21.6.09

Economia nacional aparenta já ter batido no fundo

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

É como festejar no meio do desastre. Mas a trajectória dos indicadores parece ter inflectido no consumo, investimento e procura externa


Tanto as estatísticas do Instituto Nacional de Estatística como as do Banco de Portugal parecem coincidir no facto de que a recessão terá "batido no fundo" em Maio. Os valores das variações homólogas são ainda muito negativos, mas é de esperar, a partir daí, uma recuperação da economia.

A síntese económica de conjuntura de Maio passado, ontem divulgada, revela que o indicador de clima económico em Portugal interrompeu o seu "forte movimento descendente iniciado um ano antes" e aumentou em Maio. Esta evolução segue em linha com os indicadores de sentimento económico e de confiança dos consumidores na zona euro e na União Europeia (UE27), cujos indicadores recuperaram.

Por seu lado, o indicador coincidente mensal do Banco de Portugal - da evolução homóloga da actividade económica - "apresentou uma estabilização face ao observado no mês anterior", refere a nota do banco central ontem divulgada também. No gráfico, é visível que a queda do indicador económico parece ter-se interrompido e esse valor mais baixo acabou por se verificar em Maio último. Já o indicador coincidente mensal do consumo privado inflectiu e "registou um ligeiro aumento face ao mês anterior, após uma forte desaceleração no primeiro trimestre de 2009".

Os dados são incertos. Mas a síntese do INE faz uma enumeração dos indicadores seguidos e que, alguns deles, registam já variações positivas ou, pelo menos, menos negativas do que nos meses anteriores.

A par do indicador de clima económico, o indicador da confiança dos empresários "recuperou em todos os sectores, mas de forma mais expressiva nos serviços e na indústria transformadora, sendo de notar que no comércio se tratou do segundo aumento consecutivo". O índice de volume de negócios dos serviços estabilizou em Abril no seu valor mais baixo, mas o da indústria transformadora abrandou ligeiramente, mas ainda com fortes variações negativas.

Em parte, os indicadores económicos seguem os ligados ao consumo, investimento e mesma procura externa. Em Abril, o indicador quantitativo do consumo privado "estabilizou no valor mais baixo da série iniciada em 1992" e o indicador do consumo de bens duradouros "registou uma ligeira recuperação em Abril, interrompendo a acentuada trajectória descendente iniciada em Outubro" - "particularmente intensa nos três primeiros meses de 2009" - mas não se afastou "significativamente do mínimo da série atingido em Março" passado. No investimento, o INE alerta que a evolução do indicador da formação bruta de capital fixo ainda está sujeita a revisão. Mas em Abril, fruto do que se passa na componente de construção, interrompeu-se a tendência decrescente iniciada em Janeiro de 2008, embora não se afastando significativamente do mínimo da série registado em Março". A queda abrupta do investimento explicou a quebra da procura interna e das importações nas contas nacionais trimestrais recentemente divulgadas.

Na indústria, as opiniões dos empresários relativamente à carteira de encomendas melhoraram em Maio, o que contrariou a tendência decrescente iniciada em Agosto de 2007. E as variações negativas nas importações e exportações foram "menos acentuadas" em Abril e Maio passados do que nos seis meses anteriores".

Mas estas alterações ainda não se traduziram numa subida da actividade económica. O seu indicador "voltou a agravar-se em Abril, prolongando a acentuada trajectória descendente registada desde Janeiro de 2008 e atingindo o mínimo da série iniciada em 1991".