Ana Correia Costa, in Jornal de Notícias
Em apenas cinco anos, pelo menos 14 fábricas têxteis fecharam as portas no concelho de Santo Tirso. Segundo dados do sector têxtil da concelhia do PCP, mais de 4400 operários ficaram sem trabalho desde 2003. Ou seja, por ano, cerca de mil conheceram as agruras do desemprego só nesta indústria.
A sexagenária fábrica Pinheiro da Rocha, em S. Martinho do Campo, engrossou o número em Janeiro passado 150, a maioria com mais de 40 anos, ficaram sem trabalho e com três meses de salários por receber. Na mesma freguesia, a Sociedade Têxtil Flor do Campo, fundada há mais de 75 anos, deixou de ter dinheiro para pagar aos funcionários em 2006. Parada desde então, ainda não liquidou salários e direitos a 400 trabalhadores. Em Vilarinho, a Baiona, que abriu falência em 2003, deve ordenados de dois meses, subsídios e indemnizações a 250. Exemplos - e ficam 11 por citar - que atestam a decadência de uma indústria que já alimentou o Vale do Ave.
Dos 5567 tirsenses desempregados que o Instituto do Emprego registou em Janeiro, quase três mil completaram apenas o 4º ano do Ensino Básico, que é, de resto, o grau de formação dominante entre os trabalhadores. A aposta em qualificações mínimas terá permitido a manutenção de salários baixos (um operário ganha pouco mais de 400 euros por mês), mas não estancou a perda de competitividade face a um mercado globalizado. "A Flor do Campo e a Pinheiro da Rocha são empresas que, ao longo de anos, não se modernizaram", acusa o comunista Jaime Toga, para quem "houve uma obsessão pelo lucro e acumulação de riqueza" por parte dos empresários.
JMA vai despedir mais
Em breve, o panorama deverá piorar, com a JMA a adensar números já alarmantes. "Vai haver redução de postos de trabalho", garantiu, ao JN, Paulo Rocha, administrador da José Machado Almeida, sem, contudo, revelar quantos. Num ano, a cinquentenária fábrica de felpos reduziu o número de operários para metade os mil registados em 2007 deram lugar aos actuais 507, revelou a responsável. Uma redução que não ficará por aqui, dado que a empresa iniciou um processo de restruturação que inclui o recurso ao outsourcing, com parcerias já feitas com unidades de produção paquistanesas e indianas. Com duas fábricas em S. Martinho do Campo (uma fecha em Setembro), foi uma das maiores empregadoras do concelho.
Flor do Campo parada
Paralisada desde 2006 e com dívidas acumuladas, a Flor do Campo só agora optou pela insolvência, juntando-a ao processo aberto, em Janeiro de 2007 (e ainda sem sentença), pelos trabalhadores (ler caixa). As dificuldades da têxtil agudizaram-se há cerca de quatro anos a matéria-prima começou a escassear e uma fiação foi encerrada, recorda Manuel Costa, ex-trabalhador.
As dívidas somavam-se. Principalmente, à Segurança Social, o maior credor. Por isso, a administração avançou, em 2003, para um Procedimento Extrajudicial de Conciliação com vista à viabilização da firma através de um acordo com os credores. Cerca de 274 operários foram dispensados até 2006. Desde então, a Flor do Campo foi acenando com a possibilidade de recuperação, mas quem conheceu as entranhas à fábrica desconfiou sempre. "A empresa não tinha, nem tem, condições para seguir", sentencia a antiga operária Conceição Matos.
No início deste mês, "a própria empresa reconheceu que não tem capacidade para trabalhar", revela Palmira Peixoto, do Sindicato Têxtil do Porto. "Deixando de haver a justificação de que o IAPMEI não se pronunciou e tendo a empresa requerido a insolvência, o juiz já não tem argumentos para não fazer o despacho", sublinha a sindicalista.