29.6.09

Cutelaria e louça são refúgio na crise

Erika Nunes, in Jornal de Notícias

Adaptação da produção dentro do sector metalúrgico permite equilibrar falhas na construção e máquinas


Apesar da instabilidade nos preços das matérias-primas e a recessão nos sectores que dependem do crédito, os industriais de metalurgia descobriram uma saída: vendes-e mais cutelaria e louça de metal, porque se come mais em casa.

A conclusão não é formal, apenas empírica, de acordo com Rafael Campos Pereira, diector-gerla da Associação dos Indústriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), mas o que é certo é que "o consumo não está a aumentar, mas está a redireccionar-se".

Num sector tão heterogéneo como o metalúrgico, que abarca produções desde componentes para a indústria automóvel, equipamentos fabris, máquinas, para a construção -os sectores mais afectados pela quebra no consumo - ou as cutelarias e a louça metálica (desde as travessas às panelas) - cuja procura aumentou à medida que também aumentam, nos hipermercados, as vendas de bens alimentares, o equilíbrio mantém-se, então, "graças ao esforço das empresas".

"Entre os nossos associados, não tem havido perda de emprego, o que significa que tem havido uma grande preocupação em ultrapassar este momento sem custos sociais", congratula-se Rafael Pereira.

O recurso ao "lay-off", uma "figura evitada no passado, porque se sabia que, depois, a banca evitava emprestar dinheiro às empresas que o utilizavam", tem sido uma das medidas mais utilizadas para a manutenção dos empregos, até porque "agora os bancos não emprestam de qualquer forma". As reduções de horário e a diminuição do recurso ao "out-sourcing" são outros mecanismos em utilização pelos sectores com maiores dificuldades, mas, de forma geral, Rafael Pereira não hesita em dizer: "Estamos a resistir, até porque já estávamos habituados a não ter apoios do Estado -apesar de continuarmos a ser o sector que mais contribui para as exportações nacionais - ou protecção contra os chineses".

Do Estado, aliás, o sector reclama apenas atenção. "Não queremos subsídios, só queremos igualdade no acesso às linhas PME Invest e ao QREN, por exemplo".

Quanto à Banca, os industriais defendem maior fiscalização, nomeadamente nos casos em que "estão a ser liquidadas contas caucionadas com as linhas de crédito financiadas pelo Estado e as ajudas não entram nas empresas - antes regressam aos bancos".