in Público Última Hora
Mais de metade da população da Bela Vista vive em situação de pobreza e a taxa de desemprego naquele bairro é de 28 por cento, de acordo com um estudo hoje apresentado em Setúbal.
Segundo o sociólogo José Miguel Nogueira, um dos autores do estudo realizado entre Junho de 2006 e Novembro de 2007, "o bairro da Bela Vista está marcado por questões relacionadas da pobreza, que apresenta uma taxa superior a 50 por cento, muito acima da média nacional".
"O mesmo acontece com a taxa de desemprego, que é de 28,7 por cento, quatro vezes mais do que a média nacional", disse o sociólogo que integra a equipa que realizou o estudo para o Observatório Social da Bela Vista, entidade constituída pelas diferentes associações com intervenção naquele bairro degradado da cidade de Setúbal.
A falta de habilitações académicas constitui outro problema fundamental do bairro da Bela Vista, dado que 25 por cento dos moradores não concluíram sequer o primeiro ciclo no ensino básico e alguns deles não sabem ler nem escrever.
O estudo permitiu também verificar que só 5,5 por cento dos moradores concluíram o ensino secundário e apenas um por cento tem um bacharelato ou licenciatura.
Apesar de reconhecer que se trata de um indicador preocupante, José Miguel Nogueira garantiu que as habilitações literárias das gerações mais novas têm vindo a aumentar nos últimos anos.
O sociólogo referiu ainda que o estudo permitiu perceber que a "violência e comportamentos de delinquência estão confinados a um pequeno grupo de jovens" e que a grande maioria não se dedica à violência.
Por outro lado, o estudo sobre os modos de vida da população da Bela Vista refere que há muitas crianças pequenas que ficam sozinhas em casa depois de terminarem as actividades lectivas, apesar de já haver equipamentos sociais - creches - que dão resposta a este tipo de problemas.
Para José Miguel Nogueira, alguns destes casos em que as crianças ficam sozinhas em casa, ou acompanhadas por irmãos mais velhos, estão relacionados com o facto dos pais terem rendimentos muito baixos e que se verem forçados a um duplo emprego para conseguirem sobreviver.
"É preciso sensibilizá-los para recorrerem a este tipo de respostas que já existem no bairro da Bela Vista", defendeu.
Questionada sobre o estudo, a responsável pela Divisão de Inclusão Social da Câmara Municipal de Setúbal, Conceição Loureiro, disse tratar-se de um contributo para um conhecimento mais aprofundado da realidade da Bela Vista e que deverá permitir "uma melhor concertação de esforços na intervenção das diferentes instituições que trabalham no bairro da Bela Vista".