Clara Viana, in Jornal Público
São as mulheres, e sobretudo as que exercem profissões intelectuais e científicas, as que mais posicionam a sua conjugalidade nos extremos da escala - ou se sentem no céu ou no inferno, revela a investigadora Diana Maciel, na comunicação que hoje apresentará no seminário Amar e Trabalhar na Europa, a decorrer no ISCTE, e a que deu o sugestivo título: Viver em amor... ou sentir-se sufocado?.
Com base em entrevistas a casais portugueses realizadas entre 2003 e 2006, Diana concluiu que são as mulheres, e aquelas mulheres em particular, "que esmagadoramente se definiram enquanto vivenciando uma forma de vida em amor, na sua vertente mais profunda". Mas também foram elas que "esmagadoramente" se "mostraram saturadas e sufocadas com o que a vida conjugal implica: as responsabilidades profissionais, conjugais e familiares". Esta frustração é maior nas licenciadas porque também seriam maiores, entre elas, as expectativas de "uma maior igualdade e paridade no trabalho não pago, que não se efectivou".
Os homens, por seu lado, "raramente assumem uma posição de extremo", acrescenta a investigadora. Expressam a "sensação de alguma liberdade condicionada, de alguma restrição nas saídas nocturnas com os amigos", mas não as encaixam "numa sensação de sufoco". Consideram-nas, antes, "uma inevitabilidade da maturidade e do casamento".
E os filhos o que representam? Com base nas mesmas entrevistas, outra investigadora, Cristina Marques, resumirá assim: "Eu gosto muito do meu filho, mas...". Ela constatou que "homens e mulheres expressam muitas vezes um sentimento de ambiguidade relativamente à parentalidade: "É algo de maravilhoso", mas também uma "tarefa bastante complexa". Ou seja, ao "invés de ser algo natural e institivo", a parentalidade "é uma construção social e historicamente situada, que tem que ser apreendida pelos novos pais e mães", conclui.
A par do trabalho, a família é o motor de vida dos europeus. "Estes resultados parecem vir ao encontro daquilo que Freud terá considerado como bases fundamentais para o bem-estar dos indivíduos: amar e trabalhar", referem Bernardo Coelho e Anália Torres, que assim justificam também o título escolhido para encabeçar o seminário que hoje, Dia dos Namorados, arranca no ISCTE. Dizem que esta invulgar entrada de São Valentim no mundo académico não é pura coincidência: "Trata-se de conciliar uma data simbólica com o debate sobre as formas como os indivíduos articulam o amor e o trabalho".
14/2
dia dos namorados: a data simbólica serve para discutir "como os indivíduos articulam o amor e o trabalho"