15.4.08

Alimentação e combustíveis complicam vida dos portugueses

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

O objectivo de 2,1 por cento traçado pelo Governo para a inflação está cada vez mais distante. Ainda assim, na zona euro, a subida é maior


A pressão exercida pela subida de preços dos bens alimentares, tabaco e combustíveis continuou, em Março, a fazer disparar a inflação em Portugal, tornando cada vez mais improvável a concretização no final do ano dos números com que o Governo se baseou para definir os aumentos salariais na função pública.

De acordo com os números ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, os preços registados em Março foram 3,1 por cento maiores do que os do mesmo mês do ano passado. Esta subida representa uma aceleração face aos 2,9 por cento de Fevereiro, contribuindo para que a inflação média dos últimos 12 meses (o indicador mais utilizado nas negociações salariais ou para o cálculo da actualização das pensões, por exemplo) passasse de 2,5 para 2,6 por cento, afastando-se ainda mais da previsão de 2,1 por cento que tem sido apresentada pelo Governo.

As classes de bens que mais contribuíram para a variação homóloga de 3,1 por cento foram as da alimentação e dos transportes, com um destaque dentro delas para a evolução do preço do leite e dos combustíveis. As maiores subidas de preços foram registadas nas classes das bebidas alcoólicas e tabaco e da saúde (com o Estado a ter um papel decisivo), mas o peso destes bens no consumo dos portugueses é mais reduzido.

A escalada da inflação que se regista desde Agosto do ano passado está longe de ser um exclusivo de Portugal. No total da zona euro, a subida de preços até tem sido mais acentuada, o que explica a resistência do Banco Central Europeu às pressões para descer as taxas de juro.

Desde Setembro - contrariando o que tem sido a tendência da última década -, a inflação homóloga em Portugal até está a um nível mais baixo do que a da média europeia, que em Março, segundo a estimativa do Eurostat, se terá situado em 3,5 por cento.

Números contestados

Os números da inflação calculados pelo INE utilizam como base um cabaz de compras médio para os portugueses definido com os dados existentes em 2002 (o ano de início da actual série da inflação). É nesses números que o INE se baseia para dar um maior peso à subida de preços de determinados bens e uma menor importância a outros.
Acontece que, no início deste mês, o INE deu a conhecer os resultados do inquérito aos orçamentos familiares realizado entre 2005 e 2006, que dão uma ideia mais actualizada de como é que os portugueses estão a gastar o seu dinheiro. E as diferenças são muitas. O inquérito mostra, por exemplo, que as despesas com a habitação e os combustíveis passaram a pesar mais no orçamento das famílias, precisamente bens onde a subida de preços ficou, no último ano, acima da inflação total. Os dados deste último inquérito não são usados pelo INE no cálculo da actual série da inflação.

De acordo com os cálculos do economista e dirigente da CGTP, Eugénio Rosa, para Fevereiro, caso fosse usada a estrutura de despesa encontrada no inquérito de 2006, a inflação média seria nesse mês de 2,8 por cento, em comparação com os 2,5 por cento anunciados pelo INE. Para Março, o mesmo tipo de cálculo simplificado, desta vez realizado pelo PÚBLICO, colocaria a inflação média outra vez em 2,8 por cento, contra os oficiais 2,6 por cento.