos volumes já não são novos. Maria José Ferreira diz que "já têm bastantes dádivas". A ideia é conseguir armazenar títulos suficientes para poderem reformular as prateleiras e manter a orientação por temas.
Para oferecer os livros, chegando à Antero de Quental de automóvel, "nem é preciso estacionar". Toca-se à campainha e os elementos da CC "vêm buscar ao carro". Em alternativa, também é possível entrar, deixar livros sem uso, e optar por comprar outros. Assim, o velho e esquecido de uns transforma-se na novidade dos seguintes e a livraria consigue alimentar as suas prateleiras, criando um núcleo de clientes habituais.
O Coração da Cidade abriu portas em 1996. A princípio, o objectivo era ajudar os sem-abrigo. Mas logo a acção se estendeu aos toxicodependentes e imigrantes de Leste.